sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

José Ferrari

José Ferrari (1811 – 1876). O que importa e reconquistar o fato e mantê-lo como base. Ater-se aos fatos e não se perder atrás das conjecturas e hipóteses. É inútil procurar um fenômeno além dos fenômenos. O fato basta a si mesmo. A época da revolução é o período que estamos vivendo e vem depois da época da religião e da época da metafísica. A época da revolução é a época da ciência. As igrejas devem ser eliminadas, pois, o ponto decisivo da emancipação está em negar positivamente a existência de Deus. A revolução arrancou o poder das mãos da nobreza, mas a colocou nas mãos da classe privilegiada que é a burguesia, ao passo que o poder deve estar nas mãos do povo.

Referência: REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da Filosofia: do romantismo até nossos dias. São Paulo: Edições paulinas, 1991.

Victor Cousin

Victor Cousin (1792 – 1867). A nossa verdadeira doutrina, a nossa verdadeira bandeira, é o espiritualismo. O espiritualismo ensina a elevação da alma, a liberdade e a responsabilidade das ações humanas, as obrigações morais, a virtude desinteressada, a dignidade da justiça, a beleza da caridade. O espiritualismo ensina também que além dos limites deste mundo há um Deus, que cria a humanidade, que lhe confia fim nobre e que não a abandonará no curso do misterioso desenvolvimento do seu destino. A espiritualidade é a filosofia que sustenta o sentimento religioso, rejeita a demagogia e, a tirania. A espiritualidade ensina a todos os homens a respeitarem-se e a amarem-se.

Maine François Pierre

Maine François Pierre (1766 – 1824). Sem o sentimento de existência individual que chamamos de consciência não há conhecimento e não há conhecimento se não admitirmos um sujeito permanente que conhece. A consciência é o sentimento que temos continuamente e sempre da nossa existência particular ou do nosso eu. É o eu que tem o sentido íntimo de sua existência individual, una, idêntica e que permanece sempre a mesma, ao passo que todas as modificações que ocorrem variam sem cessar e todos os fenômenos externos e internos, sensações, representações e imagens passam e se sucedem em fluxo contínuo. A consciência se revela como causa ou força. É essa força que move o corpo e que se chama vontade. O eu é essa força agente. O eu nada mais é que o sentimento da força agente, que está em exercício efetivo para fazer o corpo se mover e deslocar-se, para transformá-lo no espaço e para pôr as suas diversas partes em contato com os objetos que são as causas das sensações. Salienta: eu ajo, eu quero, logo, eu sou minha causa e, portanto, eu sou, existo realmente em virtude de causa ou força. Tudo o que existe de passivo no homem pertence ao físico, a parte livre e ativa do ser humano, ao contrário, é a parte do eu. É urgente ouvir o sentido íntimo, ele nos dirá que existe um ser ordenador de todas as coisas. É o sentido íntimo que nos faz ver Deus na ordem do universo.

Referência: REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da Filosofia: do romantismo até nossos dias. São Paulo: Edições paulinas, 1991.

Pierre Jean Georges Cabanis

Pierre Jean Georges Cabanis (1757 – 1808). Reduz a vida mental do homem às sensações provenientes de objetos externos. Ele reduz toda a vida consciente à fisiologia, ao funcionamento do sistema cerebral, sistema que é órgão do pensamento e da vontade. O cérebro digere de algum modo as impressões e produz organicamente a secreção do pensamento. A vida é meramente uma organização de forças físicas. O pensamento é resultado de "secreções" no cérebro análogas à secreção da bile pelo fígado. O comportamento depende do arranjo de elementos naturais. A consciência é efeito dos processos mecânicos e a sensibilidade, que é a fonte da inteligência é uma propriedade do sistema nervoso.

Referência: REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da Filosofia: do romantismo até nossos dias. São Paulo: Edições paulinas, 1991.

Louis de Bonald

Louis de Bonald (1754 – 1840). Deus teria dado ao homem, desde a criação, uma linguagem primitiva que, passando de geração a geração, conserva a revelação divina originária e as verdades inatas que Deus gravou na mente de todos os homens. Existe uma revelação natural de Deus a todos os homens. É de Deus que deriva a sabedoria do Estado e a legitimidade de quem o representa. O individualismo e toda abstração individual é obra do demônio e toda revolução é demoníaca. Todos os males de sua época são consequências da rejeição da teocracia medieval e da monarquia fundada no direito divino dos reis. O que deve estar nos fundamentos da vida e da história não é a razão individualista, e sim as verdades eternas da religião, que Deus revelou ao homem desde as origens. Necessidade de aceitar e se submeter às instituições como a Igreja e o Estado, ou melhor, àquelas autoridades que, como o papa e o soberano, representam as verdades divinas. Toda a história é governada por Deus.

Referência: REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da Filosofia: do romantismo até nossos dias. São Paulo: Edições paulinas, 1991.

Antoine Louis Claude Destutt de Tracy

Antoine Louis Claude Destutt de Tracy (1754 -1836). Os cinco sentidos não são suficientes para nos garantir o conhecimento da existência dos corpos externos. Nós conseguimos descobrir o mundo externo graças à motilidade: o sujeito se dá conta do mundo externo em virtude do confronto entre um movimento desejado e um corpo que a ele resiste que forçaria o sujeito a admitir a realidade do mundo externo. As idéias são fenômenos naturais que exprimem a relação entre o organismo vivo do ser humano e o seu meio natural de vida. A ideologia possibilita o conhecimento da verdadeira natureza humana ao perguntar de onde provem nossas idéias e como se desenvolviam.

Referência: REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da Filosofia: do romantismo até nossos dias. São Paulo: Edições paulinas, 1991.

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Soren Kierkegaard

Soren Kierkegaard (1813 – 1855). O ser humano deve ter coragem de, como Indivíduo, pôr-se em relação com Deus: antes em relação com Deus e não antes com os outros. Quando estamos diante de Deus, não há espaço algum para os fingimentos, os disfarces e as ilusões. Para aspirar à verdade, é preciso ficar nu em sentido muito mais íntimo, é preciso desfazer-se de falsas vestimentas interiores.

Deus sabe que as pessoas o enganam, Deus cria uma situação na qual o ser humano o engana, para que o sujeito sofra com o objetivo de perceber que é abandonado por Deus. A respeito da justiça divina salienta que cada criminoso, cada pecador pode ser salvo na eternidade desde que passe a buscar Deus, pois, na eternidade, o que será lembrado é somente a busca por Deus. Será salvo quem possui Deus por parceiro.

Deus quer restabelecer a igualdade entre Si e o discípulo, assim com um rei que se apaixona por uma plebéia. Deus encontra sua alegria em vestir ao lírio com mais esplendor que Salomão. O amor de Deus não somente ensina, mas também leva a um novo nascimento do discípulo, passando do não ser ao ser, pois o fazer nascer pertence a Deus cujo amor é regenerador. Deus busca a unidade, de Si com o não ser do discípulo para obter a unidade, Deus se faz igual ao seu discípulo, e para isto toma a forma de servo. Deus sofre a fome, o deserto, tudo experimenta por amor ao discípulo. Somente Deus pode salvar o indivíduo do desespero.

O desespero humano brota em não querer se aceitar como estando nas mãos de Deus. Negando Deus o ser humano aniquila-se a si mesmo. Separar-se de Deus equivale a arrancar suas próprias raízes e afastar-se do único poço do qual se pode obter água. A autêntica existência é aquela que está disponível para o amor de Deus, a existência daquele que não crê mais em si mesmo, mas em Deus somente. A fé em Deus, o saber que está ao lado de Deus, leva o ser humano a entrar em conflito com o mundo, tendo alto grau de tédio da vida.

Existem três estágios na existência do ser humano: estágio estético; estágio ético e estágio religioso. O estético é o estágio básico na realidade humana, marcado pela diversidade e pelos desejos. O desejo pode passar pela satisfação sentimental, material, entre outros, mas em última instância, o desejo erótico predomina. Na vida estética o ser humano sente a desesperança de uma vida feliz baseada no aspecto erótico e busca uma vida governada por princípios interiores. O ser humano entende que a ética é a única forma de desviar das fragilidades do corpo humano. Estágio religioso demonstra uma existência superior, onde o estágio ético fica ofuscado diante do estágio religioso. O estágio religioso é caracterizado pelo desprendimento, solidão, devoção e comunicação com Deus através de um silêncio profundo.

No estágio religioso o ser humano compreende que Deus tem a precedência, consequentemente, a ciência deste mundo não tem muita importância, já que, para o cristão, a existência autêntica estabelece-se no plano da fé: como forma de vida, a ciência é existência inautêntica.

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Johann Friedrich Herbart

Johann Friedrich Herbart (1776 – 1841). A vida psíquica é um mecanismo de representações. As representações são produzidas por sensações sensíveis e subsistem na estrutura psíquica uma vez que tenha cessado seu motivo exterior. Porém, devido à estreiteza da consciência somente poucas representações podem chegar a ser conscientes, as demais ficam sob o umbral da consciência, onde, como molas de aço comprimidas, esperam voltar a surgir.

As representações conscientes são importantes porque determinam o comportamento humano. A modificação das representações na estrutura psíquica é de suma importância, sendo responsável pelo desenvolvimento humano e da humanidade. Uma volição não é mais do que um círculo espiralado, que começa com o interesse, passa pela formação de conceitos e termina com a ação. O início de qualquer mudança da representação inicia com o interesse.

A primeira condição para que ocorra transformação é a existência do interesse. O interesse é a grande palavra, a palavra mágica da transformação do ser humano. O interesse somente existe quando na consciência existe o gosto íntimo de si transformar durante a vida e não o mero distrair ou divertir. O interesse pode ser despertado o que exclui qualquer tipo de violência. Existem duas classes de interesses: A primeira leva a conhecer as coisas; a segunda, a conviver com os seres humanos. O interesse para conhecer as coisas possui três subdivisões que são os seguintes: Interesse Empírico; Interesse Especulativo e Interesse Estético. Interesse empírico: ligado a observação de objetos, procura conhecer os objetos. Interesse especulativo: quando conduz ao estudo das leis e relações das coisas. Interesse estético traz em si o sentir à beleza dos objetos. Os interesses que dão margem às relações humanas são os seguintes: o Interesse simpático: impulsiona o homem a participar na alegria e na dor do próximo. Interesso social: que faz sentir o destino da classe social, do povo e da humanidade. Interesse religioso: que busca conhecer a origem de todas as coisas, a essência primeira, ou seja, Deus.

O próximo passo depois do interesse implica a elaboração dos conceitos fundamentais que estruturam nossa experiência da realidade. Combinando conceitos o pensamento forma juízos. Relacionando juízos surgem as concepções de vida e logicamente as argumentações. As concepções de vida geram os comportamentos.

Todo ser humano possui a propensão inata para a luta, desordem e causar danos, sendo necessário conter tais impulsos através da disciplina. A disciplina atua de um modo contínuo e sempre com as vistas a alcançar determinadas coisas no futuro e suavemente, como a providência benigna. A disciplina está relacionada com a individualidade abrangendo censuras, louvores e recompensas, mas, não podemos esquecer que onde se governa muito não se pode desenvolver nenhuma espontaneidade pessoal, nenhum espírito de invenção, nenhum ânimo arriscado, nenhuma atitude previsora, nenhum caráter forte, consciente de sua finalidade.

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Arthur Schopenhauer

Arthur Schopenhauer (1788 – 1860). O mundo é representação do sujeito. A terra e o sol são representações do sujeito. O mundo circundante somente existe como representação. Tudo o existe para o conhecimento, isto é, o mundo inteiro, nada mais é do que o objeto, que é uma representação. O mundo é representação nossa e nenhum de nós pode sair de si mesmo para ver as coisas como elas são. Tudo aquilo que temos conhecimento se encontra dentro de nossa consciência. A matéria não tem existência independente da representação.

