sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

José Ferrari

José Ferrari (1811 – 1876). O que importa e reconquistar o fato e mantê-lo como base. Ater-se aos fatos e não se perder atrás das conjecturas e hipóteses. É inútil procurar um fenômeno além dos fenômenos. O fato basta a si mesmo. A época da revolução é o período que estamos vivendo e vem depois da época da religião e da época da metafísica. A época da revolução é a época da ciência. As igrejas devem ser eliminadas, pois, o ponto decisivo da emancipação está em negar positivamente a existência de Deus. A revolução arrancou o poder das mãos da nobreza, mas a colocou nas mãos da classe privilegiada que é a burguesia, ao passo que o poder deve estar nas mãos do povo.

Referência: REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da Filosofia: do romantismo até nossos dias. São Paulo: Edições paulinas, 1991.

Victor Cousin

Victor Cousin (1792 – 1867). A nossa verdadeira doutrina, a nossa verdadeira bandeira, é o espiritualismo. O espiritualismo ensina a elevação da alma, a liberdade e a responsabilidade das ações humanas, as obrigações morais, a virtude desinteressada, a dignidade da justiça, a beleza da caridade. O espiritualismo ensina também que além dos limites deste mundo há um Deus, que cria a humanidade, que lhe confia fim nobre e que não a abandonará no curso do misterioso desenvolvimento do seu destino. A espiritualidade é a filosofia que sustenta o sentimento religioso, rejeita a demagogia e, a tirania. A espiritualidade ensina a todos os homens a respeitarem-se e a amarem-se.

Maine François Pierre

Maine François Pierre (1766 – 1824). Sem o sentimento de existência individual que chamamos de consciência não há conhecimento e não há conhecimento se não admitirmos um sujeito permanente que conhece. A consciência é o sentimento que temos continuamente e sempre da nossa existência particular ou do nosso eu. É o eu que tem o sentido íntimo de sua existência individual, una, idêntica e que permanece sempre a mesma, ao passo que todas as modificações que ocorrem variam sem cessar e todos os fenômenos externos e internos, sensações, representações e imagens passam e se sucedem em fluxo contínuo. A consciência se revela como causa ou força. É essa força que move o corpo e que se chama vontade. O eu é essa força agente. O eu nada mais é que o sentimento da força agente, que está em exercício efetivo para fazer o corpo se mover e deslocar-se, para transformá-lo no espaço e para pôr as suas diversas partes em contato com os objetos que são as causas das sensações. Salienta: eu ajo, eu quero, logo, eu sou minha causa e, portanto, eu sou, existo realmente em virtude de causa ou força. Tudo o que existe de passivo no homem pertence ao físico, a parte livre e ativa do ser humano, ao contrário, é a parte do eu. É urgente ouvir o sentido íntimo, ele nos dirá que existe um ser ordenador de todas as coisas. É o sentido íntimo que nos faz ver Deus na ordem do universo.

Referência: REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da Filosofia: do romantismo até nossos dias. São Paulo: Edições paulinas, 1991.

Pierre Jean Georges Cabanis

Pierre Jean Georges Cabanis (1757 – 1808). Reduz a vida mental do homem às sensações provenientes de objetos externos. Ele reduz toda a vida consciente à fisiologia, ao funcionamento do sistema cerebral, sistema que é órgão do pensamento e da vontade. O cérebro digere de algum modo as impressões e produz organicamente a secreção do pensamento. A vida é meramente uma organização de forças físicas. O pensamento é resultado de "secreções" no cérebro análogas à secreção da bile pelo fígado. O comportamento depende do arranjo de elementos naturais. A consciência é efeito dos processos mecânicos e a sensibilidade, que é a fonte da inteligência é uma propriedade do sistema nervoso.

Referência: REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da Filosofia: do romantismo até nossos dias. São Paulo: Edições paulinas, 1991.

