sábado, 28 de fevereiro de 2009

Maniqueismo

Mani (Manes ou Manchaeus), nascido na Pérsia, atual Irã, no século III. Possui uma visão dualista segundo a qual o mundo está dividido em duas forças: a força da luz e a força das trevas como entidades antagônicas. O Reino da Luz e o Reino das Trevas estão em permanente conflito. O mundo material (trevas) não pode ser definitivamente destruído, porque é um princípio da realidade cósmica. A vida terrena sempre será dolorosa e radicalmente perversa. É dever de cada ser humano entregar-se a esse eterno combate para extinguir em si e nos outros a presença das Trevas para alcançar o Reino da Luz, que é o Reino de Deus. O verdadeiro combate está no interior do ser humano entre o apego ao mundo e o desapego a tudo que é material, inclusive o apego ao próprio corpo, assim sendo, no interior do ser humano duas almas ou duas inteligências, uma da luz e a outra das trevas, lutam entre si no corpo do homem. A vitória da luz sobre o mundo material é conseguida por cada pessoa com o pleno desapego do reino das trevas. No maniqueísmo, o viver na luz implica uma vida de total desapego, castidade, renúncia a família, alimentação especial (não se alimentar de nenhuma espécie de carne). A alma deve afastar-se o máximo da matéria para retornar ao reino da luz, pois é o corpo e o mundo material que aprisiona a alma. A alma apegada ao corpo e ao mundo material, depois da morte retorna ao mundo material para outra existência, em outro corpo. Os constantes nascimentos nos corpos continuam até o momento em que a alma desapegar totalmente da dimensão terrena entrando no reino da Luz.

Fílon de Alexandria

Fílon nasceu em Alexandria entre 10 e 15 a.C. Salienta que Deus criou o cosmo inteligível (as Idéias) como modelo ideal. O cosmo inteligível é o Logos. Existe uma distinção entre Deus e o Logos. O Logos é o filho primogênito do Pai incriado, Deus segundo, Imagem de Deus. O Logos é uma realidade incorpórea, meta-sensível. O Logos cria a matéria do nada e depois imprime a forma sobre ela fazendo surgir o universo material. O criador do universo material é o Logos.

A respeito do ser humano salienta que é constituído por três partes: 1) corpo. 2) alma-intelecto. 3) Espírito proveniente de Deus. O corpo é puramente animal. A alma-intelectiva é corruptível e mortal no sentido que é intelecto terreno, é considerada pobre sem o Espírito divino. O Espírito é a dimensão superior, divina e transcendente. A alma-intelecto mortal torna-se imortal à medida que Deus lhe dá o seu Espírito, ela se vincula ao Espírito e vive segundo o Espírito. A alma-intelecto não é imortal, mas pode se tornar imortal à medida que absorve o Espírito. Deus se dá a nós no preciso momento em que a alma-intelecto reconhece a sua própria nulidade. A glória da alma é ultrapassar o corpo físico, superar os limites da alma-intelectiva e vincular-se a Deus. A felicidade consiste na transcendência do humano para a dimensão do divino. Viver para Deus ao invés de viver para si mesmo. A vida vence a morte no momento em que a alma-intelectiva absorve o Espírito.

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Proclo

Proclo nasceu em Constantinopla no ano 410 e morreu em 485 d.C. Toda criação é constituída de três momentos: 1) a manência é o Uno que permanece como é. 2) a processão que é o sair da manência, uma multiplicação de si, aquilo que procede é semelhante aquilo do qual; a dessemelhança consiste no fato de ser o produtor mais potente que o produto. 3) o retorno: as coisas derivadas têm uma afinidade com suas causas e aspiram a manter-se em contato com elas. O processo triádico é pensado em termos de círculo, não no sentido da sucessão de momentos, como se houvesse uma distinção cronológica de antes e depois entre manência, processão e retorno. O produto permanece na causa no mesmo momento em que dela procede, pelo motivo de que o proceder não é um separar-se. Toda realidade em todos os níveis é constituída da forma e matéria, assim sendo tudo que existe é constituído dos dois elementos (forma e matéria).

Plotino

Plotino (205 – 270), natural de Licopólis, Egito. Foi discípulo de Amônio Sacas por 11 anos. O objetivo da vida é libertar-se do mundo material para reunir-se ao divino e poder contemplá-lo, até o ponto culminante de uma transcendente união mística. Suas últimas palavras resumem sua filosofia: “Procurai conjugar o divino que há em vós com o divino que há no universo”.