A representação possui duas metades: a primeira metade é o sujeito e a outra metade é o objeto. Sujeito: é o sustentáculo do mundo, a condição de todo fenômeno e de todo objeto, o sujeito elabora representações. Objeto: o objeto é a pluralidade das representações do sujeito, aquilo que é conhecido. Sujeito e objeto são inseparáveis, cada uma das duas metades não tem sentido nem existência senão por meio da outra e em função da outra, ou seja, cada uma existe com a outra. O objeto é representação do sujeito. É preciso abandonar que o mundo fora de nós existe como sendo real, sem qualquer concurso de nossa parte. Não existe uma existência absoluta, independente do sujeito, não existe uma existência impensável pelo sujeito. Tudo o que é objetivo tem sempre e essencialmente sua existência na consciência do sujeito, sendo, portanto, sua representação e sendo condicionado pelo sujeito e por suas formas representativas que são inerentes ao sujeito e não ao objeto. O mundo, como nos aparece em sua imediaticidade é em si, um conjunto de representações condicionadas pelas formas a priori elaboradas pelo sujeito.

Não é possível a distinção real e clara entre o sonho e a vigília: o sonho tem somente menos continuidade e coerência do que a vigília. Salienta Schopenhauer: “nós não nos envergonhamos de proclamar a ausência de distinção entre sonho e vigília, pois, tantos foram os grandes espíritos que a reconheceram e proclamaram. Os Vedas chamam o mundo de véu de Maia; Platão afirma que os homens vivem no sonho; Pindaro diz que o homem é o sonho de uma sombra; Sófocles compara os homens a simulacros e sombras leves; Shakespeare sentencia que nós somos da mesma matéria de que são feitos os sonhos e a nossa breve vida é circundada por sono; e, para Calderón, a vida é sonho.” A vida e os sonhos são páginas do mesmo livro.

O próprio ser humano é representação, mas, não é somente isso, já que é também sujeito cognoscente. O ser humano é representação e sujeito ao mesmo tempo. Aprofundando no sujeito deparamos no nível mais profundo à vontade, que é o desejo. A imersão no profundo do sujeito descobre-se a vontade. Podemos observar que a vontade faz parte de uma vontade única. A vontade individual do sujeito e a vontade única formam um núcleo no sujeito responsável por todas as representações.

A vontade nos seres gera a natureza: reino vegetal, reino animal e reino humano, seres que impulsionados pelo impulso cego da vontade lutam um contra o outro para se imporem e dominarem suas representações subindo na escala das representações. Vontade é a substância íntima, o núcleo de toda coisa particular e do todo que aparece na força cega da natureza e que se manifesta na conduta racional do ser humano. Nenhum objeto da vontade, uma vez alcançado, pode dar satisfação durável ao sujeito. O sujeito, aprofundando-se em seu próprio íntimo consegue compreender que todas as representações possuem origem na vontade e que o próprio corpo é vontade ou desejo de ter corpo. O sujeito esta vivenciando a representação da vontade única, a vontade do sujeito é o reflexo da vontade única.

O sujeito, penetrando em seu interior, vencendo as forças da vontade, descobre que tudo que possui consciência é representação impulsionada pela vontade, tudo é ilusão, mas existe uma realidade encoberta pelo véu de Maia. O véu de Maia tem que ser rasgado, a realidade deve ser desvelada. Dois são os meios que o sujeito possui para ir além da vontade e penetrar na realidade: contemplação e ascese.

Na contemplação o sujeito se separa das cadeias da vontade, afasta-se dos seus desejos, anula as suas necessidades, deixando de olhar os objetos em função de suas utilidades. O sujeito se aniquila como vontade e se transforma em puro olho do mundo, mergulha na representação para ter consciência que é ilusão. Mergulhando no estado de contemplação liberta-se por um instante de todo desejo e preocupação. A contemplação é olhar o mundo como ilusão, deixando de ser instrumento da vontade. A contemplação gera felicidade, mas são instantes breves e raros, que servem para indicar ao sujeito como deve ser feliz a vida do ser humano cuja vontade se aquietou.

A ascese é conseguida quando o sujeito suprime a raiz do mal, isto é, a vontade de viver. A dor é o caminho da ascese que nos leva ao horror por viver em um mundo cheio de dor. O primeiro passo da ascese é a castidade, que significa a liberdade de não gerar outro ser de vontade. O segundo passo é a pobreza, eliminando toda vontade. A ascese arranca o sujeito da vontade, das garras da morte, dos vínculos com os objetos, com as representações. Na ascese nasce o novo ser, o sujeito redimido.

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Friedrich Engels

Friedrich Engels (1820 – 1895). A dialética é a forma de pensamento mais importante para a ciência natural moderna, porque só ela apresenta a analogia e, com isso, os métodos para compreender os processos de desenvolvimento que se verificam na natureza, os nexos gerais e as passagens de um campo de pesquisa para outro. O processo de evolução se desenvolve por meio de negações sucessivas, que dão origem a conformações sempre novas, como no caso do proletariado, que nega a burguesia, produzindo uma sociedade mais madura e mais elevada. A dialética é a lei que vale para a natureza, para a história social humana e para o pensamento.

A grande divisão sistemática do pensamento reside na dicotomia entre idealismo e materialismo. O materialismo parte do pressuposto que a matéria constitui o fundamento da realidade, sendo que a idéia deriva da realidade material. Somente podemos compreender a história a partir das relações econômicas de produção, através da infra-estrutura. A infra-estrutura é a base material da existência e a superestrutura corresponde às idéias, convicções políticas, religiosas, econômicas que são formadas a partir da infra-estrutura. As relações entre os dois planos não é, unívoca e linearmente causal; trata-se de um âmbito complexo de relações, de modo que um estudo rigoroso do fenômeno histórico não pode descartar o papel desempenhado pela superestrutura, tanto quanto a análise das condições infra-estruturais que possibilitaram este fenômeno.

Referência: REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da Filosofia: do romantismo até nossos dias. São Paulo: Edições paulinas, 1991.

Karl Marx

Karl Marx (1818 – 1883). Crítica a Religião: os homens alienam o seu ser projetando-o em um Deus imaginário somente quando a existência real na sociedade de classe impede o desenvolvimento de sua humanidade. Para superar a alienação religiosa, não basta denunciá-la, mas é preciso mudar as condições de vida material. O Estado e a sociedade produzem a religião, que é consciência invertida do mundo, a religião é a teoria invertida das condições sociais. Existe o mundo fantástico dos deuses porque existe o mundo irracional e injusto dos homens. A miséria religiosa é a expressão da miséria real em um sentido e, em outro, é o protesto contra a miséria real. A religião é o suspiro da criatura oprimida e o ópio do povo. A religião é obra da humanidade sofredora e oprimida, obrigada a buscar consolação no universo imaginário da fé. A primeira função de uma filosofia a serviço da história é a de desmascarar a auto-alienação religiosa, mostrando suas formas que nada têm de sagradas. Essa a razão por que a crítica do céu se transforma em crítica da terra, a crítica da religião em crítica do direito, a crítica da teologia em crítica da política.

Alienação do Trabalho: o homem pode viver humanamente, isto é, fazer-se enquanto homem, precisamente humanizando a natureza segundo as suas necessidades e as suas idéias, juntamente com outros homens. O homem pode transformar a natureza, objetivar-se nela e humanizá-la, pode fazer dela o seu corpo inorgânico. Olhando para a história e para a sociedade, veremos que o trabalho não é mais feito, juntamente com os outros homens, pela necessidade de apropriação da natureza externa, veremos que não é mais realizado pela necessidade de objetivar a própria humanidade, as próprias idéias e projetos, na matéria-prima. O operário tornou-se mercadoria nas mãos do capital, o operário se alienou do trabalho. Alienação do trabalho faz com que surjam todos os outros tipos de alienação. Alienação do trabalho transformou o trabalhador em um ser bruto. Alienação do trabalho consiste no fato de que o trabalho é externo ao operário, isto é, não pertence ao seu ser e, portanto, ele não se afirma em seu trabalho, mas se nega, não se sente satisfeito, mas infeliz, não desenvolve energia física e espiritual livre, mas definha seu corpo e destrói o seu espírito. O trabalhador alienou-se do trabalho porque o seu trabalho não é voluntário, mas constrito: é trabalho forçado. O trabalho não constitui satisfação de uma necessidade, mas somente meio para satisfazer necessidades estranhas, por tudo isso, o homem só se sente livre em suas funções animais (comer, dormir, beber, procriar, morar e vestir). Alienação do trabalho faz com que o operário se torne tanto mais pobre quanto maior é a riqueza que produz quanto mais a sua produção cresce em potência e extensão. O operário torna-se mercadoria tanto mais vil quanto maior é a quantidade de mercadorias que produz.

Materialismo Histórico: consiste na tese segundo a qual não é a consciência dos homens que determina o seu ser, mas, ao contrário, o seu ser social que determina a sua consciência. Isso leva a especificar a relação existente entre estrutura econômica e superestrutura ideológica. A produção das idéias, das representações, da consciência, em primeiro lugar, está diretamente entrelaçada à atividade material e às relações materiais dos homens, linguagem da vida real. Na produção social de sua existência, os homens entram em relações determinadas, necessárias, independentes de sua vontade, em relações de produção que correspondem a determinado grau de desenvolvimento de suas forças produtivas materiais. O conjunto dessas relações constitui a estrutura econômica da sociedade, ou seja, a base real sobre a qual se ergue uma superestrutura jurídica e política e à qual correspondem formas determinadas de consciência social. O modo de produção da vida material condiciona o processo social, político e espiritual da vida.

Materialismo Dialético: tudo está em movimento e, portanto, tudo é transitório. O confronto entre o estado de coisas existentes e sua negação é inevitável, e esse confronto se resolverá com a superação do estado de coisas existente. Todo momento histórico gera contradições, elas constituem a mola do desenvolvimento histórico. A dialética é a lei do desenvolvimento da realidade histórica e que essa lei expressa a inevitabilidade da passagem da sociedade capitalista para a sociedade comunista, com o conseqüente fim da exploração e da alienação.

Luta de Classe: a história de toda sociedade que existiu até o momento é a história da luta de classes. Livres e escravos, patrícios e plebeus, barões e servos da gleba, membros das corporações e aprendizes, em suma, opressores e oprimidos, estiveram continuamente em mútuo contraste e travaram luta ininterrupta, ora latente, ora aberta, luta que sempre acabou com transformação revolucionária de toda a sociedade ou com a ruína comum das classes em luta. A burguesia moderna, não eliminou em absoluto o antagonismo das classes: pelo contrário, simplificou-o, visto que toda a sociedade vai se dividindo cada vez mais em dois grandes campos inimigos, em duas grandes classes diretamente contrapostas uma a outra: burguesia e proletariado. Burguesia é a classe dos proprietários dos meios de produção, empregadores dos assalariados. Proletariado é a classe dos assalariados que não possuem os meios de produção, são obrigados a vender sua força de trabalho para viver.

Capital: a mercadoria possui duplo valor: o valor de uso e valor de troca. O valor de uso de uma mercadoria baseia-se na qualidade da mercadoria, no sentido da função de sua qualidade, satisfaz mais a uma necessidade que a outra. Valor de troca é algo de idêntico existente em mercadorias diferentes, que as tornam passíveis de troca em dadas proporções mais do que em outras. Esse valor de uso é dado pela quantidade de trabalho socialmente necessária para produzi-la. Em essência, como valores, todas as mercadorias são apenas medidas determinadas de tempo de trabalho nelas empregado. O intercâmbio de mercadorias não é tanto uma relação entre coisas, mas muito mais uma relação entre produtores, entre homens. A força de trabalho também é mercadoria que o proprietário da força de trabalho vende no mercado, em troca do salário, ao proprietário do capital, isto é, ao capitalista. E o capitalista paga justamente, por meio de salário, a força de trabalho que adquire; ele a paga segundo o valor que tal mercadoria tem, valor que é dado pela quantidade de trabalho necessário para produzi-la, ou seja, pelo valor das coisas necessárias para manter em vida o trabalhador e sua família. O operário com sua força de trabalho criam produtos que são suficientes para cobrir as despesas com sua própria manutenção (seis horas), ao passo que, nas outras seis horas suplementares, cria produto que o capitalista não paga. Esse produto suplementar não pago pelo capitalista ao operário é a mais-valia. Na mais-valia temos que distinguir o capital constante e o capital variável. O capital constante é o investido para a aquisição dos meios de produção, como o maquinário e as matérias-primas. Capital variável, investido na aquisição da força de trabalho. Abatendo o capital constante e o capital variável da mais-valia surge a figura do lucro do capitalista. O capitalista não consegue consumir totalmente o seu lucro nas suas necessidades ou atendendo os seus caprichos, assim sendo o que sobrou do lucro ele reinveste, para não sucumbir na concorrência. Para vencer a concorrência o capitalista reinveste o seu lucro no aperfeiçoamento do maquinário que gera o aumento do exército reserva.