Louis de Bonald

Louis de Bonald (1754 – 1840). Deus teria dado ao homem, desde a criação, uma linguagem primitiva que, passando de geração a geração, conserva a revelação divina originária e as verdades inatas que Deus gravou na mente de todos os homens. Existe uma revelação natural de Deus a todos os homens. É de Deus que deriva a sabedoria do Estado e a legitimidade de quem o representa. O individualismo e toda abstração individual é obra do demônio e toda revolução é demoníaca. Todos os males de sua época são consequências da rejeição da teocracia medieval e da monarquia fundada no direito divino dos reis. O que deve estar nos fundamentos da vida e da história não é a razão individualista, e sim as verdades eternas da religião, que Deus revelou ao homem desde as origens. Necessidade de aceitar e se submeter às instituições como a Igreja e o Estado, ou melhor, àquelas autoridades que, como o papa e o soberano, representam as verdades divinas. Toda a história é governada por Deus.

Referência: REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da Filosofia: do romantismo até nossos dias. São Paulo: Edições paulinas, 1991.

Antoine Louis Claude Destutt de Tracy

Antoine Louis Claude Destutt de Tracy (1754 -1836). Os cinco sentidos não são suficientes para nos garantir o conhecimento da existência dos corpos externos. Nós conseguimos descobrir o mundo externo graças à motilidade: o sujeito se dá conta do mundo externo em virtude do confronto entre um movimento desejado e um corpo que a ele resiste que forçaria o sujeito a admitir a realidade do mundo externo. As idéias são fenômenos naturais que exprimem a relação entre o organismo vivo do ser humano e o seu meio natural de vida. A ideologia possibilita o conhecimento da verdadeira natureza humana ao perguntar de onde provem nossas idéias e como se desenvolviam.

Referência: REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da Filosofia: do romantismo até nossos dias. São Paulo: Edições paulinas, 1991.

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Soren Kierkegaard

Soren Kierkegaard (1813 – 1855). O ser humano deve ter coragem de, como Indivíduo, pôr-se em relação com Deus: antes em relação com Deus e não antes com os outros. Quando estamos diante de Deus, não há espaço algum para os fingimentos, os disfarces e as ilusões. Para aspirar à verdade, é preciso ficar nu em sentido muito mais íntimo, é preciso desfazer-se de falsas vestimentas interiores.

Deus sabe que as pessoas o enganam, Deus cria uma situação na qual o ser humano o engana, para que o sujeito sofra com o objetivo de perceber que é abandonado por Deus. A respeito da justiça divina salienta que cada criminoso, cada pecador pode ser salvo na eternidade desde que passe a buscar Deus, pois, na eternidade, o que será lembrado é somente a busca por Deus. Será salvo quem possui Deus por parceiro.

Deus quer restabelecer a igualdade entre Si e o discípulo, assim com um rei que se apaixona por uma plebéia. Deus encontra sua alegria em vestir ao lírio com mais esplendor que Salomão. O amor de Deus não somente ensina, mas também leva a um novo nascimento do discípulo, passando do não ser ao ser, pois o fazer nascer pertence a Deus cujo amor é regenerador. Deus busca a unidade, de Si com o não ser do discípulo para obter a unidade, Deus se faz igual ao seu discípulo, e para isto toma a forma de servo. Deus sofre a fome, o deserto, tudo experimenta por amor ao discípulo. Somente Deus pode salvar o indivíduo do desespero.

O desespero humano brota em não querer se aceitar como estando nas mãos de Deus. Negando Deus o ser humano aniquila-se a si mesmo. Separar-se de Deus equivale a arrancar suas próprias raízes e afastar-se do único poço do qual se pode obter água. A autêntica existência é aquela que está disponível para o amor de Deus, a existência daquele que não crê mais em si mesmo, mas em Deus somente. A fé em Deus, o saber que está ao lado de Deus, leva o ser humano a entrar em conflito com o mundo, tendo alto grau de tédio da vida.

Existem três estágios na existência do ser humano: estágio estético; estágio ético e estágio religioso. O estético é o estágio básico na realidade humana, marcado pela diversidade e pelos desejos. O desejo pode passar pela satisfação sentimental, material, entre outros, mas em última instância, o desejo erótico predomina. Na vida estética o ser humano sente a desesperança de uma vida feliz baseada no aspecto erótico e busca uma vida governada por princípios interiores. O ser humano entende que a ética é a única forma de desviar das fragilidades do corpo humano. Estágio religioso demonstra uma existência superior, onde o estágio ético fica ofuscado diante do estágio religioso. O estágio religioso é caracterizado pelo desprendimento, solidão, devoção e comunicação com Deus através de um silêncio profundo.