Deus é absoluta liberdade criadora, causa de si mesmo, aquilo que existe em si e para si, o transcendente a si mesmo. É o centro e em torno dele, um círculo que irradia o esplendor que emana daquele centro. Em torno do centro e do primeiro círculo, outros círculos: luzes da luz. O divino é o fogo que emana calor, a substância odorosa que emana perfume, um centro que se expande pouco a pouco através de círculos concêntricos. O divino é destituído de forma, mesmo da forma inteligível. Não é nem substância, nem quantidade, nem pensamento, nem alma; não se move nem está em repouso, não está em um lugar. Sem forma, transcendendo toda forma, todo movimento e todo repouso. O divino é inefável, não podendo ser exprimido por palavras. É inominado porque não sabemos dizer nada a seu respeito. Falamos a respeito do divino somente para o nosso uso. Não podemos pensá-lo.

As coisas procedem do Uno pelo processo de emanação, pois a emanação deixa intata a unidade do Absoluto, porque as coisas procedem dele sem que ele o saiba, sem subtraírem nada de sua perfeição. Todas as coisas brotam do divino como de uma fonte. Procedendo as coisas do Um por emanação e não por criação existe certa ordem: primeiro as mais perfeitas, depois as menos perfeitas. A primeira emanação é a Inteligência ou Nous, a única realidade que tem origem imediata no Um. Da inteligência procede a Vida; da Vida, a alma universal e da alma universal a alma de cada homem. A última emanação que procede do Um é a matéria. Esta é a emanação mais pobre e imperfeita. A matéria é boa porque procede do Um e é má porque está no limite mais baixo e distante da emanação. A matéria é má porque está privada da perfeição do Um. A matéria, como última emanação, é um quase-nada.

A alma pode voltar-se para a matéria ou voltar-se para o Um. As etapas do retorno da alma ao Um são três: ascese, contemplação e êxtase. Ascese é a alma desapegar-se do domínio da matéria. Contemplação é ter consciência de ter em si o Um. Êxtase é a união mística com o Um não havendo mais nada entre a alma e o Um, já não há dois, mas Um. No êxtase a alma se vê exaltada e preenchida pelo Uno. A frase que resume o processo do êxtase é o despojar de tudo preenchendo-se de Deus. Diz Plotino: “Tu te acresces a ti mesmo, depois de ter jogado fora o resto: depois de tal renúncia, o Todo se te faz presente; mas, se faz presente para quem sabe renunciar”. A alma pode subir até ele e a ele reunir por sua força e capacidade natural, desde que a alma queira se unir a ele. Êxtase é eliminação de alteridade, separação de tudo aquilo que é terreno.

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

O Pensamento Grego

Analisando as colocações dos filósofos gregos encontramos quatro arquétipos de discursos: teológico, materialista, autoreferencial e niilista.

O pensar teológico possui dois vieses: dualístico e unitário. O viés dualístico é representado por Sócrates, Platão e Cínicos onde defendem a existência de um mundo corruptível em oposição ao mundo incorruptível. São pessoas que procuram afastar das coisas materiais e passam pela vida buscando o metafísico. O viés unitário é explicado por Aristóteles e pelas colocações dos estóicos: o mundo é movimentado por Deus em direção a perfeição. Tudo que existe é uma manifestação da vontade de Deus. São pessoas que vivem no mundo material ciente que estão em determinada etapa de evolução em direção a perfeição.

O arquétipo materialista é representado pelos epicuristas invalidando todo pensar metafísico. A verdade somente é captada pelos sentidos humanos. O ser humano materialista centra sua preocupação apenas no mundo físico desconsiderando qualquer colocação que transcenda o mundo dimensional.

O arquétipo autoreferencial é sustentado pelos sofistas e pelos ecléticos: cada ser humano elabora sua própria verdade se fundamentando no que é útil para si mesmo ou escolhe a melhor reflexão sabendo que suas representações não passam de probabilidades. São pessoas que partem do pressuposto que todas as teses e pensamentos são originados do próprio ser humano tendo por fundamento as suas próprias necessidades.


O niilismo é a tese defendida pelos cépticos: nada sabemos e nada entendemos. Os niilistas são pessoas indiferentes a tudo que os envolvem não elaborando nenhuma indagação.

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Os Sofistas

Os sofistas iniciaram o seu movimento no século V a.c na Grécia O único critério verdadeiro é aquele que cada ser humano elabora para si mesmo; tal como aparece para uma pessoa é a verdade para a referida pessoa. Tudo que o ser humano conhece é arquitetado por ele mesmo. Nenhum ser humano está no erro, mas todas as pessoas estão com a sua própria verdade. Em torno de cada coisa o ser humano pode elaborar uma reflexão que afirma a veracidade da coisa e uma reflexão que nega a verdade da referida coisa, sendo que estamos no universo da relatividade. Não existe verdade absoluta e valores morais absolutos, existe apenas o que é mais lógico para cada pessoa. O bonito, o feio, o certo, o errado são valores relativos, pois cada ser humano constrói os seus próprios valores.