Advento do Comunismo: a burguesia para existir e desenvolver-se, produziu o operariado que a levará a morte. O proletariado é a antítese da burguesia. Fundamentado na dialética, o proletariado fará a revolução. A produção capitalista gera a sua própria negação e a negação do capitalismo é o comunismo. Comunismo é uma sociedade sem propriedade privada e, portanto, sem classes, sem divisão do trabalho, sem alienação e, sobretudo, sem Estado. Para Marx o comunismo é o retorno completo e consciente do homem a si mesmo, como homem social, isto é, como homem humano.

Comunismo Grosseiro: no Manuscrito de 1844, Marx comenta sobre o comunismo grosseiro que não consistia na abolição da propriedade privada e sim na atribuição da propriedade privada ao Estado, o que reduziria todos os homens a proletariados. Esse comunismo grosseiro negaria a personalidade do homem por toda parte.

Referência: REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da Filosofia: do romantismo até nossos dias. São Paulo: Edições paulinas, 1991.

Pierre-Joseph Proudhon

Pierre-Joseph Proudhon (1809 – 1865). A economia burguesa tem por fundamento a propriedade privada. A propriedade privada é furto. O capitalismo não remunera o operário com todo o valor do seu trabalho. A força coletiva, resultante da força de muitos trabalhadores organizados, fornece produtividade muito mais alta do que aquela que se obteria da soma de simples trabalhos individuais e o capitalista se apropria do valor do trabalho coletivo. Quando a propriedade está organizada de modo a tornar livres uns poucos (os capitalistas) em troca da escravidão de muitos, então ela é furto. Somente o trabalho é produtivo. E o operário pode certamente se apropriar do fruto do seu trabalho.

O comunismo é intolerante, pois, é orientado para a ditadura. Quando todos os meios de produção são colocados nas mãos do Estado, então a liberdade dos indivíduos é limitada até o ponto do sufocamento, aumentando a desigualdade social ao invés de diminuí-la. Sua idéia é de que o comunismo nunca poderá respeitar a dignidade da pessoa e os valores humanos. O comunismo não elimina os males da propriedade privada, mas muito mais os leva à exasperação: no comunismo, o Estado torna-se proprietário não só dos bens materiais, mas também dos cidadãos. O comunismo pretende nacionalizar não só as indústrias, mas também a vida dos homens. O comunismo é despotismo policialesco.

Propõe novo ordenamento social, baseado na justiça, no respeito e na dignidade humana. Os trabalhadores devem ser os proprietários dos meios de produção e, portanto, tenha a possibilidade de autogerir o processo produtivo. O tecido econômico da sociedade passa a se constituir como pluralidade de centros produtores que se equilibram mutuamente.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Claude Henri de Saint-Simon

Claude Henri de Saint-Simon (1760 – 1825). A História é regida pela lei de progresso. O progresso científico deve destruir as doutrinas teológicas e aquelas idéias metafísicas que serviam de fundamento para a Idade Média. Agora, o mundo dos homens somente pode ser organizado e ordenado com base no cientificismo. É a ciência que pode predizer o maior número de coisas e o poder temporal pertence aos industriais, aos empreendedores. Os eclesiásticos são substituídos pelos cientistas e pelos industriais. Existe uma ordem de interesse que é sentida por todos os homens que são os interesses ao desenvolvimento da vida e do bem-estar. O desenvolvimento da vida e o bem-estar são as únicas coisas sobre a qual todos os homens devem deliberar e agir em comum. A política é a ciência da produção, é a ciência que tem por objetivo a ordem de coisas mais favorável a todos os tipos de produção. O poder político deve estar nas mãos dos técnicos, cientistas e produtores. Os homens só podem ser felizes satisfazendo suas necessidades físicas e suas necessidades morais. Na futura sociedade a ciência constituirá o meio para alcançar a fraternidade universal que Deus deu aos homens como regra de sua conduta. Os homens vão organizar a sociedade do modo que possa ser mais vantajoso para o maior número de pessoas. Insistiu na idéia de eliminar a propriedade privada, revogar o direito de herança.

Georg Wilhelm Friedrich Hegel

Georg Wilhelm Friedrich Hegel (1770 – 1831). O Espírito é a realidade dialética. A realidade é tudo que existe que está em eterno movimento. O movimento é a própria natureza do Espírito, assim sendo, Espírito é atividade, processo, movimento, automovimento. O Espírito se autogera, gerando ao mesmo tempo a sua própria determinação e superando-a plenamente. O Espírito é sempre ativo, realizando-se, como contínua colocação do finito e, ao mesmo tempo, como superação desse finito. O movimento dialético do Espírito nada mais poderá ser senão uma espécie de movimento circular ou movimento espiral com ritmo triádico. Cada momento do real é momento indispensável do Espírito, porque este se faz e se realiza em cada um e em todos esses momentos, de modo que cada momento torna-se absolutamente necessário. Qualquer coisa que exista ou aconteça não está fora do Espírito, mas é um seu momento insuprimível.

A consciência também é Espírito e seu movimento em relação ao outro possui três etapas. As três etapas do itinerário fenomenológico da consciência são as seguintes: primeira etapa a consciência que olha e conhece o mundo como algo diferente e independente de si; segunda etapa a consciência aprende, a saber, o que ela é propriamente, autoconsciência; terceira etapa é quando a consciência adquire a certeza de ser toda realidade, certeza de ser toda coisa, ou seja, da aquisição da unidade de pensar e ser.

O movimento da consciência em relação ao conhecimento: 1) movimento intelectivo é a faculdade que abstrai conceitos determinados, definições que são de certa forma definitiva. O intelecto apresenta conhecimento inadequado, que permanece encerrado no finito. 2) Movimento Racional: o pensamento deve ir além dos limites do intelecto e ir além dos limites do intelecto é peculiaridade da Razão, que consiste em remover a rigidez do intelecto e dos seus produtos. 3) Movimento Positivamente Racional, a síntese dos opostos, vai além dos limites do intelecto e do racional, superando aquela rigidez da própria razão, elevando-se a níveis cada vez mais altos. Esses três movimentos são geralmente indicados com os termos 1) tese, 2) antítese 3) síntese.

A natureza também é Espírito e movimenta em três níveis: 1) mecânica, que é a corporeidade universal e a exterioridade espacial. 2) a física que supera a corporeidade da massa dissolvendo nos processos magnéticos, elétricos e químicos. 3) a orgânica, na qual a natureza se interioriza e nasce a vida.

O pensamento ou argumentação também movimenta em três fases: 1) Lógica do Ser: procede em sentido horizontal, indo de um conceito a outro conceito. 2) Lógica da Essência: o próprio ser se volta sobre si e se aprofunda refletindo sobre si mesmo, buscando a origem do conceito. 3) Lógica do Conceito: descobre que a realidade é o Sujeito e descobre também o porquê, chega-se a idéia que é o conceito que se auto-realizou plenamente, vista como processo e resultado dialético.

Desde o indivíduo, mas também o mundo e tudo que está no mundo e fora do mundo percorrem essas três formas em toda a extensão. O próprio tempo percorre os três movimentos. Salienta Hegel que o próprio Espírito do mundo não teria podido alcançar a consciência de si com menor esforço, é evidente que, o indivíduo não poderá chegar a compreender a sua substância por caminho mais breve. As etapas fenomenológicas são momentos insuprimíveis e absolutamente necessários, somente através dos quais a Consciência adquire o verdadeiro conhecimento.





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Charles Fourier

Charles Fourier (1772 – 1837). É a civilização que, através do regime da livre concorrência, onde cada qual persegue o seu próprio interesse sem pensar no dos outros e da comunidade, aumenta a miséria. No estado atual, o homem está em guerra consigo mesmo, pois suas paixões chocam-se entre si. A moral atual bloqueia as paixões e gera assim a hipocrisia. Defendeu a existência dos falanstérios que deveria ser uma organização social perfeita: unidades agrícolas e industriais, nas quais as habitações seriam albergues. As mulheres equiparadas aos homens; a vida familiar abolida e as crianças educadas pela comunidade. Vigoraria a total liberdade sexual. Cada qual produziria o que lhe agradasse produzir. Para evitar a monotonia da repetitividade, cada indivíduo deveria aprender pelo menos quarenta atividades profissionais e mudar de trabalho várias vezes ao dia. As pessoas encontrariam mais satisfação no trabalho do que nas festas, bailes ou espetáculos. Devido à superabundância de produtos, não haveria o problema da distribuição.

sábado, 23 de outubro de 2010

Friedrich Wilhelm Joseph Schelling

Friedrich Wilhelm Joseph Schelling (1775 – 1854): Deus é o Eu puro, absoluto, cuja unidade não é a unidade numérica dos indivíduos, mas sim a unidade própria do Uno-Todo imutável. O Eu não é consciência, nem pensamento, nem pessoa, porque consciência e pessoa são momentos posteriores e deduzidos. O absoluto é uma matriz única da qual se diversificam todos os seres. Tudo está em Deus, mas não, ao contrário, que tudo é Deus. Deus é antecedente e as coisas são o conseqüente. O conseqüente está no antecedente, mas não vice-versa.

Na natureza, existe organização geral: a organização não pode ser pensável sem força produtora e tal força necessita do princípio organizativo, que não pode ser princípio real cego, mas deve ter produzido agindo com uma finalidade. Existe uma inteligência ordenando a natureza, ou seja, toda a natureza é resumida em uma inteligência. Em tudo quanto é e quanto existe há uma fundamental identidade. Todas as coisas, por diferentes que pareçam, se fundem na matriz originária. A inteligência que organiza a natureza é a “alma do mundo”, nada mais sendo que a inteligência inconsciente que produz e rege a natureza e que só se abre a consciência com o nascimento do homem. O ser humano revela-se como sendo o fim último da natureza, porque nele precisamente desperta o espírito, que em todos os graus da natureza permanece como que adormecido.

O mesmo princípio une a natureza inorgânica e a natureza orgânica, pois as coisas singulares da natureza constituem, como que elos de uma cadeia de vida, que se volta sobre si mesma e na qual todo momento é necessário para o todo. Aquilo que na natureza aparece como “não-vivo” é apenas vida que dorme; a vida é a respiração do universo, ao passo que a matéria é espírito enrijecido. No fenômeno da natureza tudo está unido na alma do mundo, ou seja, na inteligência do absoluto. Na natureza inorgânica está presente a alma do mundo, imprimindo ordem aos átomos, como nos cristais. A natureza não está subordinada ao ser humano, mas o ser humano faz parte da natureza.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Johann Gottlieb Fichte

Johann Gottlieb Fichte (1762 – 1814). Salienta que abraçou uma moral mais elevada e, ao invés de se ocupar com as coisas externas, ocupou-se mais consigo mesmo, o que lhe deu uma paz que ainda não conhecia: mesmo imerso em situação econômica precária, viveu os dias mais belos de sua vida.

Diz que Deus é o Eu puro que cria toda a realidade. O Eu que, na infinidade do seu tender, representa o ardente anseio de liberdade. Deus é o princípio originário, o princípio primeiro, a condição incondicionada que se constrói a si mesmo. Não é fato, e sim ato, atividade originária. Não lhe pertence um ser propriamente dito, não depende de um ser que lhe seja dado, porque Deus é doador de ser. O Eu é o primeiro princípio de todo movimento, de toda a vida, de toda ação, de todo acontecimento.

