quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Johannes Kepler

Johannes Kepler (1571 – 1630). Viveu em uma época em que agravavam as lutas entre católicos e protestantes. Kepler, embora protestante acreditava que essas lutas eram absurdas. Permaneceu na situação de liberdade e imputava as rivalidades como sendo loucura dos seres humanos, arrogância dos teólogos. No final do ano de 1600, mais de um milhão de cidadãos foram expulsos da Estíria (atualmente é uma província da Eslovênia) e Kepler escreve que nunca teria acreditado que milhares de pessoas deveriam suportar tanto sofrimento, abandonar a casa e os amigos e perder os próprios bens por motivos religiosos e em nome de Cristo. Kepler era um místico neoplatônico, para quem o Sol é o corpo mais belo e o “olho do mundo”. Levou para dentro da ciência a luneta, um instrumento que então era visto como objeto indigno dos filósofos e salienta que a luneta é importante porque amplia os horizontes da filosofia: “o sábio tubo ótico é preciso como um cetro: quem observa com ele torna-se um rei e pode compreender a obra de Deus”. Kepler foi um neoplatônico matemático que acreditava na harmonia do mundo e que a natureza era ordenada por regras matemáticas, que é função do cientista descobrir as referidas leis. Possuía a fé platônica de que uma Razão matemática divina presidia à criação do mundo. Deus é matemático. E o trabalho de Kepler consistiu precisamente em buscar as harmonias matemáticas e geométricas do mundo criado por Deus. Kepler introduziu a forma elíptica no lugar do plurissecular dogma da circularidade e uniformidade dos movimentos planetários operando uma profunda e revolucionária reviravolta no interior da própria revolução copérnicana. As órbitas dos planetas são elípticas. Kepler descreve como chegou à elaboração de suas leis: há um problema; elabora-se toda uma série de conjecturas como tentativas de solução do problema; desencadeia-se o mecanismo da prova seletiva sobre essa gama de conjecturas; descartam-se todas as hipóteses que não se sustentam ao crivo das observações; finalmente, chega-se à teoria justa.

Galileu Galilei

Galileu Galilei (1564 – 1642). Apontou a luneta para o céu. Para nós, isso parece um ato simples, razoável e normal, mas, naquela época, para a maior parte dos sábios, aponta a luneta para o céu era um ato irracional. Transformou a luneta de um instrumento sem significado científico em um elemento decisivo do saber. O acréscimo à multidão das estrelas fixas, visíveis a olho nu, de outras inumeráveis estrelas jamais vistas antes. O universo tornou-se maior. À medida que o céu ampliava, devido novos estudos, caia aos pedaços a concepção do mundo aristotélico-ptolomaica. Galileu efetuava observações importantes para o fortalecimento da doutrina de Copérnico. Descobre as manchas do Sol e demonstra que todos os planetas recebem a luz do Sol e todos os planetas são escuros. As estrelas são por si mesmas muito luminosas, não tendo necessidade da irradiação do sol. A propósito das manchas solares foi o funeral da teoria aristotélica, pois diziam que o Sol era imutável e perfeito. Galileu mostrou que as manchas solares eram decorrências das irregularidades do Sol.

domingo, 27 de dezembro de 2009

Nicolau Copérnico

Nicolau Copérnico (1473 – 1543). Quando Copérnico iniciou os seus estudos os seus contemporâneos aceitavam o sistema aristotélico como descrição verdadeira do sistema do mundo e o sistema ptolomaico como instrumento de cálculo para explicar e prever os movimentos celestes, permanecendo a idéia da imobilidade e a centralidade da Terra, a perfeição do movimento circular e a finitude do universo. Deus havia criado um universo em função do homem, colocando no centro do universo inteiro. Copérnico não aceitou passivamente o conhecimento cultural da época. Copérnico situou o Sol ao invés da Terra no centro do mundo e afirmou que a Terra gira ao redor do Sol e não o contrário. Deslocou a Terra do centro do universo e mudou também o lugar do homem no cosmos. A Revolução astrológica implicou também uma revolução filosófica. Ao deslocar a posição da Terra, também retirou o homem do centro do universo. A teoria copernicana tornou-se um centro focal das terríveis controvérsias no campo religioso, filosófico e das doutrinas sociais. O homem se libertou da ilusão de estar no centro do universo e, com ela, libertou-se também de muitos outros mitos com os quais havia tecido o seu saber. Copérnico ousou ir contra a opinião adquirida pelos matemáticos e pelo próprio senso comum.
Além dos cálculos e observações rigorosas, encontra-se em Copérnico o eco do culto solar. Por força das temáticas neoplatônicas realiza muitos cálculos e ordena muitas observações. Em Bolonha, Copérnico foi discípulo de Domenico Maria Novara, que era ligado à escola neoplatônica de Florença. Além de Novara, Copérnico havia estudado os neoplatônicos, entre os quais Proclo, e, acreditava na matemática como a chave para a compreensão do universo. Na opinião dos neoplatônicos, as propriedades matemáticas constituem as características verdadeiras, imutáveis e profundas, para além das aparências, das coisas reais.Copérnico escrevia: “Certamente, é muito grande essa obra divina do Perfeito Criador Supremo.” E sustentava que os astrônomos que o precederam, não estavam em condições de compreender nem mesmo a coisa mais importante, “vale dizer, a forma do universo e a imutável simetria de suas partes”. O Deus do platonismo e dos neoplatônicos é um Deus que geometriza: por isso, o universo é simples e geometricamente ordenado. Consequentemente, o pesquisador tem por função penetrar nessa ordem e descobri-la, bem como suas estruturas simples e racionais e sua imutável simetria. Copérnico foi grande porque teve a coragem de mudar de caminho. A teoria copernicana não ganhou de imediato muitas aprovações, nem mesmo entre os astrônomos.

sábado, 26 de dezembro de 2009

Paracelso

Paracelso (1493 – 1541). Deus cria as coisas do nada, as cria como semente nas quais desde o início está inerente a elas o objeto do seu uso e da sua função. Toda coisa se desenvolve a partir daquilo que ela é em si mesma. Arqueu é o nome dessa força que, no interior das várias sementes, estimula o seu crescimento. O Arqueu é uma força paradigmática de cada ser, ou seja, a semente de cada ser. O importante é possibilitar que o Arqueu apareça, que a própria luz da natureza surja, mostrando-se. O arqueu se mostra apenas a sua luz aqueles que sabem ver sem imagens. A natureza é mais do que nossos olhos possam captar, o invisível que pulsa através do invisível. O invisível nunca se apresenta como imagem, porque ele não é objeto, é energia viva, criativa; uma energia não-dividida. O ser humano pode movimentar a energia da natureza se possuir uma imaginação forte, pois toda natureza invisível pode ser movimentada através da energia da imaginação. A imaginação pode inclusive transformar o corpo humano, fazendo curas. Outro aspecto ensinado por Paracelso: o ser humano não deve ser dirigido por ninguém a não ser por ele mesmo.

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Cornélio Agripa de Nettesheim

Cornélio Agripa de Nettesheim (1486 – 1535). As partes do universo estão em relação entre si através do espírito que anima o mundo inteiro. Assim como uma corda estendida vibra sempre que é tocada em algum ponto, da mesma forma o universo, sendo tocado em um dos seus extremos, vibra no extremo oposto. O objetivo do ser humano consiste na dignificação. A dignificação consiste no afastamento da carne e dos sentidos e, através de uma súbita iluminação o ser humano eleva-se a virtude divina que o faz conhecer os segredos da natureza. Advertia que para o vulgo fale somente coisas vulgares e nunca as coisas superiores para não ser espezinhado por eles.

Johann Reuchlin

Johann Reuchlin (1455 – 1522). A Cabala significa tradição mística ligada diretamente à cultura hebraica. Vê o mundo fenomenal como sendo o reflexo das forças divinas. A Cabala é a ciência do divino. A Cabala é uma teologia simbólica, onde os significados estão ocultos nas letras e nos nomes. O próprio mundo fenomênico é uma simbologia do significado divino. A meditação nos símbolos Cabalísticos eleva a pessoa que está meditando ao mundo supra-sensível. Todo o universo captado pelos sentidos depende do mundo supra-sensível. O Cabalista é um sábio que procura unir-se a divindade. Salienta que a Cabala não nos permite viver nossas vidas no pó, mas eleva nossas mentes à altura do conhecimento divino.

Tomás Campanella

Tomás Campanella nasceu na Calábira no ano de 1568 e morreu no ano de 1639. O conhecimento de si não é uma prerrogativa do homem, mas de todas as coisas, que são vivas e animadas. Todas as coisas são dotadas de uma sabedoria inata, através da qual sabem que existem e são ligadas ao seu próprio ser. Esse autoconhecimento é um auto-sentir-se. Quem possui o conhecimento inato no ser humano é a sua alma. A alma conhece a si mesma com um conhecimento de presença participativa na natureza e não conhecimento objetivo. Quando se passa do conhecimento de presença na natureza para o conhecimento dos particulares ou conhecimento objetivo da natureza, começa a incerteza e a alma torna-se alienada por causa dos objetos, pois, os objetos somente se revelam parcialmente. A consciência inata que os seres humanos possuem é ofuscada pelo conhecimento que é acrescentado pela cultura, de modo que a autoconsciência consequentemente se transforma quase em um conhecimento oculto. O ser humano pode alcançar níveis notáveis de consciência em Deus se souber aprender. O ser humano deve aprender com a própria natureza. O aprender com a natureza significa tornar-se una com ela. Tornando-se um só com as coisas. Tornar-se íntimo da natureza; união com a natureza. Aprender é ser co-participativo com a natureza, sendo uma participação intrínseca com as coisas. Uma participação intrínseca e co-penetração no processo vital do todo, um saborear a suavidade da vida universal, assimilando o inteligível que há nas coisas, nos modos e nas formas. Assimilando as idéias eternas segundo os quais Deus criou tudo. Atualmente o ser humano está vivendo uma vida alienada, vivendo uma vida objetiva totalmente separada da natureza, do todo. Ampliar o nível de consciência exige a morte, a perda, pois quando ampliamos o nível de consciência adquirimos um novo conhecimento e o antigo saber morre e se perde. Toda mutação é alguma morte.


domingo, 20 de dezembro de 2009

Giordano Bruno

Giordano Bruno nasceu em 1548 e morreu em 1600. Existe uma causa ou um princípio supremo acima de tudo, ao qual ele chama também de “mente por sobre as coisas”, da qual deriva todo o restante, mas permanece incognoscível para nós. A alma do mundo está em cada coisa. Deus torna-se imanente e a vida do cosmo torna-se vida divina, ou seja, a expansão infinita da própria vida de Deus. Deus é infinito porque é tudo em tudo e, totalmente, também em toda parte do todo. Deus é a alma universal do mundo e todas as coisas materiais são manifestações deste principio infinito. Deus é força criadora perfeita que forma o mundo e que é imanente a ele. O universo é infinito e ilimitado. O universo é um sistema de mundos infinitos que nascem e decaem movidos pela divina força universal. Existiriam possivelmente inumeráveis mundos habitados. Sendo Deus, criador do mundo, sendo um ser infinito; seria contraditório que a uma causa infinita não correspondesse um efeito infinito. O universo, pois, como efeito de uma causa infinita não pode conceber-se senão como infinito.