Diante da possibilidade de alcançar uma verdade absoluta os sofistas se fundamentam apenas na utilidade, sendo verdadeiro aquilo que é útil para a pessoa. Toda tese é verdadeira desde que seja útil para a pessoa e não é verdadeira se for inútil para a pessoa. Podemos dizer que a verdade está na transgressão das leis elaboradas pelo ser humano desde que seja útil para minha pessoa defender tal colocação. Podemos não acreditar nos deuses ou podemos acreditar sendo que nossa crença depende da utilidade que ela possui especificamente para nós. O útil para o ser humano é aquilo que lhe proporciona prazer, assim sendo o fim supremo da vida é o prazer. Se o ser humano sente prazer em rezar ele deve rezar, se ele sente prazer em ler deve se dedicar a leitura, se sente prazer no sexo deve praticar sexo. Para os sofistas o útil se confunde com o prazer. Todo conhecimento, toda utilidade e todo tipo de prazer varia de indivíduo para indivíduo.

Diante do postulado sofista o ser humano deve saber elaborar uma crítica bem fundamentada e saber organizar a sua própria reflexão, no entanto deve ter consciência que o referido conhecimento não reproduz fielmente a realidade das coisas. Não existe verdade absoluta; o ser humano elabora a sua verdade conforme o seu interesse.

Ecletismo

A partir do século II a.C., surge o ecletismo na Grécia que é uma atitude filosófica que procura reunir o que existe de melhor dos diversos sistemas existentes. Os ecléticos salientam que não temos um critério que nos leve a verdade, mas podemos atingir a probabilidade, podemos aproximar da verdade com a evidência da probabilidade. O provável passa a ser para nós o verdadeiro sabendo que é apenas o provável. O provável permite o ser humano elaborar memória, valorizar uma determinada experiência, cumprir determinada ação, propor algum tipo de argumento. As várias colocações dos grandes pensadores devem ser analisadas e encontrar argumentos prováveis para sustentar os nossos pensamentos e ações. O ser humano deve reunir o que existe de melhor segundo o seu próprio olhar e elaborar visão de mundo consciente que sua representação é apenas uma probabilidade.

Os Cépticos

No início do século IV AC., surge na Grécia o movimento denominado cepticismo que elabora um novo modo de pensar. O que realmente existe é inatingível pelo conhecimento humano. Os sentidos e opiniões não podem dizer nem o verdadeiro nem o falso. As coisas em si são sem sentido e logicamente a razão é incapaz de atingir a verdade. Nada em nosso universo possui sentido e vivemos sem saber o que é certo ou errado. A única atitude do ser humano é não ter nenhuma fé nos sentidos e na razão, permanecendo sem opinião, sem julgamento, sem, agitação e totalmente indiferente. Suspender qualquer tipo de conhecimento porque nada é evidente. Não existe nenhum critério de verdade. Os nossos pensamentos, as nossas sensações e as nossas representações, todas as coisas que existem são ilusões. Não existe nenhuma verdade. Tudo que sabemos e conhecemos é apenas uma probabilidade de existir. O ser humano não sabe se a verdade existe porque ele é um ser inacabado e por ser inacabado não conhece a verdade. Anula toda possibilidade do ser humano em saber alguma coisa e logicamente de elaborar qualquer indagação. Na vida prática o ser humano deve viver sem opinião e sem indagação.

domingo, 22 de fevereiro de 2009

Estóicos

No fim do século IV a.C. surge em Atenas à escola dos estóicos. Os estóicos defendem dois princípios na natureza: o corpo e a forma. O corpo é a matéria, substância sem qualidade, princípio passivo. A forma é a razão divina, o Logos, Deus, o princípio ativo. O Logos é eterno, criador de todas as coisas no processo da matéria. O princípio ativo é Deus, sendo inseparável da matéria. Deus está em tudo e Deus é tudo. Deus coincide com o cosmos. O universo inteiro é como um único grande organismo, no qual o todo e as partes se harmonizam. Todas as coisas estão em correspondência uma com a outra e em correspondência com o todo. Tudo que existe é produzido pelo divino imanente, que é o Logos, inteligência e razão, tudo é rigorosa e profundamente racional. Tudo é perfeito e a própria matéria é o veículo de Deus, tudo possui um significado preciso, tudo é perfeito no esboço do todo. Tudo depende do Logos imanente, tudo é necessário.