A imaginação divina é atividade infinita que, delimintando-se continuamente, e produzindo aquilo que constitui a matéria do nosso conhecimento. A imaginação produtiva fornece material bruto, do qual, em etapas sucessivas, a consciência se reapropria através da sensação, da intuição sensível, do intelecto e do juízo.

Quando o ser humano se coloca no ponto de vista da reflexão comum, possui a sólida convicção de que as coisas têm realidade fora de si, e, que, portanto, elas existem sem a intervenção humana. Quando refletimos sobre as etapas do processo cognoscitivo e suas condições, passamos a adquirir consciência do fato de que tudo deriva de Deus e, em nossa autoconsciência, nos aproximamos sempre mais da autoconsciência pura. Para aproximarmos da consciência pura é necessária a liberdade, ser livre significa tornar-se livre. Tornar-se livre significa afastar incessantemente dos limites.

Toda a nossa vida é a vida doada por deus. Nós estamos em suas mãos e aí permanecemos e ninguém pode nos arrancar daí. Não há absolutamente nenhum ser e nenhuma vida fora da vida divina. Temos um obscurecimento em nossa consciência a respeito de Deus, mas, quando ficamos libertos da obscuridade, pela vontade de Deus, Ele se revela. Na ação de eliminar a obscuridade, não é o ser humano que age, e sim o próprio Deus, que age no homem e na mulher realizando a sua obra por meio deles.

A escolha de uma filosofia depende daquilo que se é como ser humano, porque um sistema filosófico não é utensílio inerte, que se pode pegar ou largar a vontade, mas é algo animado pelo espírito do homem que o tem. O caráter fraco por natureza ou enfraquecido e dobrado pelas frivolidades, pelo luxo refinado e pela servidão espiritual nunca poderá se elevar a ter uma filosofia de vida.

Referência: REALE Giovanni & ANTISERI, Dario. História da Filosofia. São Paulo: Edições Paulinas, 1991.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Johann Gottfried Herder

Johann Gottfried Herder (1744 – 1803). A natureza é organismo que se desenvolveu e progride segundo esquema finalístico, da mesma forma a história é desenvolvimento da humanidade que também se desdobra segundo esquema finalístico. Deus opera e se revela tanto na primeira como na segunda. Portanto, a história está necessariamente voltada para a concretização dos fins da Providência de Deus; portanto, o progresso não é simples obra do homem, mas obra de Deus que leva a humanidade à plenitude da realização.

Via a história da humanidade como um imenso jardim, onde cada povo tinha uma identidade específica, própria, distinta da dos demais, possuindo sua forma e natureza, seguindo uma evolução separada dos demais, de acordo com os instintos e o caráter que lhes eram peculiares. Concluindo que a arte, o gosto e os costumes de cada povo, somente podem ser valorizados desde dentro desse mesmo povo e da época em que surgiram, não de fora. O caráter nacional os acompanhava mesmo quando emigravam para longas distâncias, fazendo-os recordar do solo natal, invocando sua presença ao batizar as novas localidades com as denominações da antiga mãe-pátria. Cada povo, por sua vez, passava por etapas de infância, de maturidade e velhice.

Condenava veementemente a política do Império Romano por ter sufocado, ou eliminado, traços característicos e idiossincrasias culturais de muitos povos que foram dominados. Da mesma forma lhe pareceria merecedora de integral repúdio toda e qualquer política colonialista, devido à sua prática de esmagamento das expressões mais autênticas dos povos nativos.

Deduzia, pois, que o papel do historiador estava longe de tentar identificar o que existia em comum entre os povos, mas, ao contrário, deveria ressaltar em seu estudo exatamente aquilo que os diferenciasse dos demais. Deveria agir como um naturalista que se debruça sobre cada espécie e procura um método de classificação próprio para ela. Além disso, deveria preocupar-se com a localização das suas raízes. Da mesma forma que as plantas, os povos as possuem ocultas: as plantas as têm enterradas no subsolo, os povos as encontram no seu passado histórico. O historiador deve extrair dos tempos imemoriais os vestígios primeiros da cultura do seu povo. Para tanto, bastava ter ouvidos atentos para captar a língua popular, os velhos contos, as antigas cantigas, os mitos, as sagas e as lendas heróicas.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Friedrich Schlegel

Friedrich Schlegel (1772 – 1829). Pode-se chegar ao infinito pela filosofia ou pela arte, mas, tanto numa como na outra, nos valemos de meios finitos. Estamos, portanto, diante da verdadeira dificuldade que é ter acesso ao infinito com os meios finitos. O infinito é o nosso objetivo e a ironia é se chegar ao infinito através do pensamento determinado e limitado em todos os aspectos. Convicto da inexprimibilidade e da incompreensibilidade de tudo que é último. O pensamento ironiza a si mesmo e se suprime devido a sua impotência.

Adamismo

Adamismo: movimento religioso que surgiu no século II no norte da África. Praticavam o nudismo com o objetivo de retornarem à inocência original do Edém descrita no Génesis.Conforme os adamistas tanto o homem como a mulher estavam nus e não se envergonhavam, mas, não resistiram a tentação e pecaram. Constrangidos, procuraram ocultar os órgãos genitais. Isso ocorreu devido ao despertar da concupiscência, primeira manifestação da desordem que o pecado introduziu na harmonia da criação.
Os adamistas defendiam, além da absoluta desnudez, uma estrita abstinencia sexual e não aceitavam o casamento, pois, o considerava consequência do pecado original.

Alumbrados

Alumbrado (embriagados por Deus): movimento religioso no século XVI. Procuravam criar um contato direto com Deus através do Espírito Santo mediante visões e experiências místicas.Reuniam-se em pequenas localidades onde liam e interpretavam pessoalmente a Bíblia e faziam orações mentais. Tinham por base que o amor de Deus guia a mente humana para ler as escrituras com inteira liberdade.

Quietismo

Quietismo: movimento religioso no século XVII onde a pessoa entraria em contato com Deus através da oração silenciosa e da passividade da alma. A perfeição da alma humana e a sua salvação dependia diretamente da vontade divina. O ser humano deveria abandonar-se passivamente a vontade divina. Os quietista dedicavam a sua existência à contemplação passiva do mundo e à indiferença absoluta a tudo que fosse da matéria. Deus é quem age e o ser humano deve ficar na passividade para que Deus possa agir sobre a pessoa. Não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim. Não temos que fazer nada por nossa santificação, mas simplesmente nos rendermos a Deus e deixarmos que Ele faça tudo. O quietismo afirma que o cristão deve ser passivo no crescimento espiritual. Devemos deixar que Deus faça em nós uma pessoa santa, pois, o menor esforço atrapalha a ação de Deus. Devemos apenas "render-nos" ao Espírito Santo, e Ele nos dará a vitória. Jesus é apresentado como modelo de humildade, obediência e submissão a Deus. Deus é quem efetua em nós tanto o querer como o realizar, segundo a sua boa vontade. É Ele que habita em nós e nos dá o poder de fazermos a Sua vontade. Não temos capacidade em nós mesmos, a nossa capacidade vem de Deus.

Hussitas

Hussita: movimento religioso que surgiu no século XV tendo origem no teólogo Jan Hus que foi condenado e queimado vivo no dia 16 de julho de 1415 por não renegar sua filosofia. Antes de ser queimado, Hus disse as seguintes palavras ao carrasco: "Vocês hoje estão queimando um ganso (Hus significa "ganso" na língua boêmia), mas dentro de um século, encontrar-se-ão com um cisne. E este cisne vocês não poderão queimar.” “Eu nunca preguei qualquer doutrina de tendência para o mal, e o que ensinei com os meus lábios agora selo com o meu sangue.” Profecia de Hus sobre o nascimento de Martinho Lutero que 102 anos depois pregou suas 95 teses em Wittenberg e é identificado com um cisne.

Os hussitas defendiam que o único chefe da igreja é Jesus Cristo e não o Papa. Lutavam pela pobreza da igreja e punição para os pecados mortais, sem distinção de nascimento e posição social. O pecador deveria ser punido em praça pública. Condenava a riqueza do clero e ausência de moralidade dos padres.Tentavam aproximar a Igreja do povo, através de suas pregações na linguagem do povo e não em latim, como determinava a Igreja oficial. Somente reconheciam a autoridade da Bíblia e repudiavam os tribunais da Inquisição e os juízes terrenos.

Taboritas

Taboritas: comunidade cristã que surgiu no século XV na Bohemia de Tabor. As pessoas uniram e formaram uma comunidade onde tudo era comum, não existindo senhores e criados. Recusaram o aparelho externo da igreja que consideravam corrompida. Regiam diretamente pelas palavras da bíblia. Consideravam que era dever de todo taborita matar os hereges, isto é, toda a pessoa que não fosse taborita.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Friedrich Daniel Ernst Schleiermacher

Friedrich Daniel Ernst Schleiermach (1768 – 1834).Ênfase no direito do individuo de definir os termos de sua própria fé sem ser intimidado por nenhuma autoridade. Nenhuma pessoa pode estar seguro de alguma coisa além de sua experiência pessoal. Cada pessoa tem uma consciência própria de Deus. Existe um senso de dependência do ser humano para com Deus e o pecado resulta quando a pessoa se debate pela sua independência em relação a Deus. Não acreditava que a bíblia fosse a palavra de Deus inspirada e o Jesus encontrado no Novo Testamento e exaltado nos credos foi mal interpretado como Deus, sendo de fato um homem que alcançou a pura consciência de Deus. A religião é a relação do homem com a totalidade, com o Todo, é intuição e sentimento do infinito. Intuição deriva da influência do objeto intuído sobre o sujeito que intui, da ação originária e independente do primeiro, que é acolhida, compreendida pelo segundo, em conformidade com sua natureza.

Emanuel Kant

Emanuel Kant (1724 – 18040).O ser humano não possui consciência de si mesmo, não conhece o seu substrato, o eu o escapa. O ser humano apenas possui consciência do sensível, do intelectivo e do racional.

Existe diferença entre conhecimento sensível, intelectivo e racional. O conhecimento sensível representa as coisas como elas aparecem para o sujeito e não como são em si. O conhecimento sensível ocorre no tempo e no espaço. O tempo e o espaço são formas de sensibilidade, modos como o sujeito capta sensivelmente as coisas. Através da sensibilidade os objetos nos são dados.

O conhecimento intelectivo é a faculdade de representar os aspectos das coisas que, por sua própria natureza, não podem ser captados com os sentidos, são os conceitos que não derivam dos sentidos. O intelecto tem como objeto o finito e o condicionado. O intelecto é limitado ao horizonte da experiência, ao finito. O intelecto tem como objetivo o finito e o condicionado. Através do intelecto os objetos são pensados (julgados). O intelecto é a faculdade de julgar (pensar). O intelecto limita-se ao horizonte da experiência e tão logo se aventura fora dos horizontes da experiência possível, o intelecto humano cai fatalmente em erro.

A razão vai além do horizonte do conhecimento sensível e intelectivo. O ir além do sensível e do intelectivo não é uma curiosidade vazia, nem algo ilícito, mas algo estrutural e irrefreável. O ir além da razão constitui uma necessidade estrutural, correspondendo a uma exigência que faz parte da própria natureza do ser humano enquanto humano. A razão é uma faculdade incondicionada que impele o ser humano para além do finito, buscando os fundamentos supremos e últimos. A razão é a faculdade da metafísica que está destinada a permanecer como pura exigência do absoluto, sendo, no entanto, incapaz de atingir cognoscitivamente esse absoluto. A razão tem por objeto o infinito, o incondicionado o além da finitude. A razão é direcionada para o infinito. A razão pura não é misturada a nada de empírico e opera sozinha e, por conseguinte, a priori. A razão busca unicamente os princípios supremos e incondicionados.