Bernardino Telésio

Bernardino Telésio nasceu em 1509 e morreu em 1588. No ser humano existe o espírito que é uma substância material muito tênue. O conhecimento se explica através do espírito, sendo, precisamente, a percepção das sensações, mudanças e movimentos que as coisas produzem sobre ele. Existe Deus criador acima da natureza que infunde no ser humano a alma imortal. Através do espírito o ser humano conhece e prova as coisas que estão na natureza; já com a alma ele conhece as coisas divinas e tende para elas. Assim, existem no homem dois apetites e dois intelectos. Por isso, ele está em condições de entender não somente o bem sensível, mas também o bem eterno, bem como de querê-lo. O ser humano não deve sucumbir ao conhecimento do espírito. A natureza somente é conhecida pelo espírito. A natureza é autônoma explicando por si mesma. A natureza tem em si mesma os princípios de sua própria constituição e de sua própria explicação. Para conhecer a natureza o ser humano nada mais tem a fazer do que dar a palavra a natureza, confiando nas revelações que ela dá de si para o espírito humano.

domingo, 28 de junho de 2009

João Bodin

João Bodin nasceu em 1529 e morreu em 1596. O Estado para existir precisa de uma forte soberania que mantenha unidos os vários membros sociais, ligando-os como em um só corpo. A soberania deve se fundamentar na justiça e na razão. Por Estado se entende o governo justo, que se exerce com poder soberano sobre diversas famílias e em tudo aquilo que elas têm em comum entre si. Fazer de todas as famílias e de todos os círculos um só corpo. A soberania do Estado é o único laço e o único vínculo que faz de famílias, círculos, colegiados e indivíduos um único corpo perfeito. Soberania é o poder absoluto e perpétuo se materializando através das leis. Existe um fundamento natural e comum a todas as religiões e com essa base comum é possível um acordo religioso geral, sem sacrificar as diferenças.

Calvino

Jean Calvino nasceu em 1509 e morreu em 1564. Qualquer representação de Deus que não derive da Bíblia, mas sim da sabedoria humana, é produto da fantasia. A racionalidade humana deforma o verdadeiro. Os dons naturais do ser humano foram enfraquecidos pela racionalidade humana. Amplia o sentido da predestinação e da onipotência do querer divino subordinando a Deus o querer e as decisões dos seres humanos. Deus governa totalmente todo o real, a tal ponto que nada acontece sem que ele próprio o tenha determinado. Todas as criaturas, inferiores e superiores, estão no estado de obediência total a Deus. Deus governa também os corações dos seres humanos. É absurdo procurar a causa das decisões de Deus, não podemos pensar em entender a vontade de Deus. A produção de riqueza e o processo a ela ligado são representações da vontade de Deus.

Ulrich Zuínglio

Ulrich Zuínglio nasceu em 1484 e morreu em 1531. Salienta que a escritura é a única fonte de verdade. O papa e os concílios não possuem uma autoridade que vá além da autoridade das escrituras. A salvação ocorre pela fé e não pelas obras. O homem é predestinado. O pecado é o amor por si mesmo, tudo que o homem faz enquanto homem é determinado por esse amor por si próprio, sendo pecado. A conversão é uma iluminação da mente, os seres humanos que possuem confiança em Cristo tornam-se homens novos. Quando a mente humana reconhece a Deus através da iluminação da graça celeste, o homem torna-se novo. Há um sinal seguro para reconhecer os eleitos, sinal que, consiste em ter fé.

Martinho Lutero

Martinho Lutero nasceu em 1483 e morreu em 1546. O homem se justifica pela fé; as escrituras são infalíveis, sendo as únicas fontes da verdade; a necessidade do livre-exame das escrituras. Tudo o que sabemos de Deus é através das escrituras, que deve ser entendida com rigor absoluto, sem interferência de raciocínios e dos conhecimentos metafísicos e teológicos. Basta à fé para se salvar, não é necessária a obra e sim somente a fé. A fé é compreender que a salvação depende unicamente de Deus. O homem decaiu a tal ponto que, por si mesmo não pode fazer absolutamente nada para a sua salvação. Tudo que deriva do homem é ligado ao egoísmo, ao amor por si próprio. A salvação do homem depende somente da graça divina. O ser humano somente pode se salvar se compreender que não pode ser o artífice de seu próprio destino. A salvação do ser humano não depende dele, mas de Deus; enquanto o ser humano estiver tolamente convencido de que pode ser salvo por si mesmo, está se iludindo nada mais fazendo do que pecar. Não há necessidade de um intermediário entre o ser humano e Deus, entre o ser humano e a Palavra de Deus. Um cristão isolado pode ter razão contra um concílio inteiro, se estiver iluminado e inspirado diretamente por Deus, não sendo necessária uma casta sacerdotal, sendo que cada cristão é um sacerdote. O arbítrio do ser humano é se colocar como escravo de Deus.

Tomás More

Tomás More nasceu em 1478 e morreu em 1535. Defendia a ausência de propriedade privada e a comunhão dos bens. Todas as pessoas devem ser iguais entre si, não deve existir diferença de renda entre as pessoas e também não devem existir diferentes níveis sociais. O trabalho não deve durar todo o dia e sim apenas seis horas para que o ser humano tenha tempo para o lazer e as outras atividades. O ser humano deve ser pacifista, admitirem deuses e cultos diferentes aceitando toda diversidade. O dinheiro é a causa dos furtos, fraudes, assaltos, rixas, desordens, disputas, tumultos, assassinatos, traições e envenenamentos. Onde não existe o dinheiro desaparece o medo, a ansiedade, as preocupações, os tormentos e as insônias. A consciência de cada pessoa não pode ser violentada.

Niccolau Machiavelli

Niccolau Machiavelli nasceu em 1469 e morreu em 1527. Quem quer governar e não tiver um bom apoio deve escolher novas pessoas e novas autoridades, deve fazer os ricos pobres e os pobres ricos. Deve edificar novas cidades, desfazer as edificadas, mudar os habitantes de um lugar para outro, não deixar coisa nenhuma intacta. Não deve existir nada que não tenha surgido da vontade do novo poder. O ser humano não é bom nem mau, mas tende a ser mau, consequentemente quem governa não deve confiar no aspecto positivo do ser humano. O ser humano é vil, indigno de confiança, ávido, insensato, mas logo que é chicoteado se subordina ao governante. O governante não deve evitar em ser temido e não hesitar em tomar as medidas necessárias para ser temível. Virtude é astúcia, capacidade de prever, planejar, constranger, impor regras. Metade das coisas humanas depende da sorte, a outra metade depende da virtude (astúcia), no entanto, mais pode a astúcia que a sorte. Para manter uma mulher sob o seu domínio é necessário bater-lhe e espancá-la, pois, ela se deixa dominar pelos fortes do que pelos fracos, em decorrência as mulheres preferem os jovens porque são menos ferozes.

Leonardo da Vinci

Leonardo da Vinci nasceu em 1452 e morreu em 1519. Elimina dos fenômenos naturais a intervenção de forças e poderes animistas, místicos e espirituais. O espírito não possui voz, nem forma, nem força, pois, onde não há nervos e ossos não pode haver força operada e logicamente os imaginados espíritos não podem movimentar nada. Não devemos nos perder na consideração do particular, mas sim procurar compreender a lei geral que o supera e domina. A experiência é a grande mestra e que é na escola da experiência que nós podemos compreender a natureza, não através da transmissão e repetição das cópias que nos dão os livros. A sabedoria é filha da experiência. Para compreender a natureza é preciso voltar à experiência. O pensamento matemático que projeta, ou melhor, interpreta a ordem mecânica e necessária de toda a natureza. Nenhuma investigação humana pode-se considerar verdadeira ciência se não passar pelas demonstrações matemáticas. Quem censura a suma certeza da matemática enche-se de confusão e nunca imporá silêncio às contradições das ciências sofísticas, com as quais se aprende um eterno gritar.

sexta-feira, 12 de junho de 2009

Erasmo de Roterdão

Erasmo de Roterdão nasceu em 1466 e faleceu em 1536. Salienta que os filósofos elaboram inumeráveis mundos, medem o sol, as estrelas, a lua e os planetas, explicam a origem dos relâmpagos, dos ventos e de todos os outros fenômenos inexplicáveis da natureza e não apresentam hesitações, como se fossem os confidentes do supremo, mas, a natureza zomba deles e de suas elucubrações. Eles não sabem nada, mas afirmam saber tudo. Eles não conhecem a si próprios, de modo que não conseguem perceber os abismos que se abrem à sua frente. Á filosofia é conhecer a si mesmo e a reforma religiosa se resume a sacudir dos ombros tudo àquilo que o poder eclesiástico acrescenta a verdade complicando-as. Diz Erasmo: suponhamos o caso de que alguém quisesse arrancar as máscaras dos atores que desempenham o seu papel num palco, revelando aos espectadores as suas verdadeiras e reais faces. Não estará essa pessoa estragando toda a ficção cênica, merecendo ser preso como louco furioso e expulso do teatro a pedradas? Cortar as ilusões das pessoas significa mandar pelos ares todo o drama, pois o engano da ficção cênica é que encanta os olhos dos espectadores. A vida do ser humano é uma comédia, na qual cada qual está coberto por sua máscara particular e cada qual recita o seu papel, até que o diretor o afaste de cena. O diretor sempre confia ao mesmo ator ora a função de vestir a púrpura real, ora os farrapos de um miserável escravo.O ponto culminante da loucura é estar na fé. Os loucos mais frenéticos são aqueles que são finalmente aferrados por inteiro a piedade cristã. O sinal manifesto da loucura é a dissipação que fazem de seus bens para a igreja, o desconhecimento das ofensas, a resignação aos enganos, a não distinção entre amigos e inimigos. O cume dos cumes da loucura é a felicidade celeste depois da morte. Os loucos lamentam quando são curados, não querendo outra coisa senão ser loucos desse modo por toda a eternidade

Michel de Montaigne

Michel de Montaigne nasceu em 1533 e faleceu em 1592. Salienta que o ser humano deve conhecer a si mesmo e que nenhum ser humano é idêntico ao outro ser humano. Os seres humanos são diversos entre si, não sendo possível estabelecer a mesma verdade para todos. Cada ser humano constrói a sua própria verdade, a sua própria sabedoria. Saber viver significa não ter necessidade, para ser feliz, de mais nada além do ato presente do viver. O sábio vive no presente e para ele, o presente é a totalidade do tempo.