O Logos também possui um corpo porque o que não tem corpo não pode agir sendo constituído de uma matéria especial, sutilíssima que pode penetrar em qualquer coisa existente. O Logos irradia a sua força sobre a matéria na forma de sementes ou germes dando origem aos indivíduos, portanto o homem é constituído de corpo e alma, a qual é um fragmento do Logos ou da Alma Cósmica. As vibrações que chegam aos sentidos do corpo físico dependem dos próprios objetos. Quando estas vibrações chegam aos sentidos à alma pode aceitar ou negar estas vibrações. Quando as vibrações são negadas elas são nulificadas para a pessoa, pois não são captadas pelos sentidos. As vibrações aceitas são denominadas de cataléticas e estas formam representações que são o nosso único critério de verdade e elaboram a realidade que estamos inseridos. Quem toma a posição de receber ou recusar as vibrações é o logos que está no interior do corpo como alma.

Na ação que o Logos exerce sobre a matéria tem por finalidade a perfeição do cosmo sendo conseguida lentamente através de um processo de evolução. O Logos leva o mundo a um grau de perfeição cada vez maior.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

O Materialismo Epicurista

Os epicuristas salientam que a ciência existe devido ao medo que o ser humano possui da morte e da própria natureza. Se não tivéssemos medo da natureza e da morte não existiria ciência. A ciência e a metafísica nasce do medo do desconhecido. Quanto maior o medo do desconhecido maior é a busca metafísica e pelos conhecimentos físicos.

A tese defendida pelos epicuristas é a seguinte: A realidade é composta pelos corpos e o vazio. Os corpos são fatos reais porque são captados pelos sentidos e o espaço é também uma coisa real porque existe o movimento dos corpos e podemos ver o movimento dos corpos. O vazio é justamente o espaço e no espaço ou vazio os corpos movimentam. Se não existisse o espaço os corpos não movimentariam. A realidade é infinita no sentido da existência de infinitos corpos e o espaço também é infinito, isto é, o vazio possui uma extensão infinita.

Os corpos podem ser compostos ou indivisíveis. Os corpos compostos são formados por dois ou mais átomos e os corpos indivisíveis são formados por um só átomo. O átomo é um corpo indivisível e existem diferentes formas de átomos. As diferentes formas dos átomos não divergem no aspecto qualitativo, sendo que todos os átomos são iguais em sua constituição mudando apenas de forma. As formas atômicas são diversas e numerosas, mas não infinitas, no entanto a quantidade de átomos existentes é infinita. Todos os átomos são indivisíveis. O princípio primeiro das coisas são os átomos e todas as coisas existem devido ao movimento dos átomos.

Os átomos movem no vazio e podem desviar-se da direção vertical sendo um desvio espontâneo que dá origem as coisas. Sem o desvio nenhum átomo poderia encontrar-se com outro e dar origem a um primeiro conglomerado: cada átomo cairia eternamente ao lado do vizinho. O movimento de queda dos átomos é tão veloz quanto o pensamento no espaço infinito, devido ao peso dos átomos. O movimento dos átomos para baixo no espaço é igual para todos, quer sejam pesados, quer leves. Podendo desviar-se da linha reta, quando caem, os átomos podem tomar várias direções, e assim não é possível calcular com exatidão e antecedência qual a direção que tomarão.

Existem infinitos mundos e alguns são iguais aos nossos e outros totalmente diferentes do nosso. Todos os mundos nascem e dissolvem. Em cada instante existem mundos que nascem e mundos que morrem. Na constituição do universo não existe nenhuma inteligência, nenhum projeto e nenhuma finalidade sendo tudo casual e fortuito. Não existe nenhum ordenamento colocando ordem no universo. Não existe nenhuma inteligência superior que elaborou o universo.

O homem é feito de átomos pesados (o corpo) e de átomos leves (a alma). O homem morre quando os átomos leves se separam dos pesados. A alma sendo um agregado de átomos não é eterna e sim mortal, pois todo composto atômico é suscetível de dissolução.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Epicurismo

O epicurismo surge na cidade de Atenas por volta do fim do século III a.C. A escola epicurista centra o seu ensinamento na felicidade, mas uma felicidade no plano material através do corpo físico, negando todo tipo de transcendência. Os epicuristas buscam a felicidade no plano natural e negam a paz interior fundada no desligamento do mundo material.

A filosofia epicurista ensina que para atingir a felicidade o ser humano somente precisa de si mesmo. A cidade, as instituições, a nobreza, as riquezas e os deuses não possuem nenhuma relação com a felicidade, pois, para obter a felicidade o ser humano deve saber que todas as pessoas são totalmente independentes.