Os princípios supremos são as idéias e as idéias são paradigmas, emanações da razão suprema (Deus). As idéias são paradigmas absolutos. As idéias expressam o objeto supremo da transcendência metafísica. A razão busca as idéias supremas: idéia psicológica (alma), idéia cosmológica e idéia teológica (Deus). As idéias tornam-se os supremos conceitos da razão, no sentido de supremas formas ou exigências estruturais da razão. São transcendentes e ultrapassam os limites de toda experiência, não podendo se apresentar como objeto que seja adequado à idéia transcendental. As idéias da alma, do mundo e de Deus não são ilusões, somente por equívoco elas se tornam dialéticas, ou seja, quando são mal entendidas. As idéias não ampliam o nosso conhecimento dos fenômenos, mas apenas unifica o conhecimento estimulando a razão buscar o infinito.

Emmanuel Swedenborg

Emmanuel Swedenborg (1688 – 1772). Dizia que mantinha em contato permanente com o mundo espiritual. Salienta que, em certa noite, o mundo dos espíritos se abriu para ele, encontrando muitas pessoas de seu conhecimento e de todas as condições. "Desde então, diariamente o Senhor abria os olhos de meu espírito para que eu pudesse ver perfeitamente desperto, o que se passava no outro mundo e conversar, em plena consciência, com anjos e espíritos". Sobre sua primeira visão espiritual, Swedenborg salientava que "uma espécie de vapor se exalava dos poros do corpo, era um vapor aquoso que caía sobre o tapete". Esse vapor é denominado de ideoplasma, pois toma a forma que o espírito lhe dá instantaneamente. No caso de Swedenborg o ideoplasma se transformou em vermes devido a sua alimentação carnívora, a qual teve que abandonar, passando a ser vegetariano. O ser humano pode respirar o ar atmosférico ou o éter e quando respira mais éter do que ar ele alcança estado psíquico mais etéreo.

A morte é suave, dada a presença de seres celestiais que ajudam os recém-chegados em sua nova existência. As pessoas que morrem passam imediatamente por um período de repouso e alguns reconquistam a consciência em poucos dias. O ser humano nada perde nem se modifica com a morte, continuando com seus hábitos, preocupações e preconceitos. As pessoas depois da morte formam grupos com base nos seus sentimentos.

Após a morte, os seres humanos passarão a viver em planos conforme o seu nível de consciência. Cada um de nós irá para o plano adaptado ao seu nível de consciência.
As pessoas que morrem decrépitos, doentes e deformados recuperam a juventude e o completo vigor logo depois da morte.

O inferno não é um lugar de castigo eterno, mas um plano inferior do qual os espíritos podem seguir para outros mais elevados, purificando-se.
Anjos e demônios nada mais são do que seres humanos desencarnados em diferentes fases de evolução.

Densa nuvem se formou se formado ao redor da Terra devido à grosseria psíquica da humanidade e que, de tempos em tempos, ocorre um julgamento e uma limpeza.
Swedenborg falando sobre a morte do seu amigo Polhem salientou: “Ele morreu na segunda-feira e falou comigo na quinta-feira. Eu tinha sido convidado para o entêrro. Ele viu o coche fúnebre e presenciou quando o féretro baixou á sepultura. Entretanto, conversando comigo, perguntou por que o haviam enterrado, se estava vivo? Quando o sacerdote disse que êle se ergueria no Dia do Juízo, ficou admirado com as palavras do sacerdote, pois êle já estava de pé e vivo”.

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Pietismo

O pietismo foi um movimento que surgiu no final século XVII sendo que o tema central era a experiência com Deus. Sublinhava a necessidade do nascer de uma nova conduta desapegada do mundo material firmada na comunidade reunida ao redor do estudo da Bíblia. Desenvolveu uma vida ascética e áspera no que tange à alimentação, vestimenta. Defendia uma experiência com Deus materializada na rejeição do espírito mundano. O pietismo não aceitou o racionalismo, desprezando toda jurisdição eclesiástica. Fundamentava-se apenas na teologia mística e na contemplação espiritual. A salvação do ser humano depende da graça de Deus e não das obras meritórias.

Bernard De Mandeville

Bernard De Mandeville (1670 – 1733). Um numeroso enxame de abelhas habitava uma espaçosa colméia e viviam em feliz abundância com tranquilidade. Não havia abelhas que vivessem sob um governo mais sábio; entretanto, também nunca houve abelhas mais inconstantes e menos satisfeitas. O número de abelhas era enorme e milhões de abelhas ocupavam-se em satisfazer a vaidade e as ambições das outras abelhas, que viviam unicamente para consumir os produtos do trabalho das primeiras. Mas, apesar de tão grande quantidade de operárias, os desejos dessas abelhas não se satisfaziam. Tantas operárias e tanto trabalho, a muito custo, dava apenas para manter o luxo de metade da população. Algumas abelhas com grandes capitais e poucas preocupações, obtinham lucros muito consideráveis. Outras, condenadas a manejar a foice e a pá, não podiam ganhar a vida senão com o suor de sua fronte e consumindo suas forças nos ofícios mais penosos. Viviam-se também outras que se dedicavam a trabalhos inteiramente misteriosos, que não requeriam aprendizado, nem substância e nem esforços: eram os cavalheiros da indústria, os parasitas, os rufiões, os jogadores, os ladrões, os falsários, os magos, os padres e, em geral, todos aqueles que, odiando a luz, exploravam em seu benefício o trabalho de seus vizinhos.

Uma nação quer ser virtuosa, então será necessário que os indivíduos se contentem em ser pobres e endurecidos no trabalho. Se o povo de uma nação quer viver na comodidade, gozar dos prazeres da vida e formar uma nação opulenta, poderosa, florescente e guerreira, a referida nação não pode ser virtuosa. O dever de toda nação é encorajar a virtude, vetar o vício e punir os transgressores. Impossível ser virtuoso em um reino rico e poderoso do mesmo modo que no mais pobre de todos os Estados.

Vício é todo ato que o homem realiza para satisfazer um apetite e a virtude é toda ação contrária ao impulso natural, freando as próprias paixões. A ganância e as paixões são as bases da sociedade libertina.

Samuel Clarke

Samuel Clarke (1675 – 1729). A primeira proposição que não pode ser colocada em dúvida, é que algo tenha existido desde toda a eternidade, alguma coisa sempre existiu, caso contrário teríamos que sustentar que as coisas que existem atualmente brotaram do nada. A segunda proposição é que um ser independente e imutável deve ter existido desde toda a eternidade. A terceira proposição é que esse ser independente e imutável, que existiu desde toda a eternidade sem ter uma causa externa de sua existência, existe necessariamente por si mesmo. Esse ser que sempre existiu de modo independente, imutável e sem possuir uma causa externa de sua existência é Deus.

domingo, 26 de setembro de 2010

John Toland

John Toland (1670 – 1722). O mistério é algo de contrário à razão, e então é um contra-senso, que simplesmente deve ser excluído de toda discussão séria; ou então o mistério é algo ainda não esclarecido e explicado, e então deve ser objeto de investigação, para ser racionalmente explicado. Elimina toda a hipótese, pois, nada de inconcebível ou incoerente deve ser aceito como sendo verdade.

Vivemos uma vida baseada na incoerência porque nós somos entregues às amas-secas, mulheres ignorantes da mais desprezível vulgaridade, que nos infundem os seus erros juntamente com o seu leite, assustando-nos para nos manter quietos, com ameaças de espantalhos e bichos-papões, assustam-nos com histórias de espíritos e bruxas, fazendo-nos crer que todos os lugares solitários são freqüentados por espectros e que os poderes invisíveis são ativos e maléficos durante a noite. Somos lançados nas mãos de servidores ociosos e ignorantes, cujo principal modo de nos distrair é contando-nos histórias de fadas, duendes, bruxarias, espíritos vagantes, adivinhos e outras coisas desse tipo.

A escola também não é lugar melhor de educação para a razão, pois na escola toda a juventude é corrompida tanto quanto em casa, não ouvindo falar de outra coisa senão de demônios, ninfas, gênio, sátiros, faunos, aparições, profecias, magias e outros milagres fantásticos. Mais tarde freqüentam a universidade que é o mais fértil viveiro de preconceitos, o maior dos quais é aquele pelo qual pensamos que ali aprendemos tudo, ao passo que, na realidade, não nos é ensinado nada, pois apenas recitamos de memória, com grande segurança, as precárias noções dos nossos antepassados.

Há certas pessoas, na maior parte das comunidades do mundo, que são separadas e pagas não a fim de nos iluminar, mas a fim de manter o resto do povo em seus erros. Poucas são as pessoas que conseguem compreender que estamos imersos em um mar de mitos, preconceitos e superstições, mas talvez essas poucas pessoas não tenham coragem suficiente para se erguer contra a opinião predominante, assim acomodam-se hipocritamente às opiniões mais defendidas, por medo de perder fortuna, tranquilidade, reputação ou até a vida.

Devido aos fatos salientados ou considerações elaboradas os preconceitos são fortalecidos. Entre os preconceitos mais fortes encontram-se os costumes civis, os ritos religiosos, os nossos medos, as nossas vaidades, a nossa ignorância, a incerteza do tempo presente.

È impossível ao ser humano escapar ao contágio e alcançar ou preservar a liberdade, porque todos os outros homens do mundo estão de acordo na mesma conspiração para enganá-lo.

O ser humano que cultiva a razão possui tranquilidade e alegria interior, vendo todo o resto dos homens tateando no escuro, perdido em inextricável labirinto, atormentado por perpétuos medos sem estar seguro de que encontrará um fim para a sua miséria nem mesmo na morte. Quem cultiva a sua razão não se deixa arrastar como um animal, mas procura a sua liberdade através de sua razão.

sábado, 25 de setembro de 2010

Jean-Jacques Rousseau

Jean-Jacques Rousseau (1712 – 1778): O homem natural é originalmente íntegro, biologicamente sadio e moralmente reto e, portanto, justo, mas a sociedade corrompeu o ser humano tornando-o mau e injusto. O desequilíbrio do ser humano não é originário, mas um desequilíbrio derivado da ordem social.

A máscara, a mentira e a densa rede de relações alienantes são efeitos da superestrutura que foi se formando ao longo de um caminho de afastamento das necessidades e das inclinações originárias. Originalmente sadio, o homem vê-se agora desfigurado; outrora semelhante a um deus, tornou-se agora pior do que animal feroz. O homem seguiu uma curva descendente.

A sociedade não pode ser curada com simples reformas, simples progresso das ciências e das técnicas. Torna-se necessária uma transformação no espírito do povo, uma reviravolta completa, uma mudança total das instituições.

O caminho da salvação é o caminho do retorno à natureza e, portanto, o caminho da renaturalização do homem através de uma reconstrução da vida social em condições de bloquear o mal e favorecer o bem.

O primeiro homem que, depois de ter cercado um terreno, pensou em dizer “este é meu” e encontrou ingênuos que nele acreditaram foi o verdadeiro fundador da sociedade civil. Quantos crimes, conflitos, homicídios, misérias e horrores teriam poupado ao gênero humano aquele que, arrancando a cerca ou tapando o fosso, houvesse gritado aos seus semelhantes: “Não deis ouvido a este impostor; estará perdidos se esquecerdes que os frutos são de todos e a terra não é de ninguém.”

A desigualdade nasceu com a propriedade. E, com a propriedade, nasce a hostilidade entre os homens. No mundo primitivo, tudo era de todos. Mas tão logo um homem precisou da ajuda de outro ou tão logo se apercebeu de que era útil para um indivíduo ter provisões para dois, então a igualdade desapareceu, surgiu propriedade, o trabalho tornou-se necessário e as vastas florestas transformaram-se em risonhos campos, que foi preciso irrigar com o suor humano e nos quais logo se viu a escravidão e a miséria germinando e crescendo juntamente com as plantações.

A sociedade que se fundamentou na propriedade privada deturpou a natureza, sendo igual a estátua de Glauco, que o tempo, o mar e as tempestades transfigurou tornando-a semelhante a uma besta feroz do que a um deus, assim sendo, a alma humana foi também alterada pela sociedade por mil causas continuamente renovadas, pela aquisição de uma grande quantidade de conhecimentos e erros, pelas mudanças ocorridas na estrutura física e pelo contínuo choque da paixões.

