sábado, 17 de julho de 2010

Blaise Pascal

Blaise Pascal (1623 – 1662). O ser humano através do pensamento possui consciência que é um ser miserável, pois não consegue vencer a morte, a miséria, a ignorância e vencer também a sua fraqueza perante a natureza. Através do pensamento sabe que morre e sabe da superioridade da natureza sobre ele; já a natureza, ao contrário, não sabe nada, pois o universo não pensa; uma árvore não sabe que é miserável, assim sendo, a grandeza do homem equivale a conhecer a sua miserabilidade. A miséria do ser humano se aprofunda a partir do momento em que deseja viver uma vida baseada nos conceitos dos outros e por isso se embeleza e agrada as outras pessoas, esquecendo do verdadeiro ser. O ser humano é tão presunçoso que gosta de ser conhecido de toda a terra, como também por aqueles que viverão quando a morte o tiver eliminado; o ser humano é tão vaidoso que a estima de poucas pessoas já basta para alegrá-lo e o deixar contente. O ser humano navega em um vasto mar, sempre incerto e instáveis atirado de um lado para outro e desejando ardentemente encontrar um alicerce e uma base sólida para edificar uma torre que se erga até o infinito, mas seu fundamento se dissolve e a terra se abre em abismos. O ser humano diante de sua miserabilidade decide não pensar nelas para não ficar infeliz e se entrega a futilidade das diversões, que é uma fuga diante da visão lúcida da miséria humana. A única coisa que consola a miséria humana é a diversão, e, no entanto, essa é a maior de sua miséria, pois, ela impede o ser humano de pensar em si próprio levando-o inadvertidamente à perdição. Sem a diversão, o ser humano fica entediado e esse tédio o impele a procurar um meio mais sólido para sair disto, mas, a diversão o distrai, fazendo-o chegar inadvertidamente à morte. O homem vive sempre ocupado ou entregue à diversão, com medo de ficar só consigo mesmo, de olhar para dentro de si, ele tem medo de sua própria miséria. Toda a infelicidade do ser humano provém de não saber ficar tranqüilo em um aposento.
O ser humano, sozinho, com suas próprias forças, só consegue compreender que é um monstro incompreensível; sozinho, não consegue criar valores válidos e nem encontrar um sentido estável e verdadeiro da existência. Diante da miserabilidade humana o ser humano se tornou indigno para compreender Deus. Diante da miserabilidade humana surge a graça divina onde Deus se revela. As obras não são suficientes para obter a salvação sem uma intervenção eficaz da graça divina. A mente humana é muito fraca para levar o ser humano à salvação através dos seus próprios esforços. O ser humano só pode alcançar a salvação quando levado pela força onipotente e sobrenatural de Deus que é a graça. É preciso tornar-se disponível para receber a graça e a graça é necessária, porque a queda e a nossa natureza corrupta torna o ser humano indigno de Deus. É Deus que se revela através da graça.
Em matéria referente aos sentidos, aos fatos e objetos o raciocínio é a autoridade, somente a razão tem condições de conhecer o mundo objetivo. As verdades obtidas pela razão são progressivas e são resultados da engenhosidade humana de provas racionais e de experimentos. Não querer aceitar novas verdades no âmbito da razão é uma atitude irracional, que ocasiona a paralisação do progresso. Os segredos da natureza estão ocultos e as experiências que nos fazem conhecê-los se multiplicam continuamente. Proibir as novidades científicas é tratar indignamente a razão do homem e colocá-lo ao nível dos animais. O progresso da humanidade quanto mais envelhece, mais progride. Para não permanecermos no ponto a que os antigos chegaram, devemos ir adiante, sem achar de modo algum que o progresso do conhecimento seja uma ofensa que fazemos contra os antigos. O saber científico é autônomo e deve estar em expansão. O ser humano utilizando os sentidos e a razão para o desenvolvimento material deve possuir consciência que eles podem nos encanar dando-nos falsas aparências. A razão e os sentidos não somente carecem de sinceridade, mas também se enganam mutuamente. A racionalidade humana existe para ser empregada na compreensão das coisas materiais e a razão humana é incapaz de alcançar a compreensão do que seja o homem em sua totalidade.
Em síntese existem dois caminhos paralelos: o caminho da salvação com a graça divina e o caminho do desenvolvimento científico utilizando a razão. Dois caminhos, um buscando Deus e outro buscando a modernidade no mundo.

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