A igualdade entre os seres humanos está justamente que todos possuem o direito de adquirir a felicidade seja uma pessoa rica ou pobre, intelectual ou não intelectual, livre ou não livre, homens e mulheres. A verdade está naquilo que captamos pelos sentidos e os sentidos são os mensageiros da verdade. A respeito da alma defendem a tese que as almas são mortais e constituídas de átomos. A essência do homem sendo material a sua felicidade também tem que ser material. A felicidade é o prazer e o prazer é ausência de dor no corpo e ausência de perturbação na alma.

Os epicuristas buscam a felicidade do corpo satisfazendo os prazeres naturais e necessários, limitando os prazeres naturais que não são necessários e finalmente não buscando os prazeres não naturais e não necessários. Os prazeres naturais estão estreitamente ligados à conservação da vida do indivíduo. Comer apenas quando se tem fome, beber quando se tem sede, repousar quando se está cansado e assim sucessivamente. Eles procuram excluir o desejo sexual, porque é fonte de perturbação. A riqueza está em ter comida para saciar a fome, a água para eliminar a sede e abrigo para o descanso do corpo. A verdadeira riqueza é a vida e para manter a vida precisamos de muito pouco.

As pessoas que estão envolvidas na vida política esperam poder, fama e riqueza que são prazeres vazios, enganadores e ilusórios. Um dos lemas epicurista é se livrar da vida pública, das ocupações cotidianas e da política. O ser humano para ser feliz deve se afastar da multidão, viver oculto. A felicidade não está nas coroas dos reis e dos poderosos da terra, mas em uma vida simples satisfazendo as necessidades primárias do corpo.

A morte para os epicuristas é a dissolução total da alma e do corpo, a consciência e a sensibilidade cessam totalmente, nada restando depois da morte.

O epicurista era uma pessoa materialista vivendo uma vida simples, afastada da multidão e satisfazendo apenas as necessidades básicas.

domingo, 15 de fevereiro de 2009

Cinismo

O cinismo desenvolveu no mundo grego no século III a.C. O objetivo do ser humano cínico é conseguir a paz interior que não depende de fatores externos como o luxo, o poder político e a boa saúde. A paz interior é conseguida a partir do momento em que o ser humano consegue desapegar das coisas efêmeras. A paz interior é atingida quando o ser humano transcende a busca pelas coisas exteriores, quando ele se situa além da moral, da pobreza e da riqueza. Considera inútil todo conhecimento produzido pelo ser humano sendo útil somente a paz interior. A paz interior exige um pensar totalmente anticultural. O cínico vive sem meta cultural, sem necessidade de moradia e sem o conforto oferecido pelo progresso.

A paz interior gera o ser humano livre, um ser humano liberto de todas as necessidades humanas e sem qualquer tipo de prazer corporal. A busca pelo prazer corporal elimina a possibilidade da paz interior e logicamente a pessoa deixa de ser livre tornando o ser humano escravo das coisas que o proporciona prazer. Qualquer tipo de relação sexual, seja ela no casamento ou fora do casamento, não é aceito pelo cinismo.

O ponto culminante do cinismo é o estar em constante paz interior que é uma paz que se origina da alma de cada ser humano. O ser humano estando em paz interior se alimenta quando recebe alimento de outra pessoa, dorme quando sente vontade de dormir e para dormir deita-se onde estiver sem precisar de uma casa.

O cínico não está apegado a uma cidade, ao Estado ou a uma Nação, onde ele estiver é a sua casa. O chão de terra que pisa é o bastante para ele viver em paz interior. A pobreza e a obscuridade é o maior bem para o ser humano que busca a paz interior.

A paz interior é diretamente proporcional ao desligamento dos prazeres, o abandono da riqueza, a eliminação do desejo por ter qualquer tipo de poder, fama e sucesso. A paz interior coloca o ser humano totalmente apático ao mundo material inclusive ao próprio corpo. O cínico é um ser humano que vive sozinho, pois, a paz interior o basta.

Platão e Aristóteles

Não resta dúvida que Platão e Aristóteles foram pessoas responsáveis pela sinalização de dois modelos ou arquétipos de reflexão, assim sendo, pretendemos mostrar as divergências básicas entre os dois filósofos.