A sociedade se exteriorizou completamente e o homem perdeu sua vinculação com o mundo interior. É necessário operar uma nova sutura entre o interior e o exterior, para frear aquele movimento dissolutório ou dissipar aquelas vãs aparências que os homens seguem, combatendo-se e oprimindo-se uns aos outros. Recuperar o sentido da virtude, entendida como constante transparência e inter-relação entre interior e exterior.

O homem da sociedade, sempre voltado para fora de si, só sabe viver da opinião dos outros e, por assim dizer, é apenas do juízo dos outros que ele tira o sentimento de sua própria existência.

O princípio que legitima a transformação social é constituído pela vontade geral ou bem comum. Somente a vontade geral pode dirigir as forças do Estado segundo o fim de sua instituição, que é o bem comum.

A vontade geral é fruto de um pacto que se dá entre iguais, que continuam sendo tais, porque se trata da alienação total de cada indivíduo, com todos os seus direitos, a toda a comunidade, dando lugar a um corpo moral e coletivo que extrai desse mesmo ato a sua unidade, o seu eu comum, a sua vida e a sua vontade. A vontade geral não é a soma das vontades de todos os componentes, mas uma realidade que brota da renúncia de cada um aos seus próprios interesses em favor da coletividade. É um pacto que os homens não estreitam com Deus ou com um chefe, mas entre si mesmos, em plena liberdade e com perfeita igualdade.

Para estruturar o bem comum é necessária uma radicalização total visando eliminar os interesses privados. Com a vontade geral pelo bem comum, o homem só pode pensar em si quando ele pensa coletivamente, ou seja, somente através dos outros, não como instrumentos, mas como fins em si. Ninguém deve obedecer ao outro, mas sim todos à lei, sagrada pra todos, porque fruto e expressão da vontade geral. O que torna as leis tão sagradas é o fato de que as leis são emanação da vontade geral e, portanto, são sempre justas em relação aos indivíduos.

Todos os esforços que o novo pacto social impõe, portanto, estão voltados para a eliminação dos germes dos contrastes entre interesses privados e interesses comunitários, absorvendo os primeiros nos segundos e, graças à completa redução do indivíduo a membro da sociedade, impedindo que os interesses privados aflorem e rompam a harmonia do conjunto.

Não há nada de privado. Tudo é público ou, pele menos deve tornar-se tal. O homem é essencialmente social, um animal político. As ciências, as artes e as letras devem dar contribuição insubstituível nessa direção, sob a liderança carismática de uma espécie de filósofo-rei de origem platônica.

O homem só deve obedecer àquela consciência pública que é o Estado, fora do qual há apenas consciências privadas ou individuais, que devem ser condenadas porque são nocivas. Quem quer que se recuse a obedecer à vontade geral seja obrigado a fazê-lo por toda a coletividade; isso nada mais significa do que obrigá-lo a ser livre.

Encarnada no Estado e pelo Estado, a vontade geral é tudo. O contrato social dá origem a um Estado democrático, porquanto o poder não pertence mais a um príncipe ou uma oligarquia, mas sim à comunidade. O amor por si mesmo deve transformar-se em amor pela comunidade e tornar-se amor pelos outros.

A certeza de uma sociedade dominada pela vontade geral, evita que falsos sentimentos provocados por uma sociedade competitiva provoque inúmeros conflitos.

O Estado é o único órgão de salvação individual e coletiva, por ser o lugar privilegiado do desenvolvimento integral das potencialidades humanas, contra as desastrosas consequências da sociedade competitiva.

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Charles-Louis de Montesquieu

Charles-Louis de Monstesquieu (1689 – 1755): Montesquieu defendia a divisão do poder em três: Poder Executivo (órgão responsável pela administração do território e concentrado nas mãos do monarca ou regente); Poder Legislativo (órgão responsável pela elaboração das leis e representado pelas câmaras de parlamentares); Poder Judiciário(órgão responsável pela fiscalização do cumprimento das leis e exercido por juízes e magistrados). As leis escritas ou não, que governam os povos, não são fruto do capricho ou do arbítrio de quem legisla. Ao contrário, decorrem da realidde social e da História concreta própria ao povo considerado. Não existem leis justas ou injustas, o que existe são leis mais ou menos adequadas a um determinado povo. Distingue três formas de governo: Monarquia: soberania nas mãos de uma só pessoa (monarca) Despotismo: soberania nas mãos de uma só pessoa, a vontade do déspota é soberana. República: soberania está nas mãos de muitos (de todos = democracia, ou de alguns = aristocracia). Essas três formas de governo podem se corromper: o princípio da democracia se corrompe não somente quando se perde o princípio da igualdade, mas também quando se difunde um espírito de igualdade extrema, com cada qual pretendendo ser igual àqueles que escolheu para comandá-lo. O verdadeiro espírito de igualdade está tão distante do espírito de extrema igualdade quanto o céu está distante da terra. Quando o príncipe, longe de fazer seus súditos viverem felízes, pretende sufocá-los e oprimí-los, deixa de ter valor qualquer razão para obedecer-lhe, o povo não está mais ligado a ele podendo tirar-lhe o poder. O poder ilimitado não pode ser considerado legítimo, precisamente porque a sua origem não pode ter sido legítima. Nós não temos o poder ilimitado sobre a nossa própria vida, assim sendo o poder ilimitado não é natural. A liberdade política não consiste de modo algum em fazer aquilo que se quer. Em uma sociedade na qual existem leis, a liberdade não pode consistir em poder fazer aquilo que se deve querer e em não ser obrigado a fazer aquilo que não se deve querer. A liberdade é o direito de fazer tudo aquilo que as leis permitem. A diferença entre as grandes nações e os povos selvagens se reduz ao fato de que aquelas se aplicam às artes e as ciências, ao passo que estes as negligenciam totalmente. As ciências são úteis porque libertam os povos de perniciosos preconceitos. As disputas religiosas são provocadas pelos intolerantes que não acatam nenhuma razão mandando queimar pessoas como se fossem um punhado de galhos secos. Não são as multiplicidades das religiões que produzem as guerras, mas sim o espírito de intolerância próprio das seitas que se consideram dominantes. O papa consegue fazer o povo acreditar que três e um são a mesma coisa, que o pão que come não é pão ou que o vinho que se bebe não é vinho e mil outras coisas desse gênero. O papa, chefe dos cristãos é um velho ídolo incensato e outrora os próprios príncipes o temiam, mas agora o seu poder acabou. Célebre é a sua frase: “A pessoa que fala sem pensar, assemelha-se ao caçador que dispara sem apontar e quanto menos o ser humano pensa, mais ele fala”.

François- Marie Arouet (Voltaire)

François- Marie Arouet (Voltaire) (16954 – 1778): Não existe nenhuma dúvida de que Deus existe e Ele é o grande engenheiro que idealizou, criou e regulou o sistema do mundo. Deus existe porque existe a ordem do mundo. A existência de Deus é atestada pelas simples e sublimes leis em virtude das quais os mundos celestes correm no abismo dos espaços. Deus existe e a proposição contrária é a coisa mais veossimil que os seres humanos podem pensar. A ordem do universo não é derivada do acaso e existe uma inteligência admirável responsável pela ordem e criação de tudo que existe. A existência de Deus não é artigo de fé, mas sim resultado da razão. A fé consiste em crer, não naquilo que parece verdadeiro, mas naquilo que parece falso para o nosso intelecto, assim sendo, a fé é apenas superstição. A superstição consiste em adotar práticas inúteis como se fossem práticas indispensáveis.Deus existe e também existe o mal. A religião consiste na adoração a Deus e na justiça, fazer o bem é o verdadeiro culto religioso e também defender o oprimido. O mal está nas guerras, nas opressões, na intolerância, nas superstições cega, nas doenças, nas arbitrariedades, na estupidez, nas roubalheiras e nas catástrofes naturais. Todos nós estamos prenhes de fraqueza e de erros, sendo que a tolerância é nos perdoar receprocamente. O nosso conhecimento é limitado e nós estamos sujeitos ao erro, nisso reside a razão da tolerância recíproca. Nós devemos nos tolerar mutuamente, porque somos todos fracos, incoerentes,sujeitos à inconstância e ao erro. Tirano é aquele soberano que não conhece outras leis além dos seus caprichos,que se apropria dos haveres dos seus súditos e depois os alista em sua guarda para que vão tomar os bens dos vizinhos. A discórdia é a grande peste do gênero humano e a tolerância é o seu único remédio. A fraqueza da nossa razão e a insuficiência das nossas leis se fazem sentir todos os dias, mas a sua miséria fica mais do que nunca evidente quando um só voto manda um cidadão para a pena de morte. O melhor meio para diminuir o número de maníacos é confiar essa doença do espírito ao regime da razão, que lenta mas infalivelmente ilumina os homens. Essa razão é doce e humana, inspira à indulgência, sufoca a discórdia e consolida a virtude, torna a obediência às leis mais agradáveis do que a força pode asseegurar a sua observância. O grande princípio universal é não fazer ao próximo o que não gosta que fosse feito a você. O direito da intolerância é absurdo e bárbaro sendo o direito dos tigres. Não importava o tamanho de um monarca, deveria, antes de punir um servo, passar por todos os processos legais, e só então executar a pena, se assim consentido por lei. Se um príncipe simplesmente puni de acordo com o seu bem-estar, é apenas mais um salteador de estrada ao qual se chama de 'Sua Majestade. Devemos nos submeter ao domínio da lei, baseava-se em sua convicção de que o poder devia ser exercido de maneira racional e benéfica. As pessoas comuns estão curvadas ao fanatismo e à superstição. A sociedade deve ser reformada mediante o progresso da razão e o incentivo à ciência e tecnologia. Devemos lutar desesperadamente pela liberdade de imprensa, sistema imparcial de justiça, tolerância religiosa, tributação proporcional e redução dos privilégios da nobreza e do clero.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Paul Heinrich Dietrich

Paul Heinrich Dietrich (1725 – 1789). O homem é obra da natureza, existe na natureza, está submetido às suas leis, não pode se libertar delas e, nem mesmo com o pensamento, pode sair delas; é em vão que a sua inteligência tenta ultrapassar os limites do mundo visível, pois sempre é obrigado a eles retornar. Para um ser formado pela natureza e por ela circunscrito, não existe nada além do grande todo do qual é parte e do qual sofre influência. Os seres que se supõem existirem acima da natureza ou, de todo modo, diferentes dela não passam de mentiras inventadas pelo ser humano. Não ha e não pode haver nada fora dos limites que encerram todos os seres. O ser humano é puramente físico e suas ações visíveis, bem como os movimentos invisíveis excitados em seu interior, provenientes da vontade ou do pensamento, são igualmente efeitos naturais, consequências necessárias do seu mecanismo específico e dos impulsos que recebe dos seres pelos quais é circundado. Por causa de sua ignorância os seres humanos criaram deuses os quais se tornaram os únicos objetos de suas esperanças e dos seus temores. Os seres humanos não se deram de modo algum conta de que a natureza, desprovida tanto de bondade como de maldade, nada mais faz do que seguir leis necessárias e imutáveis. Os conceitos teológicos não possuem nenhuma realidade, são palavras vazias de sentido, fantasmas criados pela ignorância e modificados por uma imaginação doente. Os conceitos teológicos foram e continuam sendo idéias danosas para a humanidade. O homem está dentro da natureza e na natureza somente existem causas e efeitos naturais, consequentemente não tem sentido falar de uma alma e da liberdade do ser humano. As ações do ser humano nuca são livres; elas são sempre consequências necessárias do seu temperamento, de suas idéias adquiridas, das noções verdadeiras ou falsas que possuem em torno da felicidade, em suma, de suas experiências de cada dia. A sociedade nada mais é do que um conjunto de indivíduos, reunidos por suas necessidades, com o objetivo de colaborar para a conservação e a felicidade comuns.