No estágio religioso o ser humano compreende que Deus tem a precedência, consequentemente, a ciência deste mundo não tem muita importância, já que, para o cristão, a existência autêntica estabelece-se no plano da fé: como forma de vida, a ciência é existência inautêntica.

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Johann Friedrich Herbart

Johann Friedrich Herbart (1776 – 1841). A vida psíquica é um mecanismo de representações. As representações são produzidas por sensações sensíveis e subsistem na estrutura psíquica uma vez que tenha cessado seu motivo exterior. Porém, devido à estreiteza da consciência somente poucas representações podem chegar a ser conscientes, as demais ficam sob o umbral da consciência, onde, como molas de aço comprimidas, esperam voltar a surgir.

As representações conscientes são importantes porque determinam o comportamento humano. A modificação das representações na estrutura psíquica é de suma importância, sendo responsável pelo desenvolvimento humano e da humanidade. Uma volição não é mais do que um círculo espiralado, que começa com o interesse, passa pela formação de conceitos e termina com a ação. O início de qualquer mudança da representação inicia com o interesse.

A primeira condição para que ocorra transformação é a existência do interesse. O interesse é a grande palavra, a palavra mágica da transformação do ser humano. O interesse somente existe quando na consciência existe o gosto íntimo de si transformar durante a vida e não o mero distrair ou divertir. O interesse pode ser despertado o que exclui qualquer tipo de violência. Existem duas classes de interesses: A primeira leva a conhecer as coisas; a segunda, a conviver com os seres humanos. O interesse para conhecer as coisas possui três subdivisões que são os seguintes: Interesse Empírico; Interesse Especulativo e Interesse Estético. Interesse empírico: ligado a observação de objetos, procura conhecer os objetos. Interesse especulativo: quando conduz ao estudo das leis e relações das coisas. Interesse estético traz em si o sentir à beleza dos objetos. Os interesses que dão margem às relações humanas são os seguintes: o Interesse simpático: impulsiona o homem a participar na alegria e na dor do próximo. Interesso social: que faz sentir o destino da classe social, do povo e da humanidade. Interesse religioso: que busca conhecer a origem de todas as coisas, a essência primeira, ou seja, Deus.

O próximo passo depois do interesse implica a elaboração dos conceitos fundamentais que estruturam nossa experiência da realidade. Combinando conceitos o pensamento forma juízos. Relacionando juízos surgem as concepções de vida e logicamente as argumentações. As concepções de vida geram os comportamentos.

Todo ser humano possui a propensão inata para a luta, desordem e causar danos, sendo necessário conter tais impulsos através da disciplina. A disciplina atua de um modo contínuo e sempre com as vistas a alcançar determinadas coisas no futuro e suavemente, como a providência benigna. A disciplina está relacionada com a individualidade abrangendo censuras, louvores e recompensas, mas, não podemos esquecer que onde se governa muito não se pode desenvolver nenhuma espontaneidade pessoal, nenhum espírito de invenção, nenhum ânimo arriscado, nenhuma atitude previsora, nenhum caráter forte, consciente de sua finalidade.

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Arthur Schopenhauer

Arthur Schopenhauer (1788 – 1860). O mundo é representação do sujeito. A terra e o sol são representações do sujeito. O mundo circundante somente existe como representação. Tudo o existe para o conhecimento, isto é, o mundo inteiro, nada mais é do que o objeto, que é uma representação. O mundo é representação nossa e nenhum de nós pode sair de si mesmo para ver as coisas como elas são. Tudo aquilo que temos conhecimento se encontra dentro de nossa consciência. A matéria não tem existência independente da representação.

A representação possui duas metades: a primeira metade é o sujeito e a outra metade é o objeto. Sujeito: é o sustentáculo do mundo, a condição de todo fenômeno e de todo objeto, o sujeito elabora representações. Objeto: o objeto é a pluralidade das representações do sujeito, aquilo que é conhecido. Sujeito e objeto são inseparáveis, cada uma das duas metades não tem sentido nem existência senão por meio da outra e em função da outra, ou seja, cada uma existe com a outra. O objeto é representação do sujeito. É preciso abandonar que o mundo fora de nós existe como sendo real, sem qualquer concurso de nossa parte. Não existe uma existência absoluta, independente do sujeito, não existe uma existência impensável pelo sujeito. Tudo o que é objetivo tem sempre e essencialmente sua existência na consciência do sujeito, sendo, portanto, sua representação e sendo condicionado pelo sujeito e por suas formas representativas que são inerentes ao sujeito e não ao objeto. O mundo, como nos aparece em sua imediaticidade é em si, um conjunto de representações condicionadas pelas formas a priori elaboradas pelo sujeito.