Pico de Mirândola

Pico de Mirândola nasceu em 1463 e faleceu em 1494. O ser humano, único entre as criaturas, está colocado no limite entre dois mundos, com uma natureza não predeterminada, mas sendo autoconstrutor de si mesmo. A grandeza do homem está no fato dele ser artífice de si mesmo. O ser humano não é celeste ou terreno, mortal ou imortal, pois, ele, como livre soberano artífice se esculpe a si mesmo se plasma na forma que tiver escolhido. Conforme a escolha do ser humano ele pode se degenerar nas coisas inferiores ou regenerar nas coisas superiores, que são divinas. Conforme o germe que o ser humano cultivar se tornará planta, animal racional, anjo e até mesmo se transformar em espírito uno com Deus. Quando o homem filosofa, ele ascende a uma condição angélica e comunga com a Divindade, entretanto, quando ele falha em utilizar o seu intelecto, pode descer à categoria dos vegetais mais primitivos. Afirma que os filósofos estão entre as criaturas mais dignificadas da criação.

Marcílio Ficino

Marcílio Ficino nasceu em 1433 e faleceu em 1499. Salienta que a filosofia nasce como iluminação da mente pela luz divina e o que existe é uma sucessão de graus decrescentes de perfeição. Identifica cinco graus sendo eles: Deus; Anjos; Alma; Qualidade; Matéria. Os dois primeiros graus e os dois últimos graus são distintos entre si e a alma representa o elemento de conjunção. A alma possui as características do mundo superior e pode vivificar o mundo inferior. A alma se insere entre as coisas mortais sem ser mortal, regendo os corpos e aderindo a Deus. A alma progride em ascensão na escala do amor, em constante divinização se fazendo eterna no Eterno. O ponto de partida da relação amorosa entre homem e divindade é o mundo físico, que oculta em si à luz de Deus.

Lourenço Valla

Lourenço Valla nasceu em 1407 e faleceu em 1457. Tudo aquilo que a natureza fez não pode ser senão santo e louvável; o prazer deve ser visto nessa ótica. Existe o prazer em diferentes níveis: o prazer sensível é o mais inferior; o prazer do espírito envolve as leis, as instituições, as artes e a cultura. O prazer mais elevado é o amor por Deus. Salienta que devemos abandonar toda necessidade de conhecer as coisas superiores e nos aproximar das coisas humildes. Nada importa para o ser humano do que a humildade.

Nicolau de Cusa

Nicolau de Cusa nasceu em 1401 e faleceu em 1464. Salienta que Deus contém em si todas as coisas e todas as coisas contêm Deus. Cada ser possui em si Deus, cada ser possui em si todas as coisas. Cada coisa é o microcosmo, assim sendo o ser humano é um pequeno mundo que contem em si o macrocosmo. Em todas as partes resplandece o todo, porque é parte do todo. Todas as coisas possuem uma relação com o todo que é Deus e tudo é perfeito como Deus é perfeito. A menor coisa que existe é a imagem do divino.

domingo, 17 de maio de 2009

Leon Battista Alberti

Leon Battista Alberti nasceu em 1404 e faleceu em 1472. Salienta que é inútil procurar descobrir as causas supremas das coisas, porque isso não foi concedido aos homens, que somente pode conhecer aquilo que está sob os seus olhos, ou seja, o ser humano somente pode conhecer o que é captado pelos sentidos. O ser humano não nasceu para viver na contemplação, no ócio, mas para agir e fazer obras no mundo que estamos inseridos.

Poggio Bracciolini

Poggio Bracciolini nasceu em 1380 e faleceu em 1459. A verdadeira nobreza é aquela que cada ser humano conquista na ação perante as outras pessoas. Cada pessoa deve faze a sua própria vida agindo na honestidade. O ser humano somente se torna nobre agindo na honestidade e no bem. Não devemos contentar com a glória alheia, mas cada pessoa deve ter um comportamento baseado na sua própria nobreza.

Leonardo Brunim

Leonardo Brunim nasceu em 1370 e faleceu em 1444. O período da dimensão contemplativa foi exagerado levando o ser humano afastar totalmente da realidade. O eixo do seu pensamento é que o ser humano se realiza plena e verdadeiramente na dimensão social. O bem não é abstrato e transcendente ao ser humano, mas o bem é no ser humano enquanto vive na dimensão real, na realização concreta de sua virtude. O verdadeiro parâmetro da bondade é o homem bom e quem não é bom não é sábio. O ser humano que não é bom pode captar os conhecimentos da matemática e conhecimentos físicos, mas está completamente em relação a verdadeira virtude que é vivenciar uma vida voltada para o bem social. Se quisermos a felicidade devemos ser uma pessoa boa.

Coluccio Salutat

Coluccio Salutat nasceu em 1331 e faleceu em 1406. Sustentou o primado da vida ativa sobre a contemplação. O fugir da multidão, evitar a visão das coisas belas, encerrando-se em um claustro ou segregando-se em um ermo buscando a perfeição espiritual não é correto. O ser humano não necessita fugir do mundo. Cada ser humano possui a faculdade de acolher as coisas externas ou evitá-las conforme a sua própria consciência. Basta a sua consciência não querer as coisas do mundo que automaticamente a pessoa não se envolverá com as coisas do mundo. De nada adianta buscar a solidão afastando das coisas do mundo se a mente da pessoa está apegada as coisas do mundo. O importante é a pessoa ser bondosa, vivenciar a ação no mundo servindo a si mesmo, à família, aos parentes, aos amigos, a sociedade humana e a pátria. Servir ao outro na prática dando exemplo nas obras.

Francisco Petrarca

Francisco Petrarca (1304 – 1374) salienta que ao invés de nos desperdiçarmos no conhecimento puramente exterior da natureza, é preciso nos voltar para nós mesmos, objetivando o conhecimento de nossa própria alma. No lugar de perdermos nos vazios exercícios dialéticos, nós precisamos redescobrir a nossa essência. A verdadeira sabedoria está em conhecer-se a si mesmo. Para que serve conhecer a natureza das feras, dos pássaros, dos peixes e das serpentes, mas ignorar ou não procurar conhecer a natureza do ser humano, por que nós nascemos; de onde viemos; para onde vamos. Os homens admiram os altos montes, as grandes ondas do mar, os largos leitos dos rios, a imensidade do oceano e o curso das estrelas, mas esquece-se de si mesmo. Nada é digno de admiração além da alma, para a qual nada é grande demais.

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Eckhart

Eckhart (1260 – 1328). O seu pensamento está centrado na idéia de unidade entre Deus e o homem, entre o sobrenatural e o natural. Sem Deus, o homem e o mundo natural não teriam nenhum sentido. Deus está em tudo que existe. As coisas existem porque possuem a essência divina e sem essa essência as coisas não existiriam. Deus não é o ser, mas está acima do ser. Tudo que existe, existe por obra do Ser divino, assim, as coisas e o próprio homem devem voltar para Deus. O homem deve voltar para Deus e somente retornando a Deus é que o homem se encontrará a si mesmo. O ser humano capta Deus através da alma. O ser humano para captar Deus deve se transformar em um ser livre. Livre é aquele que não se preocupa com nada e a nada se liga, não se vincula de modo algum ao seu interesse e não pensa em si mesmo nem em nada, já que se aprofunda na vontade de Deus, renunciando a própria vontade. O ser humano deve ser livre de todo desejo. O ser humano que possui Deus o tem em todos os lugares, nas ruas e entre as pessoas, da mesma forma que na Igreja, na solidão ou na cela. Se o ser humano possui Deus o possui para sempre e nada no mundo perturba tal pessoa. Assim como nada pode perturbar Deus, também nada pode perturbar o ser humano que leva Deus em todas as suas obras e em todo o lugar. O mais importante é abandonar-se a Deus.

Jean Huss

Jean Huss (1369 – 1415). Defensor da idéia de que cada ser humano está subordinado diretamente a vontade de Deus e não de uma Igreja material e hierarquizada. Crítico do luxo da Igreja e das injustiças sociais. Salientou que a verdadeira Igreja santa e católica era o corpo místico dos crentes unidos a Cristo e não a instituições visíveis, hierarquizada e corrupta.

Joh Wyclif

John Wyclif (1320 – 1384) A vontade de Deus atua de modo tão direto sobre as ações dos homens a ponto de concretizar a sua submissão absoluta e total em relação à iniciativa divina. Cada homem é súdito de Deus. Não há intermediários entre Deus e cada homem.

Existem duas igrejas: a igreja visível e a igreja invisível. A igreja visível é rica, hierarquizada, dedicada ao culto exterior, guerreira e contrapõe a Igreja invisível. A Igreja invisível é mística, formada pelos escolhidos por Deus para a salvação, sendo a pobreza é o seu símbolo. Fundamentada na interioridade do ato de fé.