Condillac

Condillac (1714 -1780). O corpo é a causa do conhecimento e dos sentidos nasce todo o sistema que engloba o juízo, a reflexão, as paixões, todas as operações da alma. Quando temos uma impressão que se exerce sobre os sentidos, estamos diante de uma sensação propriamente dita. A sensação é o fundamento do nosso conhecimento e podemos dizer que o conhecimento é sensação transformada. O desejo possui sua origem nas sensações e do desejo nascem as paixões, o amor, o ódio, a esperança, o temor, a vontade. A única fonte da inteligência são as sensações. Utiliza o exemplo de uma estátua para mostrar que os sentidos e as sensações são as bases para o conhecimento. Dando a uma estátua o sentido do olfato e fazendo-a sentir o perfume de uma rosa, logo gera a atenção na estátua: ao primeiro odor, a capacidade de sentir está inteiramente voltada para a impressão que se produz no seu órgão; então a estátua começa a gozar e sofrer, pois, se a capacidade de sentir está voltada para um odor agradável, é prazer, mas, se está toda voltada pra um odor desagradável, é dor. Surge na estátua a memória, já que o odor que a estátua sente não lhe escapa inteiramente quando o corpo odoroso deixa de agir sobre o seu órgão. A estátua sentirá outros cheiros e os comparará, formando juízos, além de poder também imaginar. As sensações percebidas através dos sentidos, a estátua aumenta o seu conhecimento e suas idéias tornam-se mais extensa e variada. Os desejos e gozos da estátua se multiplicam. Quando a estátua estende suas mãos sobre um corpo estranho, essa sensação permite-lhe descobrir o mundo externo, ao qual pode atribuir a causa das sensações. As sensações captadas pelos sentidos são os responsáveis pelos desejos, pela conduta e para formar a sua felicidade ou infelicidade. O conjunto dos conhecimentos, longe de ser inato, se vai construindo com base nas sensações. É das sensações que nasce todo o sistema do ser humano: um sistema completo, cujas partes estão todas ligadas e se sustentam receprocamente.

Claude-Adrien Helvetius

Claude-Adrien Helvetius (1715 – 1771): Os sentidos produzem todas as nossas idéias. A memória não pode ser senão um dos órgãos da sensibilidade física: o princípio sensível em nós deve ser necessariamente também o princípio da memória, porque recordar nada mais do que recordar das impressões recebidas. A sensação é o fundamento de toda a vida material. A inteligência nada mais é que o conjunto mais ou menos numeroso de idéias. Não existe qualquer faculdade especial de reflexão que não seja fundamentada nas sensações. As boas ações são aquelas que são úteis as pessoas. Todos os comportamentos humanos são fundamentados nos seus interesses. Através da educação os seres humanos são levados a fazer com que seus interesses individuais coincidam com os interesses da coletividade.

Julien Offroy de La Mettrie

Julien Offrou de La Mettrie (1709 – 1751). A natureza da alma, do ser humano e dos animais é e será sempre tão desconhecida quanto à natureza da matéria e dos corpos. O ser humano é uma máquina tão complexa que é impossível ter dela uma idéia à primeira vista e, consequentemente, poder defini-la. Todas as pesquisas realizadas pelos maiores filósofos sobre a natureza da alma e sobre a natureza da matéria foram pesquisas ou dizeres inúteis. A alma nada mais é do que uma palavra vazia, à qual não corresponde nenhuma idéia e da qual um homem razoável não deve se servir senão para designar a parte pensante em nós. Todos os fenômenos psíquicos são explicados através dos efeitos e mudanças orgânicas, no cérebro e no sistema nervoso. O corpo físico do ser humano é uma máquina que funciona mediante uma mecânica metabólica. É o próprio corpo do ser humano que programa a vida do corpo. Cada indivíduo desempenha seu papel na vida que foi determinado pelos mecanismos propulsores da máquina, assim sendo os indivíduos deixam de ser personagens em um teatro divino apra serem sisemas mecânicos autodeterminados. A celebração dos prazeres sensuais da vida levaram La Mettrie a uma morte prematura.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Pierre Bayle

Pierre Bayle (1647 – 1706). É ilusão pretender que uma opinião que se transmite de século e de geração em geração não possa ser totalmente falsa, muitas opiniões que perpetuam de pai para filho não encontram nenhum apóio na razão. Diante das opiniões falsas temos a afirmação que o ateísmo é imoral, esquecendo que pode existir uma sociedade feita de ateus perfeitamente harmonizada com a moral. Diz que não existe um plano pré-estabelecido e sabiamente ordenado para os acontecimentos nos níveis macro, meso e microcosmo. Diante das incertezas o papel do historiador é buscar a verdade do fato e por amor a verdade factual deve esquecer que pertence a dado país, que foi educado em determinada fé, que deve reconhecimento a alguém, não estando a serviço do imperador nem do rei, mas, exclusivamente a serviço da verdade.

Jean Baptiste Le Rond d’Alembert

D’Alembert (1717 – 1783). O nosso conhecimento é dividido em diretos e reflexos. Diretos são aqueles que recebemos imediatamente, sem qualquer interferência da nossa vontade e conhecimento reflexo é aquele que o espírito possui operando sobre o conhecimento direto, unindo-os e combinando-os. Todos os conhecimentos diretos se reduzem àqueles que recebemos dos sentidos. Todas as nossas idéias possuem origem nos nossos sentidos. O verdadeiro princípio de toda ciência deve ser buscado nos fatos e nas sensações. A razão jamais deve abandonar o seu contato com os fatos e a ciência deve estar enfocada nos fatos. A filosofia não deve se perder atrás das propriedades gerais do ser, da natureza e nas suas abstrações inúteis, assim sendo, a filosofia deve ser a ciência dos fatos. Existe Deus que elaborou as leis do universo e podemos compreender a existência de Deus estudando as leis imutáveis que dominam a natureza elaborada por Deus. A inteligência suprema colocou diante de nossa fraca vista um véu que procuramos em vão afastar e devemos concluir que nunca desvelaremos as questões metafísicas.

Denis Diderot

Denis Diderot (1713 – 1784). Nós nos lançamos sem trégua contra as paixões, no entanto, somente as grandes paixões podem levar o espírito a grandes coisas. Sem as paixões não existe o desenvolvimento nos costumes, nas obras e nas artes. As paixões moderadas produzem homens comuns, as paixões reprimidas degradam os homens e suprimir as paixões é o cúmulo da loucura. O não desejar, não amar e não sentir nada é a vida de um grande monstro. Devemos estar seguro que não existe nada depois da morte e o pensamento da existência de Deus é aterrorizante. O mundo é apenas matéria em movimento gerando coisas que se repelem e desaparecem, assim sendo tudo é efêmero. Exalta a dúvida elogiando o verdadeiro cético.

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Giambattista Vico

Giambattista Vico (1668 -1744). A idéia é a (filosofia), o fato é a filologia. Idéia e fato ou filosofia e filologia devem se compenetrar, não a filosofia fora do fato ou o fato fora da filosofia, as duas vertentes são indissociáveis. O homem como ele deve ser não pode estar dissociado do homem como ele efetivamente é ou tem sido. A ordem das idéias deve proceder segundo a ordem das coisas. Trata-se de um princípio que é transposto da ordem lógica para a ordem histórica. A filosofia deve se encontrar no processo histórico e o processo histórico envolvido na filosofia. Conciliação entre a idéia e o fato, entre a filosofia e a filologia deve predominar.
Sem a filologia, a filosofia é vazia; e, sem a filosofia, a filologia é cega. Não se trata de uma justaposição de duas atividades separadas, que se deve conjugar depois que cada uma se desenvolveu por sua própria conta, mas sim de ima interação constante, razão peal qual não é concebível a filosofia sem a filologia e a filologia sem a filosofia.
Não existem fatos brutos, neutros, privados de implicações teóricas.
Os filólogos são todos os gramáticos, historiadores e críticos que se ocupam da cognição das línguas e dos fatos dos povos, tanto em casa, como é o caso dos costumes e das leis, como fora, como é o caso das guerras, da paz, das alianças, das viagens, dos negócios. A filologia é tudo o que foi produzido nas comunidades humanas, dos costumes às instituições religiosas e civis. Os fatos seriam incompletos se não fossem sustentados na filosofia, ou seja, se não fosse guiada por um projeto teórico verdadeiro. O verdadeiro é a idéia (filosofia), o certo é o fato (filologia).
A união entre filosofia e filologia nos permite ver a história não mais com um mundo caótico e informe, mas sim como uma série de acontecimentos através dos quais os homens realizaram seus ideais.
A filosofia se ocupa diretamente do mundo ideal e o seu objetivo é a necessidade ideal que orientou os primeiros passos incertos dos homens primitivos e depois se impôs lentamente. A filosofia transcende o ser humano e opera através do ser humano. O ser humano é o germe das idéias verdadeiras.
O ser humano pode ter agido e agir atualmente de formas destrutivas, mas no percurso histórico ele caminha em direção à justiça, à beleza ou a verdade, dominando os seus instintos e paixões. Como explicar esse itinerário em direção à justiça, à beleza ou à verdade, que mesmo trabalhosa e parcialmente foram emergindo na história primitiva, se não virmos no homem os germes das idéias verdadeiras. Como explicar tal orientação, dos primórdios até nossos dias, privando a razão dessa “luz eterna”?
Não se pode explicar completamente a história quando se afirma que a moralidade se baseia na opinião, o direito na força e o nascimento da sociedade na utilidade, como pretendem muitas pessoas.
A explicação da história somente é possível se compreendermos que a Filosofia é a idéia ideal e sua incidência na mente humana transformando em acontecimentos e criando tradição. Para ter uma explicação satisfatória de um fato histórico é preciso reconstruir a gênese ou as condições que lhes permitiram o nascimento e indicar as modificações provocadas sobre os mesmos homens que são seus atores.
O mundo civil foi feito pelos homens e seus princípios são encontrados dentro da mente humana. O ser humano é, portanto, o protagonista da história. Ele cria as instituições e estas retroagem sobre o ser humano que as criou. Esse é o caminho através do qual as potencialidades ocultas e germes de idealidades superiores se afirmam lentamente, antes que o homem se dê conta. Assim, a história não amadurece contra o homem ou apesar dele, mas é o lugar no qual necessidades recônditas, inscritas em sua natureza, emergem e se impõem à sua atenção e ao seu espírito, que desse modo se amplia e afina.
Este mundo, sem dúvida, saiu de uma mente diferente e, às vezes, totalmente contrária e sempre superior aos fins particulares que os homens se haviam proposto.
O ser humano muda no tempo e, com ele, tudo o que por ele é produzido. As instituições mudam em concomitância com o pensamento humano, mas esse pensamento e, consequentemente, as instituições que dele dependem, mudam à medida que a própria natureza humana sofre um processo de desenvolvimento. Assim, da natureza humana e o desenvolvimento das instituições são aspectos mutuamente condicionantes de um único processo histórico.
Por meio de tortuosos caminhos a consciência humana se clarifica e se afirma. Somente ao cabo de um longo caminho é que o homem percebe de que germe estava dotado a sua natureza. Inicialmente os homens sentem sem perceber, depois começam a perceber que seus pensamentos e idéias possuem origens em idealidades superiores.
A história dos seres humanos é dividida em três épocas: época dos deuses, época dos heróis e época dos homens.
A primeira (deuses) começa com homens estúpidos, insensatos e horríveis animais, cuja natureza é marcada pela prevalência dos sentidos, desprovida de qualquer poder de reflexão. O mundo somente existe e interessa à medida que repercute em nós. Além da época dos sentidos essa é também a época dos deuses, pelo fato de que os seres humanos identificavam os fenômenos da natureza com divindades. Os primitivos homens que falavam por sinais, por sua natureza consideravam os raios e trovões como sinais dos deuses. Os primeiros governos foram divinos, que os gregos chamaram teocráticos, nos quais os homens acreditaram que tudo era comandado pelos deuses. Governos teocráticos ou monásticos fundaram na autoridade paterna como representante da autoridade divina, criaram uma legislação ou direito também divino, no sentido de que as leis eram impostas como expressão da vontade dos deuses.
A segunda (heróis) época é a dos heróis: Para manter a vida interna sob governo e preparar-se para conflitos com eventuais tribos rivais, foi elaborado o direito heróico, ou seja, baseado na força. Trata-se de uma estrutura social baseada na autoridade, indiscutida e indiscutível, porque expressa a vontade dos deuses. Época onde não se cultiva em absoluto o luxo e as comodidades; onde as repúblicas são fortíssimas, aristocráticas por natureza ou tão naturalmente fortes que restringem aos poucos chefes nobres todas as honras civis.
A terceira (razão) é a época da razão: com o passar dos anos, cada vez mais se ampliando as mentes humanas, as plebes dos povos se desacreditaram finalmente da vaidade de tal heroísmo e se julgaram serem seres de igual natureza humana que os nobres, razão por que também eles quiseram ingressar nas ordens civis das cidades. Surgem as lutas entre patrícios e plebeus, das quais e junto com as quais se desenvolveram o debate, a retórica e a filosofia. Essa época os homens alcançam finalmente a consciência crítica daquela sabedoria percebida nas épocas anteriores. O direito também humano, ditado pela razão humana, ao passo que os governos são humanos. Todos se igualam com as leis, de modo que todos nascem livres em suas cidades.
Embora dominados por paixões violentas e por uma robusta fantasia, os primeiros homens desencadearam o nascimento da grande cidade do gênero humano. Embora sendo animais, tornaram-se posteriormente sempre mais humanos. Com explicar tudo isso sem pressupor nos homens, os germes de um mundo ideal.
Excluindo-se o destino, que não explica a liberdade, e o acaso, que não explica a ordem, é preciso admitir uma mente divina como artífice desse projeto.
Desde os primórdios, os homens percebem a presença desse projeto ideal, que se esclarece à medida que transcorrem os séculos. A época dos deuses e, depois, a época dos heróis expressam esse sentimento espontâneo da ação providencial. Trata-se de um sentir que já participa da verdade, caso contrário não se transformaria em um saber consciente.
A providência age nos homens através daquele projeto ideal, que não é obra dos homens ou fruto da história. Ele nunca é completamente entendido, porque está nos homens, mas não foi criado pelos homens, está na história, mas não faz história.
Os ideais de justiça, de bondade e de verdade se realizam ou são esmagados, são propostos ou traídos na história, mas não estão à mercê dos homens e tampouco a mercê da história. Mesmo vivendo sob a sua influência, o homem não se torna o seu senhor, porque eles possuem os homens, mas não são possuídos pelos homens.
O sentido da história está na história e, ao mesmo tempo, fora da história, como o projeto ideal que fermenta o tempo sem se dissolver nele. E como o homem tem primeiro um vago pressentimento e depois uma consciência mais lúcida, pode-se dizer que os efeitos das ações vão sempre além da intencionalidade explícita dos homens. O homem faz mais do que sabe e, frequentemente, não sabe aquilo que faz.
A obra da Providência é universal, mas não como coisa necessária. Os homens mantêm sua liberdade e responsabilidade, podendo tanto se manter fiéis ao projeto ideal eterno como traí-lo. Muitas nações desapareceram antes de alcançar o estágio de maturidade e algumas perseguem o ideal. A lei das recaídas históricas ou das quedas não é uma lei universal e muito menos necessária. A lei das recaídas é uma possibilidade objetiva, no sentido de que dadas certas condições, se recai na barbárie e nos cabe o dever de retomar o caminho.
A recaída se verifica quando o domínio da razão é tal que cai na abstração, na sofisticação e, portanto, progressiva esterilização do saber, não estando mais em condições de se alimentar nas fontes profundas e remotas do projeto ideal. A perda da memória do passado cria um homem sem raízes e sem seiva vital. O pensamento e a ração tornam-se estéreis a partir do desligamento das fontes inconscientes da imaginação.
A história não é uma espécie de desenvolvimento unilinear e progressivo, onde não há erro, mal ou decadência, não é uma galopada direta, sem possibilidade de paradas ou retornos; da mesma forma, a razão também não é uma força destinada ao triunfo, porque tanto uma como a outra podem se deteriorar e estagnar, recaindo em uma espécie de nova barbárie e de mais refinada violência.
Na corrupção e decadência se faz sentir a presença insuprimível do projeto ideal eterno, através do qual opera a Providência, impelindo os homens a retornarem a caminhada. Se assim não fosse, nenhum povo teria sobrevivido e todos estariam destinados a desaparecer. Por isso é impossível existir nações no mundo sem qualquer cognição de Deus.