Não é possível a distinção real e clara entre o sonho e a vigília: o sonho tem somente menos continuidade e coerência do que a vigília. Salienta Schopenhauer: “nós não nos envergonhamos de proclamar a ausência de distinção entre sonho e vigília, pois, tantos foram os grandes espíritos que a reconheceram e proclamaram. Os Vedas chamam o mundo de véu de Maia; Platão afirma que os homens vivem no sonho; Pindaro diz que o homem é o sonho de uma sombra; Sófocles compara os homens a simulacros e sombras leves; Shakespeare sentencia que nós somos da mesma matéria de que são feitos os sonhos e a nossa breve vida é circundada por sono; e, para Calderón, a vida é sonho.” A vida e os sonhos são páginas do mesmo livro.

O próprio ser humano é representação, mas, não é somente isso, já que é também sujeito cognoscente. O ser humano é representação e sujeito ao mesmo tempo. Aprofundando no sujeito deparamos no nível mais profundo à vontade, que é o desejo. A imersão no profundo do sujeito descobre-se a vontade. Podemos observar que a vontade faz parte de uma vontade única. A vontade individual do sujeito e a vontade única formam um núcleo no sujeito responsável por todas as representações.

A vontade nos seres gera a natureza: reino vegetal, reino animal e reino humano, seres que impulsionados pelo impulso cego da vontade lutam um contra o outro para se imporem e dominarem suas representações subindo na escala das representações. Vontade é a substância íntima, o núcleo de toda coisa particular e do todo que aparece na força cega da natureza e que se manifesta na conduta racional do ser humano. Nenhum objeto da vontade, uma vez alcançado, pode dar satisfação durável ao sujeito. O sujeito, aprofundando-se em seu próprio íntimo consegue compreender que todas as representações possuem origem na vontade e que o próprio corpo é vontade ou desejo de ter corpo. O sujeito esta vivenciando a representação da vontade única, a vontade do sujeito é o reflexo da vontade única.

O sujeito, penetrando em seu interior, vencendo as forças da vontade, descobre que tudo que possui consciência é representação impulsionada pela vontade, tudo é ilusão, mas existe uma realidade encoberta pelo véu de Maia. O véu de Maia tem que ser rasgado, a realidade deve ser desvelada. Dois são os meios que o sujeito possui para ir além da vontade e penetrar na realidade: contemplação e ascese.

Na contemplação o sujeito se separa das cadeias da vontade, afasta-se dos seus desejos, anula as suas necessidades, deixando de olhar os objetos em função de suas utilidades. O sujeito se aniquila como vontade e se transforma em puro olho do mundo, mergulha na representação para ter consciência que é ilusão. Mergulhando no estado de contemplação liberta-se por um instante de todo desejo e preocupação. A contemplação é olhar o mundo como ilusão, deixando de ser instrumento da vontade. A contemplação gera felicidade, mas são instantes breves e raros, que servem para indicar ao sujeito como deve ser feliz a vida do ser humano cuja vontade se aquietou.

A ascese é conseguida quando o sujeito suprime a raiz do mal, isto é, a vontade de viver. A dor é o caminho da ascese que nos leva ao horror por viver em um mundo cheio de dor. O primeiro passo da ascese é a castidade, que significa a liberdade de não gerar outro ser de vontade. O segundo passo é a pobreza, eliminando toda vontade. A ascese arranca o sujeito da vontade, das garras da morte, dos vínculos com os objetos, com as representações. Na ascese nasce o novo ser, o sujeito redimido.