A Igreja invisível nega a autoridade do Papa e do clero; nega a presença real de Cristo na eucaristia; nega a eficácia dos sacramentos e rejeita os ritos.

Marcílio de Pádua

Marcílio de Pádua (1275 – 1313) sustenta que o poder deriva do povo. O Estado é uma comunidade perfeita, natural, auto-suficiente, que se ergue com base na razão e nas experiências dos homens, lhe servido para viver e viver bem. O Estado é uma construção humana, que responde a finalidades humanas, não havendo vínculos de natureza teológica. A fé e a razão são distintas, como o são a Igreja e o Estado. A lei constitui o critério do justo e do útil no plano puramente humano e social. A lei é um mandamento coativo que está ligado a uma punição ou uma recompensa a ser atribuída no mundo. A lei não tem um fundamento divino, nem um suporte ético, nem se baseia no direito natural. A causa efetiva primeira da lei é o povo, ou seja, a coletividade dos cidadãos ou a sua parte mais importante. A lei é a vontade expressa do povo em palavras na reunião geral dos cidadãos que os atos civis humanos, sob ameaça de pena ou suplício terreno. É a lei que é soberana, não o indivíduo ou o governo, que o povo controla por meio da lei. Onde as leis não são soberanas, não há verdadeiro Estado. Soberania popular e Estado de direito são os dois pilares da teoria política de Marcílio.

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Guilherme de Ockham

Guilherme de Ockham nasceu no ano de 1280 e morreu em 1349. Salienta que a onipotência de Deus é ilimitada e o mundo é obra da liberdade criadora de Deus. Não há nenhuma vinculação entre Deus onipotente e a multiplicidade dos indivíduos finitos além do laço que brota de um puro ato de vontade criadora da parte de Deus e, portanto, não tematizável por nós, mas conhecido apenas pela sabedoria infinita de Deus. Temos um universo fragmentado em inúmeros indivíduos isolados totalmente subordinados a vontade de Deus. Deus é a causa de tudo que existe e é também a causa conservante da existência. Nada existe sem a vontade de Deus.

É através do conhecimento intuitivo (revelado por Deus) que se dá o primeiro reconhecimento de uma verdade, sendo o conhecimento fundamental, sem o qual os outros tipos de conhecimento não seriam possíveis. Nada pode ser conhecido em si pela via natural se não for conhecido intuitivamente.

A razão humana é restrita para conhecer Deus. A verdadeira função do teólogo é demonstrar a insuficiência da razão diante as verdades reveladas por Deus através da intuição.

Não precisamos ter além do necessário e devemos abandonar toda extravagância, todo peso extra, tudo o que é supérfluo. É inútil ter muitas coisas se necessitamos de poucas coisas para viver. A Igreja e seus seguidores devem despojar-se de todos os bens materiais e viver na pobreza. Propõe o abandono de tudo o que é supérfluo.

Qualquer tirania é contrária a liberdade que Deus concedeu ao ser humano. Pertence a natureza humana a capacidade de escolha exercida por meio da liberdade que é um presente de Deus e da natureza ao ser humano.

terça-feira, 31 de março de 2009

São Boaventura

São Boaventura (1217 – 1274). Ele não é contra a filosofia, mas sim contra aquela filosofia que é incapaz de captar a ligação entre o finito e o infinito, entre o homem e Deus, na concretude do nosso ser. Não rejeita o uso da razão e logicamente da filosofia, mas procura distinguir filosofia cristã e filosofia não cristã, não aceitando uma razão que, encerrando-se em auto-suficiência, nega o metafísico. Contra uma filosofia não cristã e contra uma razão incapaz de captar o mundo divino. É contrário a uma razão que considera o mundo como uma realidade totalmente profana e com leis autônomas e auto-suficientes.

Em Deus estão os modelos de tudo que existe, das mais elevadas às mais humildes. As coisas procedem de Deus e livremente criadas por Ele. Deus é artista que cria aquilo que concebeu. O mundo está cheio de sinais do divino, que é preciso decifrar, como alimento do espírito. Boaventura não separa Deus do mundo. Deus elaborou a matéria contendo os germes, assim sendo no mundo material ocorre o desenvolvimento de tudo aquilo que Deus semeou. Há na matéria o germe que dirige a sua ação para o seu pleno desenvolvimento. O mundo material apresenta-se como sendo a um templo sagrado, no qual se anuncia o mistério de Deus.

Todas as coisas criadas são imagens produzidas por Deus em seus eternos movimentos de aproximação ou elevação ao divino. Aconselha Boaventura que os seres humanos devem abandonar os sentidos e as operações intelectuais, as coisas sensíveis e as invisíveis, o ser e o não-ser e, na medida do possível se entregar confiantemente a Deus.

sábado, 21 de março de 2009

Tómas de Aquino

Tomás Aquino (1221 – 1274). Deus é ato puro, criador, fonte de todos os seres, nada escapa à sua ação. Deus é o ordenador do mundo, o mundo possui ordem e finalidade criadas por Deus. Deus é a inteligência ordenadora, causa da ordem do cosmo. Todos os seres diversificados foram criados por Deus, criados a partir do nada. A sabedoria divina dirige todos os seres para o seu fim conforme o plano divino ou providência divina que é conhecida unicamente por Deus. Tudo que existe participa de Deus. Participar de Deus significa o ato de Deus comunicar a sua perfeição aos seres.
Os seres humanos estão na condição de potências, isto é, estão em movimento em direção a perfeição. O ser humano somente pode ser levado de um nível de consciência inferior para um nível superior através do poder divino. Nenhum ser pode mover outro ser, somente Deus que é perfeição pura é capaz de operar a passagem de potência a ato através da comunicação de Sua sabedoria divina aos seres. Os seres são participados sem se tornarem parte da essência divina, é uma participação por semelhança, não por essência, é uma participação imitativa.
A analogia entre os seres e Deus nasce da participação deles na perfeição de Deus. Diante destas colocações entre os seres existem uma hierarquia de perfeição. Existem graus nas perfeições ou graduações na absorção do divino e esta absorção independe do ser e sim do próprio divino. O vínculo dos seres com Deus é íntimo, porque o que Deus comunica às criaturas é a perfeição e quanto mais perfeito é um ser, tanto mais Deus lhe é íntimo. Pela participação no ser divino, nasce entre Deus e os seres um vínculo estreitíssimo em virtude do princípio segundo o qual “tanto maior é o amor quanto mais íntimo ou mais unido ao que ama”.
Deus participa da vida de todos os seres, vive com eles, neles. Deus está tão perto dos seres que a sua presença lhes é mais íntima do que a própria presença delas. O ser humano é um sinolo, isto é, uma união de alma e corpo. A alma e o corpo constituem um todo único. Enquanto persiste a união da alma com o corpo o homem continua a viver; quando a união cessa, morre o corpo e morre também o homem, mas a alma continua a existir. A alma no corpo humano desempenha as seguintes funções: racional, vegetativa e sensitiva.

sábado, 14 de março de 2009

Escoto Eriúgena

Escoto Eriúgena nasceu em 850. Salienta que Deus é incriado, mas criador de todas as coisas. Deus é perfeitíssimo, não pode ser conhecido, pois está acima de todos os atributos. Deus é transcendente a todas as coisas e está presente em toda parte.

Logos é a sabedoria divina, na qual estão contidos os arquétipos de todas as coisas. Os arquétipos são idéias, modelos que expressam o pensamento e a vontade de Deus. As coisas que existem no espaço e no tempo são materializações do Logos, são inferiores, menos perfeitas e menos verdadeiras do que os arquétipos. Tudo que está inserido no espaço e no tempo é denominado de Natureza. A Natureza é o mundo criado e formado pelas coisas, pelo espaço e pelo tempo. A natureza é aquilo que Deus quer, ou seja, a sua manifestação ou “theophania”.

Deus ao criar a Natureza elaborou a arte criativa dialética entendida como sendo a própria estrutura da realidade no seu realizar-se em duas fazes: descendente e ascendentes: descendente é o movimento do uno ao múltiplo, e ascendente é o movimento do múltiplo ao uno, constituindo o ritmo interno da natureza e da história do mundo.

Deus é a causa e o efeito. O efeito (natureza) participa da causa e se contem na causa, assim sendo todas as coisas subsistem eternamente em Deus. Deus se pode significar pelas coisas existentes na natureza. As coisas existem porque participam de Deus e dele recebem seu ser e fora dele nada existe.

O movimento dialético da natureza conduz tudo a Deus e Deus será tudo em cada coisa, não haverá nada mais além de Deus. Não se trata de dissolução da individualidade, mas da sua conservação da forma a mais elevada. Toda natureza se assimilará em Deus sem perder sua individualidade. No movimento dialético da natureza é irreversível, pois uma vez criadas, serão um dia transfiguradas, jamais destruídas.

A partir do momento em que o ser humano iniciar um raciocínio perfeito ficará claro para ele que afirmação e negação que agora lhe parece contrária entre si, na verdade não se opõem absolutamente uma à outra, pois possuem uma natureza divina. Tudo que existe e acontece está em mútua harmonia com o pensamento divino. Alma e corpo formam uma unidade que não se opõem.

Anísio Mânlio Severino Boécio

Anísio Mânlio Severino Boêcio nasceu em Roma por volta de 480 e morreu em 526. Dizia que Deus é transcendente ao espaço e ao tempo, o tempo não existe para Deus, pois a totalidade é abarcada num único agora, atemporal e simultâneo. O passado, presente e futuro existem para Deus no agora. Deus é o agora.

A origem de toda criação, toda evolução das naturezas mutáveis derivam da imutabilidade da mente divina. O governo do mundo não está confiado à cegueira do acaso, mas a razão divina governa toda a criação através da providência e do destino. A providência é a própria razão divina que governa tudo que existe independente das diferenças. O destino é a manutenção de cada coisa estreitamente ligada à sua ordem, sendo o ordenamento de cada espécie segundo uma norma a ela apropriada.

Deus é onipotente e nada ocorre sem sua vontade e o ser humano é livre no sentido que pode escolher por um ato de reflexão o que melhor lhe aprouver dentre as infinitas possibilidades oferecidas por Deus.