O pensar de Platão apresenta uma dualidade nítida entre o mundo metafísico e o mundo físico. O nível físico é desprezado e colocado como sendo a causa de todos os defeitos e apegos. O objetivo da vida é justamente voltar ao universo metafísico através do total desapego as coisas do mundo. No universo ontológico existe a eternidade que é constituída de formas imutáveis, sendo o verdadeiro mundo da alma, o mundo para onde a alma deve regressar. A paz da alma está justamente no voltar ao seu mundo original desprezando totalmente o mundo captado pelos sentidos. O universo ôntico é formado pelas coisas passageiras, sendo o mundo da obscuridade e sem nenhum valor. O campo ôntico aprisiona a alma. Podemos dizer que a síntese do pensar de Platão está no desligamento da alma do corpo humano e do mundo obscuro que é o espaço das coisas captadas pelos sentidos.

O pensar de Aristóteles se opõem a dualidade platônica não sendo o mundo físico o campo da obscuridade. O reino inanimado, vegetal e animal são movimentados por Deus formando a alma vegetativa e sensitiva. A partir do momento em que existe uma estrutura humana ela recebe a alma intelectiva que no primeiro momento se volta para a reflexão do mundo dos seres humanos e posteriormente a alma intelectiva elabora a reflexão metafísica procurando unir-se a Deus. Existe, portanto, um movimento do ser-em-potência para o ser-em-ato, ou seja, um movimento do ser simples para um ser complexo. O ser complexo torna-se uno com Ser Supremo. O mundo inanimado, vegetal, animal e humano possui um propósito de entrar na linha evolutiva em direção a Deus. Existe uma linha de desenvolvimento no planeta Terra que se inicia no reino inanimado e culmina na alma intelectiva metafísica refletindo as características do divino. Tudo se movimenta em direção a perfeição, em direção ao Absoluto que é Deus.

Concluímos que o pensar de Platão leva o ser humano a romper com o mundo; o pensar de Aristóteles não impõe o rompimento com o mundo e sim um movimento natural orquestrado por Deus onde a esfera material é necessária ao processo de desenvolvimento.

Aristóteles

Aristóteles nasceu em 384 a.C e faleceu em 322 a.C sendo considerado o último filósofo grego. Salienta que Deus coloca em marcha todos os movimentos da natureza sendo Ele o primeiro impulsor. O primeiro impulsor não se movimenta, mas é a causa primordial de todos os movimentos da natureza. Deus é inteligível, imóvel, privado de potencialidade, ato puro, inalterável e impassível.

Deus movimenta todo o processo da natureza das coisas inanimadas para as criaturas vivas, assim sendo, por trás de tudo na natureza existe um propósito, uma finalidade. O reino das coisas inanimadas é movimentado para o reino das plantas que é movimentado para o reino dos animais e posteriormente para o reino humano. O ser humano para chegar à condição de humano passou pelo reino vegetal e animal, possuindo uma alma vegetativa, uma alma sensitiva.

A alma vegetativa governa as atividades biológicas do corpo e preside a reprodução; a alma sensitiva é a capacidade de sentir; não existe sem o corpo e elabora desejos. Existe também a Alma intelectiva que vem de Deus sendo transcendente a alma vegetativa e sensitiva possuindo uma dimensão meta-empírica. A alma intelectiva embora não sendo Deus reflete as características do divino, vivendo em harmonia com Deus não se misturando com a alma vegetativa e sensitiva.

A alma intelectiva tem dois aspectos, ou seja: sabedoria e sapiência. A sabedoria é o voltar-se para as coisas mutáveis da vida centrando-se em deliberar de modo correto acerca daquilo que é bem ou mal para o ser humano limitando-se a pensar coisas humanas e mortais, já que o homem é mortal. A sapiência é voltar-se para as realidades imutáveis, ou seja, aos princípios e às verdades supremas. Através da sapiência o ser humano alcança a felicidade máxima, quase uma tangência com o divino. A metafísica é uma atividade da sapiência ultrapassando o mundo empírico para alcançar uma realidade meta-empírica, ou seja, Deus.

A alma é sinônimo de ser e temos o ser-em-potência e o ser-em-ato. O ser-em-potência em relação ao ser-em-ato pode ser considerado não-ser, mais precisamente, não-ser-em-ato. A potência é condição inicial que não está completamente desenvolvida e ato é estado final, acabado e realizado. O ato é também chamado de enteléquia que significa realização, perfeição concretizada em Deus. O ato é o modo de ser das substâncias eternas. O movimento é a passagem de potência para ato e todas as almas estão em movimento, movimentadas de potência para ato. O movimento da alma é a sua passagem de alma vegetativa, para alma sensitiva e para alma intelectiva. Tudo se movimenta em direção a perfeição, em direção ao Absoluto que é Deus. O mundo se produziu tendendo para Deus, atraído pela perfeição, nunca é caótico.