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Friedrich Engels

Friedrich Engels (1820 – 1895). A dialética é a forma de pensamento mais importante para a ciência natural moderna, porque só ela apresenta a analogia e, com isso, os métodos para compreender os processos de desenvolvimento que se verificam na natureza, os nexos gerais e as passagens de um campo de pesquisa para outro. O processo de evolução se desenvolve por meio de negações sucessivas, que dão origem a conformações sempre novas, como no caso do proletariado, que nega a burguesia, produzindo uma sociedade mais madura e mais elevada. A dialética é a lei que vale para a natureza, para a história social humana e para o pensamento.

A grande divisão sistemática do pensamento reside na dicotomia entre idealismo e materialismo. O materialismo parte do pressuposto que a matéria constitui o fundamento da realidade, sendo que a idéia deriva da realidade material. Somente podemos compreender a história a partir das relações econômicas de produção, através da infra-estrutura. A infra-estrutura é a base material da existência e a superestrutura corresponde às idéias, convicções políticas, religiosas, econômicas que são formadas a partir da infra-estrutura. As relações entre os dois planos não é, unívoca e linearmente causal; trata-se de um âmbito complexo de relações, de modo que um estudo rigoroso do fenômeno histórico não pode descartar o papel desempenhado pela superestrutura, tanto quanto a análise das condições infra-estruturais que possibilitaram este fenômeno.

Referência: REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da Filosofia: do romantismo até nossos dias. São Paulo: Edições paulinas, 1991.

Karl Marx

Karl Marx (1818 – 1883). Crítica a Religião: os homens alienam o seu ser projetando-o em um Deus imaginário somente quando a existência real na sociedade de classe impede o desenvolvimento de sua humanidade. Para superar a alienação religiosa, não basta denunciá-la, mas é preciso mudar as condições de vida material. O Estado e a sociedade produzem a religião, que é consciência invertida do mundo, a religião é a teoria invertida das condições sociais. Existe o mundo fantástico dos deuses porque existe o mundo irracional e injusto dos homens. A miséria religiosa é a expressão da miséria real em um sentido e, em outro, é o protesto contra a miséria real. A religião é o suspiro da criatura oprimida e o ópio do povo. A religião é obra da humanidade sofredora e oprimida, obrigada a buscar consolação no universo imaginário da fé. A primeira função de uma filosofia a serviço da história é a de desmascarar a auto-alienação religiosa, mostrando suas formas que nada têm de sagradas. Essa a razão por que a crítica do céu se transforma em crítica da terra, a crítica da religião em crítica do direito, a crítica da teologia em crítica da política.

Alienação do Trabalho: o homem pode viver humanamente, isto é, fazer-se enquanto homem, precisamente humanizando a natureza segundo as suas necessidades e as suas idéias, juntamente com outros homens. O homem pode transformar a natureza, objetivar-se nela e humanizá-la, pode fazer dela o seu corpo inorgânico. Olhando para a história e para a sociedade, veremos que o trabalho não é mais feito, juntamente com os outros homens, pela necessidade de apropriação da natureza externa, veremos que não é mais realizado pela necessidade de objetivar a própria humanidade, as próprias idéias e projetos, na matéria-prima. O operário tornou-se mercadoria nas mãos do capital, o operário se alienou do trabalho. Alienação do trabalho faz com que surjam todos os outros tipos de alienação. Alienação do trabalho transformou o trabalhador em um ser bruto. Alienação do trabalho consiste no fato de que o trabalho é externo ao operário, isto é, não pertence ao seu ser e, portanto, ele não se afirma em seu trabalho, mas se nega, não se sente satisfeito, mas infeliz, não desenvolve energia física e espiritual livre, mas definha seu corpo e destrói o seu espírito. O trabalhador alienou-se do trabalho porque o seu trabalho não é voluntário, mas constrito: é trabalho forçado. O trabalho não constitui satisfação de uma necessidade, mas somente meio para satisfazer necessidades estranhas, por tudo isso, o homem só se sente livre em suas funções animais (comer, dormir, beber, procriar, morar e vestir). Alienação do trabalho faz com que o operário se torne tanto mais pobre quanto maior é a riqueza que produz quanto mais a sua produção cresce em potência e extensão. O operário torna-se mercadoria tanto mais vil quanto maior é a quantidade de mercadorias que produz.