Devido a onipotência, onipresença e onisciência de Deus não existe o mal, o que o ser humano denomina de mal é uma diminuição do perfeito. O ser humano no mundo está movimentando de potência a ato e o seu apego as coisas materiais é um nível de desenvolvimento que necessita ser transcendido. O ser humano no início do movimento em direção a perfeição é um ser embrutecido e infeliz. Quanto mais aproximamos de Deus somos aquecidos por Sua Luz sentido a alegria e paz e quanto mais longe estamos de Deus ficamos apegados às coisas captadas pelos sentidos e somos invadidos pela tristeza e infelicidade.

A busca da fortuna, riqueza e honras são níveis elementares de desenvolvimento que impede o ser humano de se movimentar em direção ao divino e de ver a verdadeira realidade. A fortuna, riqueza e honras possuem os seus aspectos negativos que servem para o ser humano refletir e continuar o seu movimento em direção a Deus. Para acumular dinheiro a pessoa terá que tirar de outra pessoa. Para ter elevados cargos terá que rebaixar-se e suplicar para a pessoa que pode dá-los. Para possuir honras terá que ser servil e esmolá-las. Para ter poder terá que expor a traições de quem estiver submetido. Para ter glórias terá que perder a serenidade. Para viver no prazer terá repugnância de si mesmo por ser escravo do corpo.

O mal é apenas uma aparência, pois Deus é o controlador de tudo e tudo que acontece possui uma causa transcendente boa e harmônica com o pensar divino.

domingo, 8 de março de 2009

Santo Agostinho (Patrística)

Aurélio Agostinho nasceu em 354 em Tagasta, pequena cidade da Numídia, na África. Defende o postulado da existência mundos antagônicos: a cidade celeste e a cidade terrena. O conjunto dos seres que vivem para Deus, em função da glória divina constitui a cidade celeste. A reunião de pessoas que vivem em função do mundo material, desprezando a vontade divina gera a cidade terrena. A cidade celeste é formada por seres que desapegaram totalmente do mundo material e a cidade terrena é formada por pessoas que estão apegadas as coisas do mundo. O amor dos seres que estão na cidade celeste é denominado de “charitas” e o amor das pessoas que estão na cidade terrena é o amor “cupiditas”. “Charitas” é o amor por Deus e o amor “cupiditas” é o apego a qualquer coisa do mundo material.

Deus está no interior de cada alma e Deus é a verdade, assim sendo a verdade deve ser buscada não nas coisas materiais e sim no interior da própria alma, é a alma buscando a verdade em si mesma. Deus no interior de cada alma deve ser gradativamente desvelado e neste desvelamento a alma se desenvolve. Desenvolvimento significa ampliar o nível de consciência pelo desvelamento de Deus que é a verdade absoluta. A alma busca Deus e Deus ilumina a alma que O busca. A iluminação torna visível e compreensível as verdades eternas, sendo que a iluminação é uma luz mediante a qual Deus irradia na mente humana as verdades absolutas, imutáveis. Quando o ser humano é iluminado ele se transforma até na corporeidade do seu ser. Juntamente com o modo de pensar, muda também o modo de viver. A verdade está no interior da alma humana em um nível mais profundo que o raciocínio. Transcender a si mesmo é transcender o seu próprio raciocínio e encontrar com Deus em seu próprio interior.

A alma não necessita do corpo físico para desenvolver suas atividades e somente precisa de um corpo material quando está apegada aos desejos do corpo. A alma somente desenvolve suas atividades sem o corpo quando ela conhece a si mesma descobrindo que é uma substância independente do corpo e diretamente relacionada com o divino em seu próprio interior.

O mundo material em si não é o mal sendo que o mal passa a existir em decorrência da alma se apegar as coisas do mundo. O apego as coisas do mundo ocorre devido à privação da perfeição por parte da alma, a causa do mal está no nível de consciência da alma que centra sua percepção nas coisas do mundo. O mal não é uma realidade, mas a negação da realidade divina. A culpa está na alma por afastar-se do bem supremo. Quando a alma se afasta do bem imutável e se volta para um bem particular ela peca e nisso consiste o mal. O mundo material é finito, mutável, transitório e quando a alma passa a viver em função da finitude, mutabilidade e da transitoriedade surge o mal, a culpa, o pecado.

O sofrimento do ser humano é conseqüência do apego da alma ao mundo material. O apego da alma ao mundo das dimensões materiais provoca os temores, desejos, ansiedades. A alma ligada ao mundo material está sempre atormentada porque sempre está perdendo alguma coisa que julga sua, está sempre aflita para conseguir sempre alguma coisa a mais do que possui, encoleriza-se, quando ofendida. A alma prisioneira dos sentidos e do mundo físico está sempre envolvida com a inveja e com uma infinidade de paixões, e tudo isto por ter abandonado a sabedoria.

sábado, 28 de fevereiro de 2009

Maniqueismo

Mani (Manes ou Manchaeus), nascido na Pérsia, atual Irã, no século III. Possui uma visão dualista segundo a qual o mundo está dividido em duas forças: a força da luz e a força das trevas como entidades antagônicas. O Reino da Luz e o Reino das Trevas estão em permanente conflito. O mundo material (trevas) não pode ser definitivamente destruído, porque é um princípio da realidade cósmica. A vida terrena sempre será dolorosa e radicalmente perversa. É dever de cada ser humano entregar-se a esse eterno combate para extinguir em si e nos outros a presença das Trevas para alcançar o Reino da Luz, que é o Reino de Deus. O verdadeiro combate está no interior do ser humano entre o apego ao mundo e o desapego a tudo que é material, inclusive o apego ao próprio corpo, assim sendo, no interior do ser humano duas almas ou duas inteligências, uma da luz e a outra das trevas, lutam entre si no corpo do homem. A vitória da luz sobre o mundo material é conseguida por cada pessoa com o pleno desapego do reino das trevas. No maniqueísmo, o viver na luz implica uma vida de total desapego, castidade, renúncia a família, alimentação especial (não se alimentar de nenhuma espécie de carne). A alma deve afastar-se o máximo da matéria para retornar ao reino da luz, pois é o corpo e o mundo material que aprisiona a alma. A alma apegada ao corpo e ao mundo material, depois da morte retorna ao mundo material para outra existência, em outro corpo. Os constantes nascimentos nos corpos continuam até o momento em que a alma desapegar totalmente da dimensão terrena entrando no reino da Luz.

Fílon de Alexandria

Fílon nasceu em Alexandria entre 10 e 15 a.C. Salienta que Deus criou o cosmo inteligível (as Idéias) como modelo ideal. O cosmo inteligível é o Logos. Existe uma distinção entre Deus e o Logos. O Logos é o filho primogênito do Pai incriado, Deus segundo, Imagem de Deus. O Logos é uma realidade incorpórea, meta-sensível. O Logos cria a matéria do nada e depois imprime a forma sobre ela fazendo surgir o universo material. O criador do universo material é o Logos.

A respeito do ser humano salienta que é constituído por três partes: 1) corpo. 2) alma-intelecto. 3) Espírito proveniente de Deus. O corpo é puramente animal. A alma-intelectiva é corruptível e mortal no sentido que é intelecto terreno, é considerada pobre sem o Espírito divino. O Espírito é a dimensão superior, divina e transcendente. A alma-intelecto mortal torna-se imortal à medida que Deus lhe dá o seu Espírito, ela se vincula ao Espírito e vive segundo o Espírito. A alma-intelecto não é imortal, mas pode se tornar imortal à medida que absorve o Espírito. Deus se dá a nós no preciso momento em que a alma-intelecto reconhece a sua própria nulidade. A glória da alma é ultrapassar o corpo físico, superar os limites da alma-intelectiva e vincular-se a Deus. A felicidade consiste na transcendência do humano para a dimensão do divino. Viver para Deus ao invés de viver para si mesmo. A vida vence a morte no momento em que a alma-intelectiva absorve o Espírito.

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Proclo

Proclo nasceu em Constantinopla no ano 410 e morreu em 485 d.C. Toda criação é constituída de três momentos: 1) a manência é o Uno que permanece como é. 2) a processão que é o sair da manência, uma multiplicação de si, aquilo que procede é semelhante aquilo do qual; a dessemelhança consiste no fato de ser o produtor mais potente que o produto. 3) o retorno: as coisas derivadas têm uma afinidade com suas causas e aspiram a manter-se em contato com elas. O processo triádico é pensado em termos de círculo, não no sentido da sucessão de momentos, como se houvesse uma distinção cronológica de antes e depois entre manência, processão e retorno. O produto permanece na causa no mesmo momento em que dela procede, pelo motivo de que o proceder não é um separar-se. Toda realidade em todos os níveis é constituída da forma e matéria, assim sendo tudo que existe é constituído dos dois elementos (forma e matéria).

Plotino

Plotino (205 – 270), natural de Licopólis, Egito. Foi discípulo de Amônio Sacas por 11 anos. O objetivo da vida é libertar-se do mundo material para reunir-se ao divino e poder contemplá-lo, até o ponto culminante de uma transcendente união mística. Suas últimas palavras resumem sua filosofia: “Procurai conjugar o divino que há em vós com o divino que há no universo”.

Deus é absoluta liberdade criadora, causa de si mesmo, aquilo que existe em si e para si, o transcendente a si mesmo. É o centro e em torno dele, um círculo que irradia o esplendor que emana daquele centro. Em torno do centro e do primeiro círculo, outros círculos: luzes da luz. O divino é o fogo que emana calor, a substância odorosa que emana perfume, um centro que se expande pouco a pouco através de círculos concêntricos. O divino é destituído de forma, mesmo da forma inteligível. Não é nem substância, nem quantidade, nem pensamento, nem alma; não se move nem está em repouso, não está em um lugar. Sem forma, transcendendo toda forma, todo movimento e todo repouso. O divino é inefável, não podendo ser exprimido por palavras. É inominado porque não sabemos dizer nada a seu respeito. Falamos a respeito do divino somente para o nosso uso. Não podemos pensá-lo.