Existe uma hierarquia de almas ou seres indo do ser-em-potência ao ser-em-ato formando esferas. Cada esfera é movida pela esfera hierarquicamente superior e as esferas possuem múltiplas e diferentes realidades. No nível da esfera que denominamos Terra, tudo que existe é composto de substância e forma. A substância é a matéria que é a coisa com capacidade de receber a forma, ao passo que a “forma” é a característica peculiar de cada coisa, é a forma na matéria. A matéria tornar-se algo de determinado somente se receber a determinação por meio de uma forma. Quando a substância deixa de existir a “forma” também deixa de existir. A única coisa que resta depois do desaparecimento da “forma” é a substância que não possui nenhuma relação com a coisa ou com a “forma”. Sinolo é a união da matéria com a forma organizada pela alma vegetativa, sensitiva e finalmente pela alma intelectiva. A alma enforma a matéria e funda o sinolo.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Platão: os dois mundos antagônicos

Marcos Spagnuolo Souza

Os ensinamentos transmitidos por Platão mostram a existência de dois mundos totalmente antagônicos, o mundo da escuridão ou ôntico e o mundo da luz ou ontológico. O mundo da escuridão é captado pelos sentidos existentes no corpo humano. Para viver no mundo ôntico somente é possível através dos sentidos que produzem um falso conhecimento (doxado). O saber ôntico é um conhecimento sem nenhum valor por ser doxa, ou seja, fundamentado na ignorância. O mal é justamente o mundo material, o corpo humano, os sentidos físicos, o viver em um mundo onde tudo é passageiro e ter um conhecimento baseado nos sentidos do corpo material. Platão coloca o mundo ôntico sem nenhuma utilidade. O viver de modo falso se configura em todas as atividades dirigidas pelos sentidos vivenciando a natureza material. O mundo ontológico ou celeste é captado somente pela alma. Diante destas colocações a ética se restringe no movimento da alma em sua busca constante do mundo das idéias (hiperurânio) se afastando ou fugindo do corpo, dos sentidos e do mundo material. O desejo intrínseco da alma é afastar de tudo que é passageiro, mutável e não verdadeiro passando a contemplar a verdade e a perfeição. Não existe conciliação entre o mundo material e o mundo espiritual, são dois planos completamente antagônicos. A alma presa no mundo material e controlada pelos sentidos está em constante sofrimento, sendo que a única maneira de viver plenamente a paz está na harmonização com o plano invisível ou natureza não física.

Platão: a caverna

Marcos Spagnuolo Souza

Platão ensina que existem dois universos totalmente diferentes. O primeiro universo é eterno sendo denominado de universo da “forma”, o segundo universo não é eterno sendo denominado de universo das sombras ou da escuridão. O ser humano também é constituído de duas estruturas: uma estrutura eterna denominada de alma e outra estrutura denominada de corpo que pertence ao universo da sombra. O nascimento é quando a alma é jogada para a terra, especificamente para dentro de um corpo físico e neste momento a alma esquece de sua eternidade e do mundo da “forma”. Todo o conhecimento que o ser humano possui do mundo da obscuridade é denominado “doxa” e quando vive em função do conhecimento adquirido no mundo material a pessoa possui a condição de “doxado”. Platão diz que a alma esqueceu da sua origem, no entanto, no seu interior está oculta a reminiscência do seu mundo original e quando ela recorda de sua verdadeira condição ela regressa para o mundo eterno. O ato da alma recordar é denominado por Platão de “anamnesis”. A partir do momento em que a alma inicia o seu processo de “anamnesis” o seu conhecimento é denominado de “épisthéme” ou verdadeiro conhecimento passando a ser um sábio. Platão utiliza a simbologia de uma caverna escura para definir o mundo material,o mundo do corpo físico, o mundo não eterno, o mundo da doxa, ou seja do conhecimento falso. Salienta que os doxados estão presos no interior de uma caverna escura vivendo uma vida medíocre acreditando que estão vivendo uma existência real. Salienta Platão que o mundo da “forma” o mundo verdadeiro e real está fora da caverna, sendo necessário as pessoas saírem e vislumbrarem a eternidade, deixando a condição do doxados para se transmutarem em sábios que possuem o conhecimento verdadeiro. O maior problema é que os doxados estão totalmente apegados aos conhecimentos falso e não aceitam a possibilidade da existência do universo da “forma” o universo eterno e verdadeiro. Os doxados estão tão apegados ao corpo físico que negam inclusive a existência da alma eterna. Mesmo que um sábio que tenha vivência no mundo da “forma” converse com os doxados sobre o verdadeiro conhecimento eles não aceitam, estão cegos e cegos continuarão a viver no fundo da caverna, no universo das sombras.





quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Platão: o mundo da idéia

Marcos Spagnuolo Souza

Platão é um filósofo Grego que nasceu em 427 a. C e morreu em 347 a.C. Salienta que existem coisas eternas e coisas não eternas. As coisas eternas existem para sempre e as coisas não eternas são passageiras. Platão denomina as coisas eternas de “forma”. A forma é um modelo abstrato, a partir dos quais todos os fenômenos são formados. A forma é o mundo espiritual onde tudo existe eternamente e a “forma” possui também o nome de “idéia”. A alma existe no mundo da “forma” ou no mundo da “idéia”. No mundo da “idéia” estão as imagens primordiais, eternas e imutáveis que não são conhecidas através dos sentidos. Contrapondo ao mundo da “forma” existe o mundo da relatividade, das coisas passageiras e mutáveis que é o universo material incluindo o nosso próprio corpo físico. As coisas não eternas são captadas pelos sentidos do corpo humano e desaparecem com o tempo. Tudo que vemos no mundo fenomênico, tudo que podemos tocar pode ser comparado a uma bolha de sabão, pois, nada no mundo dos sentidos é durável. Tudo que está inserido dentro do espaço e do tempo não é eterno. Platão chama de humano a união do corpo material que não é eterno com a alma que é eterna. O corpo está ligado ao mundo dos sentidos, compartilhando do mesmo destino de todas as coisas no mundo. Os sentidos do corpo físico não possuem acesso a mundo da “forma”, os sentidos estão restritos ao universo material. A alma é eterna e possui acesso ao mundo da “forma”, ao mundo eterno. Platão diz que a alma a partir do momento em que envolve com o corpo, com o mundo não-eterno ela esquece completamente de sua estrutura eterna e também se esquece do mundo perfeito que é o mundo da “idéia”. Mesmo que a alma tenha esquecido o seu próprio mundo eterno, no seu âmago, pulsa o desejo de retornar a sua verdadeira morada. A verdadeira atividade da alma é libertar-se do cárcere do corpo. Muitas almas não querem voltar para sua morada eterna porque estão apegadas ao mundo dos sentidos, não mais sentem o impulso de sua verdadeira essência. O mundo material é o mundo da sombra, da obscuridade e muitas almas preferem viver no mundo da sombra a viver no mundo verdadeiro que é o mundo da “idéia”. Almas aprisionadas no universo material acreditam que a sombra é tudo o que existe, e por isso não as vêem na sombra. O mundo material é o teatro das sombras. A liberdade somente existe quando a alma transcende o mundo da obscuridade e penetra no mundo da “idéia”.

Sócrates

Sócrates
Marcos Spagnuolo Souza

Sócrates é um filósofo grego. Nasceu em Atenas no ano de 496 aC e faleceu em 399 aC. Defende a tese que o ser humano é a sua própria alma, o ser humano não é o corpo. O autoconhecimento é o único caminho para atingir a verdadeira sabedoria. A verdadeira sabedoria está no interior da alma sendo um conhecimento doado por Deus. O caminho para atingir o autoconhecimento é a busca que cada pessoa deve realizar dentro de si mesma. O autoconhecimento é o mergulho interior que a própria alma faz em sua própria essência. A atividade principal do ser humano é justamente o voltar-se para o seu interior. Para Sócrates o homem não deveria se preocupar com o corpo, com a riqueza e com tudo que tivesse uma relação com a matéria, pois, o principal objetivo da vida é o autoconhecimento. A respeito do corpo salienta que ele deve ser o instrumento da alma e não o instrumento dos instintos do próprio corpo. A felicidade não está relacionada com as coisas exteriores e a alma somente encontra a paz quando conhece a si mesma. O nosso percurso na vida deve ser a constante interiorização para desnudar a própria alma. A vida é a alma conhecendo a si mesma. A alma possui uma relação direta com Deus captando a sabedoria divina e quando a alma se interioriza ela absorve a verdade que é a própria sabedoria divina. A alma só pode atingir a verdade se dela estiver grávida, isto é, quando busca o conhecimento colocado por Deus no seu próprio interior. Em síntese: Sócrates mostrou que cada ser humano é constituído de corpo e alma devendo buscar o conhecimento em seu interior, um conhecimento colocado na alma por Deus. Sócrates falava muito a respeito do seu Daimonion. O Daimonion era uma voz que Sócrates ouvia em seu próprio interior que o impedia de fazer determinadas coisas, era uma voz que o orientava, sendo a voz de sua própria alma.