Materialismo Histórico: consiste na tese segundo a qual não é a consciência dos homens que determina o seu ser, mas, ao contrário, o seu ser social que determina a sua consciência. Isso leva a especificar a relação existente entre estrutura econômica e superestrutura ideológica. A produção das idéias, das representações, da consciência, em primeiro lugar, está diretamente entrelaçada à atividade material e às relações materiais dos homens, linguagem da vida real. Na produção social de sua existência, os homens entram em relações determinadas, necessárias, independentes de sua vontade, em relações de produção que correspondem a determinado grau de desenvolvimento de suas forças produtivas materiais. O conjunto dessas relações constitui a estrutura econômica da sociedade, ou seja, a base real sobre a qual se ergue uma superestrutura jurídica e política e à qual correspondem formas determinadas de consciência social. O modo de produção da vida material condiciona o processo social, político e espiritual da vida.

Materialismo Dialético: tudo está em movimento e, portanto, tudo é transitório. O confronto entre o estado de coisas existentes e sua negação é inevitável, e esse confronto se resolverá com a superação do estado de coisas existente. Todo momento histórico gera contradições, elas constituem a mola do desenvolvimento histórico. A dialética é a lei do desenvolvimento da realidade histórica e que essa lei expressa a inevitabilidade da passagem da sociedade capitalista para a sociedade comunista, com o conseqüente fim da exploração e da alienação.

Luta de Classe: a história de toda sociedade que existiu até o momento é a história da luta de classes. Livres e escravos, patrícios e plebeus, barões e servos da gleba, membros das corporações e aprendizes, em suma, opressores e oprimidos, estiveram continuamente em mútuo contraste e travaram luta ininterrupta, ora latente, ora aberta, luta que sempre acabou com transformação revolucionária de toda a sociedade ou com a ruína comum das classes em luta. A burguesia moderna, não eliminou em absoluto o antagonismo das classes: pelo contrário, simplificou-o, visto que toda a sociedade vai se dividindo cada vez mais em dois grandes campos inimigos, em duas grandes classes diretamente contrapostas uma a outra: burguesia e proletariado. Burguesia é a classe dos proprietários dos meios de produção, empregadores dos assalariados. Proletariado é a classe dos assalariados que não possuem os meios de produção, são obrigados a vender sua força de trabalho para viver.

Capital: a mercadoria possui duplo valor: o valor de uso e valor de troca. O valor de uso de uma mercadoria baseia-se na qualidade da mercadoria, no sentido da função de sua qualidade, satisfaz mais a uma necessidade que a outra. Valor de troca é algo de idêntico existente em mercadorias diferentes, que as tornam passíveis de troca em dadas proporções mais do que em outras. Esse valor de uso é dado pela quantidade de trabalho socialmente necessária para produzi-la. Em essência, como valores, todas as mercadorias são apenas medidas determinadas de tempo de trabalho nelas empregado. O intercâmbio de mercadorias não é tanto uma relação entre coisas, mas muito mais uma relação entre produtores, entre homens. A força de trabalho também é mercadoria que o proprietário da força de trabalho vende no mercado, em troca do salário, ao proprietário do capital, isto é, ao capitalista. E o capitalista paga justamente, por meio de salário, a força de trabalho que adquire; ele a paga segundo o valor que tal mercadoria tem, valor que é dado pela quantidade de trabalho necessário para produzi-la, ou seja, pelo valor das coisas necessárias para manter em vida o trabalhador e sua família. O operário com sua força de trabalho criam produtos que são suficientes para cobrir as despesas com sua própria manutenção (seis horas), ao passo que, nas outras seis horas suplementares, cria produto que o capitalista não paga. Esse produto suplementar não pago pelo capitalista ao operário é a mais-valia. Na mais-valia temos que distinguir o capital constante e o capital variável. O capital constante é o investido para a aquisição dos meios de produção, como o maquinário e as matérias-primas. Capital variável, investido na aquisição da força de trabalho. Abatendo o capital constante e o capital variável da mais-valia surge a figura do lucro do capitalista. O capitalista não consegue consumir totalmente o seu lucro nas suas necessidades ou atendendo os seus caprichos, assim sendo o que sobrou do lucro ele reinveste, para não sucumbir na concorrência. Para vencer a concorrência o capitalista reinveste o seu lucro no aperfeiçoamento do maquinário que gera o aumento do exército reserva.