As coisas procedem do Uno pelo processo de emanação, pois a emanação deixa intata a unidade do Absoluto, porque as coisas procedem dele sem que ele o saiba, sem subtraírem nada de sua perfeição. Todas as coisas brotam do divino como de uma fonte. Procedendo as coisas do Um por emanação e não por criação existe certa ordem: primeiro as mais perfeitas, depois as menos perfeitas. A primeira emanação é a Inteligência ou Nous, a única realidade que tem origem imediata no Um. Da inteligência procede a Vida; da Vida, a alma universal e da alma universal a alma de cada homem. A última emanação que procede do Um é a matéria. Esta é a emanação mais pobre e imperfeita. A matéria é boa porque procede do Um e é má porque está no limite mais baixo e distante da emanação. A matéria é má porque está privada da perfeição do Um. A matéria, como última emanação, é um quase-nada.

A alma pode voltar-se para a matéria ou voltar-se para o Um. As etapas do retorno da alma ao Um são três: ascese, contemplação e êxtase. Ascese é a alma desapegar-se do domínio da matéria. Contemplação é ter consciência de ter em si o Um. Êxtase é a união mística com o Um não havendo mais nada entre a alma e o Um, já não há dois, mas Um. No êxtase a alma se vê exaltada e preenchida pelo Uno. A frase que resume o processo do êxtase é o despojar de tudo preenchendo-se de Deus. Diz Plotino: “Tu te acresces a ti mesmo, depois de ter jogado fora o resto: depois de tal renúncia, o Todo se te faz presente; mas, se faz presente para quem sabe renunciar”. A alma pode subir até ele e a ele reunir por sua força e capacidade natural, desde que a alma queira se unir a ele. Êxtase é eliminação de alteridade, separação de tudo aquilo que é terreno.

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

O Pensamento Grego

Analisando as colocações dos filósofos gregos encontramos quatro arquétipos de discursos: teológico, materialista, autoreferencial e niilista.

O pensar teológico possui dois vieses: dualístico e unitário. O viés dualístico é representado por Sócrates, Platão e Cínicos onde defendem a existência de um mundo corruptível em oposição ao mundo incorruptível. São pessoas que procuram afastar das coisas materiais e passam pela vida buscando o metafísico. O viés unitário é explicado por Aristóteles e pelas colocações dos estóicos: o mundo é movimentado por Deus em direção a perfeição. Tudo que existe é uma manifestação da vontade de Deus. São pessoas que vivem no mundo material ciente que estão em determinada etapa de evolução em direção a perfeição.

O arquétipo materialista é representado pelos epicuristas invalidando todo pensar metafísico. A verdade somente é captada pelos sentidos humanos. O ser humano materialista centra sua preocupação apenas no mundo físico desconsiderando qualquer colocação que transcenda o mundo dimensional.

O arquétipo autoreferencial é sustentado pelos sofistas e pelos ecléticos: cada ser humano elabora sua própria verdade se fundamentando no que é útil para si mesmo ou escolhe a melhor reflexão sabendo que suas representações não passam de probabilidades. São pessoas que partem do pressuposto que todas as teses e pensamentos são originados do próprio ser humano tendo por fundamento as suas próprias necessidades.


O niilismo é a tese defendida pelos cépticos: nada sabemos e nada entendemos. Os niilistas são pessoas indiferentes a tudo que os envolvem não elaborando nenhuma indagação.

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Os Sofistas

Os sofistas iniciaram o seu movimento no século V a.c na Grécia O único critério verdadeiro é aquele que cada ser humano elabora para si mesmo; tal como aparece para uma pessoa é a verdade para a referida pessoa. Tudo que o ser humano conhece é arquitetado por ele mesmo. Nenhum ser humano está no erro, mas todas as pessoas estão com a sua própria verdade. Em torno de cada coisa o ser humano pode elaborar uma reflexão que afirma a veracidade da coisa e uma reflexão que nega a verdade da referida coisa, sendo que estamos no universo da relatividade. Não existe verdade absoluta e valores morais absolutos, existe apenas o que é mais lógico para cada pessoa. O bonito, o feio, o certo, o errado são valores relativos, pois cada ser humano constrói os seus próprios valores.

Diante da possibilidade de alcançar uma verdade absoluta os sofistas se fundamentam apenas na utilidade, sendo verdadeiro aquilo que é útil para a pessoa. Toda tese é verdadeira desde que seja útil para a pessoa e não é verdadeira se for inútil para a pessoa. Podemos dizer que a verdade está na transgressão das leis elaboradas pelo ser humano desde que seja útil para minha pessoa defender tal colocação. Podemos não acreditar nos deuses ou podemos acreditar sendo que nossa crença depende da utilidade que ela possui especificamente para nós. O útil para o ser humano é aquilo que lhe proporciona prazer, assim sendo o fim supremo da vida é o prazer. Se o ser humano sente prazer em rezar ele deve rezar, se ele sente prazer em ler deve se dedicar a leitura, se sente prazer no sexo deve praticar sexo. Para os sofistas o útil se confunde com o prazer. Todo conhecimento, toda utilidade e todo tipo de prazer varia de indivíduo para indivíduo.

Diante do postulado sofista o ser humano deve saber elaborar uma crítica bem fundamentada e saber organizar a sua própria reflexão, no entanto deve ter consciência que o referido conhecimento não reproduz fielmente a realidade das coisas. Não existe verdade absoluta; o ser humano elabora a sua verdade conforme o seu interesse.

Ecletismo

A partir do século II a.C., surge o ecletismo na Grécia que é uma atitude filosófica que procura reunir o que existe de melhor dos diversos sistemas existentes. Os ecléticos salientam que não temos um critério que nos leve a verdade, mas podemos atingir a probabilidade, podemos aproximar da verdade com a evidência da probabilidade. O provável passa a ser para nós o verdadeiro sabendo que é apenas o provável. O provável permite o ser humano elaborar memória, valorizar uma determinada experiência, cumprir determinada ação, propor algum tipo de argumento. As várias colocações dos grandes pensadores devem ser analisadas e encontrar argumentos prováveis para sustentar os nossos pensamentos e ações. O ser humano deve reunir o que existe de melhor segundo o seu próprio olhar e elaborar visão de mundo consciente que sua representação é apenas uma probabilidade.

Os Cépticos

No início do século IV AC., surge na Grécia o movimento denominado cepticismo que elabora um novo modo de pensar. O que realmente existe é inatingível pelo conhecimento humano. Os sentidos e opiniões não podem dizer nem o verdadeiro nem o falso. As coisas em si são sem sentido e logicamente a razão é incapaz de atingir a verdade. Nada em nosso universo possui sentido e vivemos sem saber o que é certo ou errado. A única atitude do ser humano é não ter nenhuma fé nos sentidos e na razão, permanecendo sem opinião, sem julgamento, sem, agitação e totalmente indiferente. Suspender qualquer tipo de conhecimento porque nada é evidente. Não existe nenhum critério de verdade. Os nossos pensamentos, as nossas sensações e as nossas representações, todas as coisas que existem são ilusões. Não existe nenhuma verdade. Tudo que sabemos e conhecemos é apenas uma probabilidade de existir. O ser humano não sabe se a verdade existe porque ele é um ser inacabado e por ser inacabado não conhece a verdade. Anula toda possibilidade do ser humano em saber alguma coisa e logicamente de elaborar qualquer indagação. Na vida prática o ser humano deve viver sem opinião e sem indagação.

domingo, 22 de fevereiro de 2009

Estóicos

No fim do século IV a.C. surge em Atenas à escola dos estóicos. Os estóicos defendem dois princípios na natureza: o corpo e a forma. O corpo é a matéria, substância sem qualidade, princípio passivo. A forma é a razão divina, o Logos, Deus, o princípio ativo. O Logos é eterno, criador de todas as coisas no processo da matéria. O princípio ativo é Deus, sendo inseparável da matéria. Deus está em tudo e Deus é tudo. Deus coincide com o cosmos. O universo inteiro é como um único grande organismo, no qual o todo e as partes se harmonizam. Todas as coisas estão em correspondência uma com a outra e em correspondência com o todo. Tudo que existe é produzido pelo divino imanente, que é o Logos, inteligência e razão, tudo é rigorosa e profundamente racional. Tudo é perfeito e a própria matéria é o veículo de Deus, tudo possui um significado preciso, tudo é perfeito no esboço do todo. Tudo depende do Logos imanente, tudo é necessário.

O Logos também possui um corpo porque o que não tem corpo não pode agir sendo constituído de uma matéria especial, sutilíssima que pode penetrar em qualquer coisa existente. O Logos irradia a sua força sobre a matéria na forma de sementes ou germes dando origem aos indivíduos, portanto o homem é constituído de corpo e alma, a qual é um fragmento do Logos ou da Alma Cósmica. As vibrações que chegam aos sentidos do corpo físico dependem dos próprios objetos. Quando estas vibrações chegam aos sentidos à alma pode aceitar ou negar estas vibrações. Quando as vibrações são negadas elas são nulificadas para a pessoa, pois não são captadas pelos sentidos. As vibrações aceitas são denominadas de cataléticas e estas formam representações que são o nosso único critério de verdade e elaboram a realidade que estamos inseridos. Quem toma a posição de receber ou recusar as vibrações é o logos que está no interior do corpo como alma.

Na ação que o Logos exerce sobre a matéria tem por finalidade a perfeição do cosmo sendo conseguida lentamente através de um processo de evolução. O Logos leva o mundo a um grau de perfeição cada vez maior.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

O Materialismo Epicurista

Os epicuristas salientam que a ciência existe devido ao medo que o ser humano possui da morte e da própria natureza. Se não tivéssemos medo da natureza e da morte não existiria ciência. A ciência e a metafísica nasce do medo do desconhecido. Quanto maior o medo do desconhecido maior é a busca metafísica e pelos conhecimentos físicos.

A tese defendida pelos epicuristas é a seguinte: A realidade é composta pelos corpos e o vazio. Os corpos são fatos reais porque são captados pelos sentidos e o espaço é também uma coisa real porque existe o movimento dos corpos e podemos ver o movimento dos corpos. O vazio é justamente o espaço e no espaço ou vazio os corpos movimentam. Se não existisse o espaço os corpos não movimentariam. A realidade é infinita no sentido da existência de infinitos corpos e o espaço também é infinito, isto é, o vazio possui uma extensão infinita.

Os corpos podem ser compostos ou indivisíveis. Os corpos compostos são formados por dois ou mais átomos e os corpos indivisíveis são formados por um só átomo. O átomo é um corpo indivisível e existem diferentes formas de átomos. As diferentes formas dos átomos não divergem no aspecto qualitativo, sendo que todos os átomos são iguais em sua constituição mudando apenas de forma. As formas atômicas são diversas e numerosas, mas não infinitas, no entanto a quantidade de átomos existentes é infinita. Todos os átomos são indivisíveis. O princípio primeiro das coisas são os átomos e todas as coisas existem devido ao movimento dos átomos.

Os átomos movem no vazio e podem desviar-se da direção vertical sendo um desvio espontâneo que dá origem as coisas. Sem o desvio nenhum átomo poderia encontrar-se com outro e dar origem a um primeiro conglomerado: cada átomo cairia eternamente ao lado do vizinho. O movimento de queda dos átomos é tão veloz quanto o pensamento no espaço infinito, devido ao peso dos átomos. O movimento dos átomos para baixo no espaço é igual para todos, quer sejam pesados, quer leves. Podendo desviar-se da linha reta, quando caem, os átomos podem tomar várias direções, e assim não é possível calcular com exatidão e antecedência qual a direção que tomarão.

Existem infinitos mundos e alguns são iguais aos nossos e outros totalmente diferentes do nosso. Todos os mundos nascem e dissolvem. Em cada instante existem mundos que nascem e mundos que morrem. Na constituição do universo não existe nenhuma inteligência, nenhum projeto e nenhuma finalidade sendo tudo casual e fortuito. Não existe nenhum ordenamento colocando ordem no universo. Não existe nenhuma inteligência superior que elaborou o universo.

O homem é feito de átomos pesados (o corpo) e de átomos leves (a alma). O homem morre quando os átomos leves se separam dos pesados. A alma sendo um agregado de átomos não é eterna e sim mortal, pois todo composto atômico é suscetível de dissolução.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Epicurismo

O epicurismo surge na cidade de Atenas por volta do fim do século III a.C. A escola epicurista centra o seu ensinamento na felicidade, mas uma felicidade no plano material através do corpo físico, negando todo tipo de transcendência. Os epicuristas buscam a felicidade no plano natural e negam a paz interior fundada no desligamento do mundo material.

A filosofia epicurista ensina que para atingir a felicidade o ser humano somente precisa de si mesmo. A cidade, as instituições, a nobreza, as riquezas e os deuses não possuem nenhuma relação com a felicidade, pois, para obter a felicidade o ser humano deve saber que todas as pessoas são totalmente independentes.

A igualdade entre os seres humanos está justamente que todos possuem o direito de adquirir a felicidade seja uma pessoa rica ou pobre, intelectual ou não intelectual, livre ou não livre, homens e mulheres. A verdade está naquilo que captamos pelos sentidos e os sentidos são os mensageiros da verdade. A respeito da alma defendem a tese que as almas são mortais e constituídas de átomos. A essência do homem sendo material a sua felicidade também tem que ser material. A felicidade é o prazer e o prazer é ausência de dor no corpo e ausência de perturbação na alma.

Os epicuristas buscam a felicidade do corpo satisfazendo os prazeres naturais e necessários, limitando os prazeres naturais que não são necessários e finalmente não buscando os prazeres não naturais e não necessários. Os prazeres naturais estão estreitamente ligados à conservação da vida do indivíduo. Comer apenas quando se tem fome, beber quando se tem sede, repousar quando se está cansado e assim sucessivamente. Eles procuram excluir o desejo sexual, porque é fonte de perturbação. A riqueza está em ter comida para saciar a fome, a água para eliminar a sede e abrigo para o descanso do corpo. A verdadeira riqueza é a vida e para manter a vida precisamos de muito pouco.

As pessoas que estão envolvidas na vida política esperam poder, fama e riqueza que são prazeres vazios, enganadores e ilusórios. Um dos lemas epicurista é se livrar da vida pública, das ocupações cotidianas e da política. O ser humano para ser feliz deve se afastar da multidão, viver oculto. A felicidade não está nas coroas dos reis e dos poderosos da terra, mas em uma vida simples satisfazendo as necessidades primárias do corpo.

A morte para os epicuristas é a dissolução total da alma e do corpo, a consciência e a sensibilidade cessam totalmente, nada restando depois da morte.

O epicurista era uma pessoa materialista vivendo uma vida simples, afastada da multidão e satisfazendo apenas as necessidades básicas.

domingo, 15 de fevereiro de 2009

Cinismo

O cinismo desenvolveu no mundo grego no século III a.C. O objetivo do ser humano cínico é conseguir a paz interior que não depende de fatores externos como o luxo, o poder político e a boa saúde. A paz interior é conseguida a partir do momento em que o ser humano consegue desapegar das coisas efêmeras. A paz interior é atingida quando o ser humano transcende a busca pelas coisas exteriores, quando ele se situa além da moral, da pobreza e da riqueza. Considera inútil todo conhecimento produzido pelo ser humano sendo útil somente a paz interior. A paz interior exige um pensar totalmente anticultural. O cínico vive sem meta cultural, sem necessidade de moradia e sem o conforto oferecido pelo progresso.

A paz interior gera o ser humano livre, um ser humano liberto de todas as necessidades humanas e sem qualquer tipo de prazer corporal. A busca pelo prazer corporal elimina a possibilidade da paz interior e logicamente a pessoa deixa de ser livre tornando o ser humano escravo das coisas que o proporciona prazer. Qualquer tipo de relação sexual, seja ela no casamento ou fora do casamento, não é aceito pelo cinismo.

O ponto culminante do cinismo é o estar em constante paz interior que é uma paz que se origina da alma de cada ser humano. O ser humano estando em paz interior se alimenta quando recebe alimento de outra pessoa, dorme quando sente vontade de dormir e para dormir deita-se onde estiver sem precisar de uma casa.

O cínico não está apegado a uma cidade, ao Estado ou a uma Nação, onde ele estiver é a sua casa. O chão de terra que pisa é o bastante para ele viver em paz interior. A pobreza e a obscuridade é o maior bem para o ser humano que busca a paz interior.

A paz interior é diretamente proporcional ao desligamento dos prazeres, o abandono da riqueza, a eliminação do desejo por ter qualquer tipo de poder, fama e sucesso. A paz interior coloca o ser humano totalmente apático ao mundo material inclusive ao próprio corpo. O cínico é um ser humano que vive sozinho, pois, a paz interior o basta.

Platão e Aristóteles

Não resta dúvida que Platão e Aristóteles foram pessoas responsáveis pela sinalização de dois modelos ou arquétipos de reflexão, assim sendo, pretendemos mostrar as divergências básicas entre os dois filósofos.

O pensar de Platão apresenta uma dualidade nítida entre o mundo metafísico e o mundo físico. O nível físico é desprezado e colocado como sendo a causa de todos os defeitos e apegos. O objetivo da vida é justamente voltar ao universo metafísico através do total desapego as coisas do mundo. No universo ontológico existe a eternidade que é constituída de formas imutáveis, sendo o verdadeiro mundo da alma, o mundo para onde a alma deve regressar. A paz da alma está justamente no voltar ao seu mundo original desprezando totalmente o mundo captado pelos sentidos. O universo ôntico é formado pelas coisas passageiras, sendo o mundo da obscuridade e sem nenhum valor. O campo ôntico aprisiona a alma. Podemos dizer que a síntese do pensar de Platão está no desligamento da alma do corpo humano e do mundo obscuro que é o espaço das coisas captadas pelos sentidos.

O pensar de Aristóteles se opõem a dualidade platônica não sendo o mundo físico o campo da obscuridade. O reino inanimado, vegetal e animal são movimentados por Deus formando a alma vegetativa e sensitiva. A partir do momento em que existe uma estrutura humana ela recebe a alma intelectiva que no primeiro momento se volta para a reflexão do mundo dos seres humanos e posteriormente a alma intelectiva elabora a reflexão metafísica procurando unir-se a Deus. Existe, portanto, um movimento do ser-em-potência para o ser-em-ato, ou seja, um movimento do ser simples para um ser complexo. O ser complexo torna-se uno com Ser Supremo. O mundo inanimado, vegetal, animal e humano possui um propósito de entrar na linha evolutiva em direção a Deus. Existe uma linha de desenvolvimento no planeta Terra que se inicia no reino inanimado e culmina na alma intelectiva metafísica refletindo as características do divino. Tudo se movimenta em direção a perfeição, em direção ao Absoluto que é Deus.

Concluímos que o pensar de Platão leva o ser humano a romper com o mundo; o pensar de Aristóteles não impõe o rompimento com o mundo e sim um movimento natural orquestrado por Deus onde a esfera material é necessária ao processo de desenvolvimento.

Aristóteles

Aristóteles nasceu em 384 a.C e faleceu em 322 a.C sendo considerado o último filósofo grego. Salienta que Deus coloca em marcha todos os movimentos da natureza sendo Ele o primeiro impulsor. O primeiro impulsor não se movimenta, mas é a causa primordial de todos os movimentos da natureza. Deus é inteligível, imóvel, privado de potencialidade, ato puro, inalterável e impassível.

Deus movimenta todo o processo da natureza das coisas inanimadas para as criaturas vivas, assim sendo, por trás de tudo na natureza existe um propósito, uma finalidade. O reino das coisas inanimadas é movimentado para o reino das plantas que é movimentado para o reino dos animais e posteriormente para o reino humano. O ser humano para chegar à condição de humano passou pelo reino vegetal e animal, possuindo uma alma vegetativa, uma alma sensitiva.

A alma vegetativa governa as atividades biológicas do corpo e preside a reprodução; a alma sensitiva é a capacidade de sentir; não existe sem o corpo e elabora desejos. Existe também a Alma intelectiva que vem de Deus sendo transcendente a alma vegetativa e sensitiva possuindo uma dimensão meta-empírica. A alma intelectiva embora não sendo Deus reflete as características do divino, vivendo em harmonia com Deus não se misturando com a alma vegetativa e sensitiva.