Advento do Comunismo: a burguesia para existir e desenvolver-se, produziu o operariado que a levará a morte. O proletariado é a antítese da burguesia. Fundamentado na dialética, o proletariado fará a revolução. A produção capitalista gera a sua própria negação e a negação do capitalismo é o comunismo. Comunismo é uma sociedade sem propriedade privada e, portanto, sem classes, sem divisão do trabalho, sem alienação e, sobretudo, sem Estado. Para Marx o comunismo é o retorno completo e consciente do homem a si mesmo, como homem social, isto é, como homem humano.

Comunismo Grosseiro: no Manuscrito de 1844, Marx comenta sobre o comunismo grosseiro que não consistia na abolição da propriedade privada e sim na atribuição da propriedade privada ao Estado, o que reduziria todos os homens a proletariados. Esse comunismo grosseiro negaria a personalidade do homem por toda parte.

Referência: REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da Filosofia: do romantismo até nossos dias. São Paulo: Edições paulinas, 1991.

Pierre-Joseph Proudhon

Pierre-Joseph Proudhon (1809 – 1865). A economia burguesa tem por fundamento a propriedade privada. A propriedade privada é furto. O capitalismo não remunera o operário com todo o valor do seu trabalho. A força coletiva, resultante da força de muitos trabalhadores organizados, fornece produtividade muito mais alta do que aquela que se obteria da soma de simples trabalhos individuais e o capitalista se apropria do valor do trabalho coletivo. Quando a propriedade está organizada de modo a tornar livres uns poucos (os capitalistas) em troca da escravidão de muitos, então ela é furto. Somente o trabalho é produtivo. E o operário pode certamente se apropriar do fruto do seu trabalho.

O comunismo é intolerante, pois, é orientado para a ditadura. Quando todos os meios de produção são colocados nas mãos do Estado, então a liberdade dos indivíduos é limitada até o ponto do sufocamento, aumentando a desigualdade social ao invés de diminuí-la. Sua idéia é de que o comunismo nunca poderá respeitar a dignidade da pessoa e os valores humanos. O comunismo não elimina os males da propriedade privada, mas muito mais os leva à exasperação: no comunismo, o Estado torna-se proprietário não só dos bens materiais, mas também dos cidadãos. O comunismo pretende nacionalizar não só as indústrias, mas também a vida dos homens. O comunismo é despotismo policialesco.

Propõe novo ordenamento social, baseado na justiça, no respeito e na dignidade humana. Os trabalhadores devem ser os proprietários dos meios de produção e, portanto, tenha a possibilidade de autogerir o processo produtivo. O tecido econômico da sociedade passa a se constituir como pluralidade de centros produtores que se equilibram mutuamente.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Claude Henri de Saint-Simon

Claude Henri de Saint-Simon (1760 – 1825). A História é regida pela lei de progresso. O progresso científico deve destruir as doutrinas teológicas e aquelas idéias metafísicas que serviam de fundamento para a Idade Média. Agora, o mundo dos homens somente pode ser organizado e ordenado com base no cientificismo. É a ciência que pode predizer o maior número de coisas e o poder temporal pertence aos industriais, aos empreendedores. Os eclesiásticos são substituídos pelos cientistas e pelos industriais. Existe uma ordem de interesse que é sentida por todos os homens que são os interesses ao desenvolvimento da vida e do bem-estar. O desenvolvimento da vida e o bem-estar são as únicas coisas sobre a qual todos os homens devem deliberar e agir em comum. A política é a ciência da produção, é a ciência que tem por objetivo a ordem de coisas mais favorável a todos os tipos de produção. O poder político deve estar nas mãos dos técnicos, cientistas e produtores. Os homens só podem ser felizes satisfazendo suas necessidades físicas e suas necessidades morais. Na futura sociedade a ciência constituirá o meio para alcançar a fraternidade universal que Deus deu aos homens como regra de sua conduta. Os homens vão organizar a sociedade do modo que possa ser mais vantajoso para o maior número de pessoas. Insistiu na idéia de eliminar a propriedade privada, revogar o direito de herança.

Georg Wilhelm Friedrich Hegel

Georg Wilhelm Friedrich Hegel (1770 – 1831). O Espírito é a realidade dialética. A realidade é tudo que existe que está em eterno movimento. O movimento é a própria natureza do Espírito, assim sendo, Espírito é atividade, processo, movimento, automovimento. O Espírito se autogera, gerando ao mesmo tempo a sua própria determinação e superando-a plenamente. O Espírito é sempre ativo, realizando-se, como contínua colocação do finito e, ao mesmo tempo, como superação desse finito. O movimento dialético do Espírito nada mais poderá ser senão uma espécie de movimento circular ou movimento espiral com ritmo triádico. Cada momento do real é momento indispensável do Espírito, porque este se faz e se realiza em cada um e em todos esses momentos, de modo que cada momento torna-se absolutamente necessário. Qualquer coisa que exista ou aconteça não está fora do Espírito, mas é um seu momento insuprimível.

A consciência também é Espírito e seu movimento em relação ao outro possui três etapas. As três etapas do itinerário fenomenológico da consciência são as seguintes: primeira etapa a consciência que olha e conhece o mundo como algo diferente e independente de si; segunda etapa a consciência aprende, a saber, o que ela é propriamente, autoconsciência; terceira etapa é quando a consciência adquire a certeza de ser toda realidade, certeza de ser toda coisa, ou seja, da aquisição da unidade de pensar e ser.

O movimento da consciência em relação ao conhecimento: 1) movimento intelectivo é a faculdade que abstrai conceitos determinados, definições que são de certa forma definitiva. O intelecto apresenta conhecimento inadequado, que permanece encerrado no finito. 2) Movimento Racional: o pensamento deve ir além dos limites do intelecto e ir além dos limites do intelecto é peculiaridade da Razão, que consiste em remover a rigidez do intelecto e dos seus produtos. 3) Movimento Positivamente Racional, a síntese dos opostos, vai além dos limites do intelecto e do racional, superando aquela rigidez da própria razão, elevando-se a níveis cada vez mais altos. Esses três movimentos são geralmente indicados com os termos 1) tese, 2) antítese 3) síntese.

A natureza também é Espírito e movimenta em três níveis: 1) mecânica, que é a corporeidade universal e a exterioridade espacial. 2) a física que supera a corporeidade da massa dissolvendo nos processos magnéticos, elétricos e químicos. 3) a orgânica, na qual a natureza se interioriza e nasce a vida.

O pensamento ou argumentação também movimenta em três fases: 1) Lógica do Ser: procede em sentido horizontal, indo de um conceito a outro conceito. 2) Lógica da Essência: o próprio ser se volta sobre si e se aprofunda refletindo sobre si mesmo, buscando a origem do conceito. 3) Lógica do Conceito: descobre que a realidade é o Sujeito e descobre também o porquê, chega-se a idéia que é o conceito que se auto-realizou plenamente, vista como processo e resultado dialético.

Desde o indivíduo, mas também o mundo e tudo que está no mundo e fora do mundo percorrem essas três formas em toda a extensão. O próprio tempo percorre os três movimentos. Salienta Hegel que o próprio Espírito do mundo não teria podido alcançar a consciência de si com menor esforço, é evidente que, o indivíduo não poderá chegar a compreender a sua substância por caminho mais breve. As etapas fenomenológicas são momentos insuprimíveis e absolutamente necessários, somente através dos quais a Consciência adquire o verdadeiro conhecimento.





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Charles Fourier

Charles Fourier (1772 – 1837). É a civilização que, através do regime da livre concorrência, onde cada qual persegue o seu próprio interesse sem pensar no dos outros e da comunidade, aumenta a miséria. No estado atual, o homem está em guerra consigo mesmo, pois suas paixões chocam-se entre si. A moral atual bloqueia as paixões e gera assim a hipocrisia. Defendeu a existência dos falanstérios que deveria ser uma organização social perfeita: unidades agrícolas e industriais, nas quais as habitações seriam albergues. As mulheres equiparadas aos homens; a vida familiar abolida e as crianças educadas pela comunidade. Vigoraria a total liberdade sexual. Cada qual produziria o que lhe agradasse produzir. Para evitar a monotonia da repetitividade, cada indivíduo deveria aprender pelo menos quarenta atividades profissionais e mudar de trabalho várias vezes ao dia. As pessoas encontrariam mais satisfação no trabalho do que nas festas, bailes ou espetáculos. Devido à superabundância de produtos, não haveria o problema da distribuição.