A alma intelectiva tem dois aspectos, ou seja: sabedoria e sapiência. A sabedoria é o voltar-se para as coisas mutáveis da vida centrando-se em deliberar de modo correto acerca daquilo que é bem ou mal para o ser humano limitando-se a pensar coisas humanas e mortais, já que o homem é mortal. A sapiência é voltar-se para as realidades imutáveis, ou seja, aos princípios e às verdades supremas. Através da sapiência o ser humano alcança a felicidade máxima, quase uma tangência com o divino. A metafísica é uma atividade da sapiência ultrapassando o mundo empírico para alcançar uma realidade meta-empírica, ou seja, Deus.

A alma é sinônimo de ser e temos o ser-em-potência e o ser-em-ato. O ser-em-potência em relação ao ser-em-ato pode ser considerado não-ser, mais precisamente, não-ser-em-ato. A potência é condição inicial que não está completamente desenvolvida e ato é estado final, acabado e realizado. O ato é também chamado de enteléquia que significa realização, perfeição concretizada em Deus. O ato é o modo de ser das substâncias eternas. O movimento é a passagem de potência para ato e todas as almas estão em movimento, movimentadas de potência para ato. O movimento da alma é a sua passagem de alma vegetativa, para alma sensitiva e para alma intelectiva. Tudo se movimenta em direção a perfeição, em direção ao Absoluto que é Deus. O mundo se produziu tendendo para Deus, atraído pela perfeição, nunca é caótico.

Existe uma hierarquia de almas ou seres indo do ser-em-potência ao ser-em-ato formando esferas. Cada esfera é movida pela esfera hierarquicamente superior e as esferas possuem múltiplas e diferentes realidades. No nível da esfera que denominamos Terra, tudo que existe é composto de substância e forma. A substância é a matéria que é a coisa com capacidade de receber a forma, ao passo que a “forma” é a característica peculiar de cada coisa, é a forma na matéria. A matéria tornar-se algo de determinado somente se receber a determinação por meio de uma forma. Quando a substância deixa de existir a “forma” também deixa de existir. A única coisa que resta depois do desaparecimento da “forma” é a substância que não possui nenhuma relação com a coisa ou com a “forma”. Sinolo é a união da matéria com a forma organizada pela alma vegetativa, sensitiva e finalmente pela alma intelectiva. A alma enforma a matéria e funda o sinolo.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Platão: os dois mundos antagônicos

Marcos Spagnuolo Souza

Os ensinamentos transmitidos por Platão mostram a existência de dois mundos totalmente antagônicos, o mundo da escuridão ou ôntico e o mundo da luz ou ontológico. O mundo da escuridão é captado pelos sentidos existentes no corpo humano. Para viver no mundo ôntico somente é possível através dos sentidos que produzem um falso conhecimento (doxado). O saber ôntico é um conhecimento sem nenhum valor por ser doxa, ou seja, fundamentado na ignorância. O mal é justamente o mundo material, o corpo humano, os sentidos físicos, o viver em um mundo onde tudo é passageiro e ter um conhecimento baseado nos sentidos do corpo material. Platão coloca o mundo ôntico sem nenhuma utilidade. O viver de modo falso se configura em todas as atividades dirigidas pelos sentidos vivenciando a natureza material. O mundo ontológico ou celeste é captado somente pela alma. Diante destas colocações a ética se restringe no movimento da alma em sua busca constante do mundo das idéias (hiperurânio) se afastando ou fugindo do corpo, dos sentidos e do mundo material. O desejo intrínseco da alma é afastar de tudo que é passageiro, mutável e não verdadeiro passando a contemplar a verdade e a perfeição. Não existe conciliação entre o mundo material e o mundo espiritual, são dois planos completamente antagônicos. A alma presa no mundo material e controlada pelos sentidos está em constante sofrimento, sendo que a única maneira de viver plenamente a paz está na harmonização com o plano invisível ou natureza não física.

Platão: a caverna

Marcos Spagnuolo Souza

Platão ensina que existem dois universos totalmente diferentes. O primeiro universo é eterno sendo denominado de universo da “forma”, o segundo universo não é eterno sendo denominado de universo das sombras ou da escuridão. O ser humano também é constituído de duas estruturas: uma estrutura eterna denominada de alma e outra estrutura denominada de corpo que pertence ao universo da sombra. O nascimento é quando a alma é jogada para a terra, especificamente para dentro de um corpo físico e neste momento a alma esquece de sua eternidade e do mundo da “forma”. Todo o conhecimento que o ser humano possui do mundo da obscuridade é denominado “doxa” e quando vive em função do conhecimento adquirido no mundo material a pessoa possui a condição de “doxado”. Platão diz que a alma esqueceu da sua origem, no entanto, no seu interior está oculta a reminiscência do seu mundo original e quando ela recorda de sua verdadeira condição ela regressa para o mundo eterno. O ato da alma recordar é denominado por Platão de “anamnesis”. A partir do momento em que a alma inicia o seu processo de “anamnesis” o seu conhecimento é denominado de “épisthéme” ou verdadeiro conhecimento passando a ser um sábio. Platão utiliza a simbologia de uma caverna escura para definir o mundo material,o mundo do corpo físico, o mundo não eterno, o mundo da doxa, ou seja do conhecimento falso. Salienta que os doxados estão presos no interior de uma caverna escura vivendo uma vida medíocre acreditando que estão vivendo uma existência real. Salienta Platão que o mundo da “forma” o mundo verdadeiro e real está fora da caverna, sendo necessário as pessoas saírem e vislumbrarem a eternidade, deixando a condição do doxados para se transmutarem em sábios que possuem o conhecimento verdadeiro. O maior problema é que os doxados estão totalmente apegados aos conhecimentos falso e não aceitam a possibilidade da existência do universo da “forma” o universo eterno e verdadeiro. Os doxados estão tão apegados ao corpo físico que negam inclusive a existência da alma eterna. Mesmo que um sábio que tenha vivência no mundo da “forma” converse com os doxados sobre o verdadeiro conhecimento eles não aceitam, estão cegos e cegos continuarão a viver no fundo da caverna, no universo das sombras.





quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Platão: o mundo da idéia

Marcos Spagnuolo Souza

Platão é um filósofo Grego que nasceu em 427 a. C e morreu em 347 a.C. Salienta que existem coisas eternas e coisas não eternas. As coisas eternas existem para sempre e as coisas não eternas são passageiras. Platão denomina as coisas eternas de “forma”. A forma é um modelo abstrato, a partir dos quais todos os fenômenos são formados. A forma é o mundo espiritual onde tudo existe eternamente e a “forma” possui também o nome de “idéia”. A alma existe no mundo da “forma” ou no mundo da “idéia”. No mundo da “idéia” estão as imagens primordiais, eternas e imutáveis que não são conhecidas através dos sentidos. Contrapondo ao mundo da “forma” existe o mundo da relatividade, das coisas passageiras e mutáveis que é o universo material incluindo o nosso próprio corpo físico. As coisas não eternas são captadas pelos sentidos do corpo humano e desaparecem com o tempo. Tudo que vemos no mundo fenomênico, tudo que podemos tocar pode ser comparado a uma bolha de sabão, pois, nada no mundo dos sentidos é durável. Tudo que está inserido dentro do espaço e do tempo não é eterno. Platão chama de humano a união do corpo material que não é eterno com a alma que é eterna. O corpo está ligado ao mundo dos sentidos, compartilhando do mesmo destino de todas as coisas no mundo. Os sentidos do corpo físico não possuem acesso a mundo da “forma”, os sentidos estão restritos ao universo material. A alma é eterna e possui acesso ao mundo da “forma”, ao mundo eterno. Platão diz que a alma a partir do momento em que envolve com o corpo, com o mundo não-eterno ela esquece completamente de sua estrutura eterna e também se esquece do mundo perfeito que é o mundo da “idéia”. Mesmo que a alma tenha esquecido o seu próprio mundo eterno, no seu âmago, pulsa o desejo de retornar a sua verdadeira morada. A verdadeira atividade da alma é libertar-se do cárcere do corpo. Muitas almas não querem voltar para sua morada eterna porque estão apegadas ao mundo dos sentidos, não mais sentem o impulso de sua verdadeira essência. O mundo material é o mundo da sombra, da obscuridade e muitas almas preferem viver no mundo da sombra a viver no mundo verdadeiro que é o mundo da “idéia”. Almas aprisionadas no universo material acreditam que a sombra é tudo o que existe, e por isso não as vêem na sombra. O mundo material é o teatro das sombras. A liberdade somente existe quando a alma transcende o mundo da obscuridade e penetra no mundo da “idéia”.

Sócrates

Sócrates
Marcos Spagnuolo Souza

Sócrates é um filósofo grego. Nasceu em Atenas no ano de 496 aC e faleceu em 399 aC. Defende a tese que o ser humano é a sua própria alma, o ser humano não é o corpo. O autoconhecimento é o único caminho para atingir a verdadeira sabedoria. A verdadeira sabedoria está no interior da alma sendo um conhecimento doado por Deus. O caminho para atingir o autoconhecimento é a busca que cada pessoa deve realizar dentro de si mesma. O autoconhecimento é o mergulho interior que a própria alma faz em sua própria essência. A atividade principal do ser humano é justamente o voltar-se para o seu interior. Para Sócrates o homem não deveria se preocupar com o corpo, com a riqueza e com tudo que tivesse uma relação com a matéria, pois, o principal objetivo da vida é o autoconhecimento. A respeito do corpo salienta que ele deve ser o instrumento da alma e não o instrumento dos instintos do próprio corpo. A felicidade não está relacionada com as coisas exteriores e a alma somente encontra a paz quando conhece a si mesma. O nosso percurso na vida deve ser a constante interiorização para desnudar a própria alma. A vida é a alma conhecendo a si mesma. A alma possui uma relação direta com Deus captando a sabedoria divina e quando a alma se interioriza ela absorve a verdade que é a própria sabedoria divina. A alma só pode atingir a verdade se dela estiver grávida, isto é, quando busca o conhecimento colocado por Deus no seu próprio interior. Em síntese: Sócrates mostrou que cada ser humano é constituído de corpo e alma devendo buscar o conhecimento em seu interior, um conhecimento colocado na alma por Deus. Sócrates falava muito a respeito do seu Daimonion. O Daimonion era uma voz que Sócrates ouvia em seu próprio interior que o impedia de fazer determinadas coisas, era uma voz que o orientava, sendo a voz de sua própria alma.