sábado, 17 de julho de 2010

Blaise Pascal

Blaise Pascal (1623 – 1662). O ser humano através do pensamento possui consciência que é um ser miserável, pois não consegue vencer a morte, a miséria, a ignorância e vencer também a sua fraqueza perante a natureza. Através do pensamento sabe que morre e sabe da superioridade da natureza sobre ele; já a natureza, ao contrário, não sabe nada, pois o universo não pensa; uma árvore não sabe que é miserável, assim sendo, a grandeza do homem equivale a conhecer a sua miserabilidade. A miséria do ser humano se aprofunda a partir do momento em que deseja viver uma vida baseada nos conceitos dos outros e por isso se embeleza e agrada as outras pessoas, esquecendo do verdadeiro ser. O ser humano é tão presunçoso que gosta de ser conhecido de toda a terra, como também por aqueles que viverão quando a morte o tiver eliminado; o ser humano é tão vaidoso que a estima de poucas pessoas já basta para alegrá-lo e o deixar contente. O ser humano navega em um vasto mar, sempre incerto e instáveis atirado de um lado para outro e desejando ardentemente encontrar um alicerce e uma base sólida para edificar uma torre que se erga até o infinito, mas seu fundamento se dissolve e a terra se abre em abismos. O ser humano diante de sua miserabilidade decide não pensar nelas para não ficar infeliz e se entrega a futilidade das diversões, que é uma fuga diante da visão lúcida da miséria humana. A única coisa que consola a miséria humana é a diversão, e, no entanto, essa é a maior de sua miséria, pois, ela impede o ser humano de pensar em si próprio levando-o inadvertidamente à perdição. Sem a diversão, o ser humano fica entediado e esse tédio o impele a procurar um meio mais sólido para sair disto, mas, a diversão o distrai, fazendo-o chegar inadvertidamente à morte. O homem vive sempre ocupado ou entregue à diversão, com medo de ficar só consigo mesmo, de olhar para dentro de si, ele tem medo de sua própria miséria. Toda a infelicidade do ser humano provém de não saber ficar tranqüilo em um aposento.
O ser humano, sozinho, com suas próprias forças, só consegue compreender que é um monstro incompreensível; sozinho, não consegue criar valores válidos e nem encontrar um sentido estável e verdadeiro da existência. Diante da miserabilidade humana o ser humano se tornou indigno para compreender Deus. Diante da miserabilidade humana surge a graça divina onde Deus se revela. As obras não são suficientes para obter a salvação sem uma intervenção eficaz da graça divina. A mente humana é muito fraca para levar o ser humano à salvação através dos seus próprios esforços. O ser humano só pode alcançar a salvação quando levado pela força onipotente e sobrenatural de Deus que é a graça. É preciso tornar-se disponível para receber a graça e a graça é necessária, porque a queda e a nossa natureza corrupta torna o ser humano indigno de Deus. É Deus que se revela através da graça.
Em matéria referente aos sentidos, aos fatos e objetos o raciocínio é a autoridade, somente a razão tem condições de conhecer o mundo objetivo. As verdades obtidas pela razão são progressivas e são resultados da engenhosidade humana de provas racionais e de experimentos. Não querer aceitar novas verdades no âmbito da razão é uma atitude irracional, que ocasiona a paralisação do progresso. Os segredos da natureza estão ocultos e as experiências que nos fazem conhecê-los se multiplicam continuamente. Proibir as novidades científicas é tratar indignamente a razão do homem e colocá-lo ao nível dos animais. O progresso da humanidade quanto mais envelhece, mais progride. Para não permanecermos no ponto a que os antigos chegaram, devemos ir adiante, sem achar de modo algum que o progresso do conhecimento seja uma ofensa que fazemos contra os antigos. O saber científico é autônomo e deve estar em expansão. O ser humano utilizando os sentidos e a razão para o desenvolvimento material deve possuir consciência que eles podem nos encanar dando-nos falsas aparências. A razão e os sentidos não somente carecem de sinceridade, mas também se enganam mutuamente. A racionalidade humana existe para ser empregada na compreensão das coisas materiais e a razão humana é incapaz de alcançar a compreensão do que seja o homem em sua totalidade.
Em síntese existem dois caminhos paralelos: o caminho da salvação com a graça divina e o caminho do desenvolvimento científico utilizando a razão. Dois caminhos, um buscando Deus e outro buscando a modernidade no mundo.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Cornelius Otto Jansênius

Cornelius Otto Jansênius (1583 – 1638). A razão é inútil ou danosa para a fé, tanto que Cristo quis encerrar nos porões de tal santa ignorância o excessivo desejo de saber com que se perturbam os filhos da Igreja. Cristo nunca objetivou nos tornar eruditos, mas apenas nos dar a simples cognição da verdade divina, cujas raízes, isto é, estão ocultas em um lugar mais profundo e inacessível à agudeza de nossa investigação. Em matéria de fé, a razão é rejeitada sendo preciso referir-se à memória da tradição. É na tradição, primeiro dentre todos os antigos Padres, trouxe à luz com incrível profundidade e penetração todas as conclusões da graça, que até agora permanecera como que oculta na fé dos cristãos. As cinco proposições defendidas pro Jansênio: 1) alguns preceitos de Deus são impossíveis para os justos, mesmo que os queiram e se esforcem com todas as forças que têm na presente natureza, porque lhes falta a graça que os torna possíveis; 2) não se resiste nunca à graça interior, no estado de natureza decaída; 3) para granjear mérito ou demérito, não se requer a liberdade da necessidade interior, mas somente a liberdade de coação exterior; 4) necessidade da graça e não concediam à vontade humana o poder de resistir ou obedecer à graça; 5) é um erro afirmar que cristo morreu por todos. Sustentava que Adão, antes de pecar era livre; pelo pecado perdeu a liberdade e tornou-se escravo da concupiscência, que o arrastou para o mal.

Pierre Gassendi

Pierre Gassendi (1592 – 1655). É evidente que todo conhecimento que existe em nós é próprio dos sentidos ou deriva dos sentidos; por conseguinte, parece igualmente certo que não se pode pronunciar juízo algum sobre qualquer coisa sem o testemunho dos sentidos. Nós não podemos conhecer as essências das coisas, e não podemos conhecê-las porque não conseguiremos construí-las ou reconstruí-las. Assim como o animal não conhece o relógio porque não está em condições de construí-lo, da mesma forma o home não conhece as essências das coisas, que só Deus conhece porque as criou. A experiência não consiste em um caótico aparecer fenomênico e não é uma imediaticidade passiva de dados sensoriais, mas sim uma construção da razão, que elabora os dados sensoriais. É possível chegar a falar de alma imaterial e da existência de Deus quando sabemos ler os sinais que a realidade coloca diante de nós. O homem é caracterizado pela atividade racional, mas essa atividade consiste em operações não-corpóreas, de modo que existe a alma como entidade espiritual e também existe Deus: é a partir da ordem do universo que inferimos a sua existência, já que não há ordem sem ordenador. Os átomos foram criados por Deus e destruídos por Deus, a força que gera o movimento deve-se a Deus, o universo é uma realidade governada por Deus e admite além da alma corpórea vegetativa e sensível, admite também uma alma intelectiva incorpórea e imortal.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

David Hume

David Hume (1711 – 1776). Todos os conteúdos da mente humana outra coisa não são senão percepções, dividindo-se em impressões e idéias. A diferença entre impressões e idéias consiste no grau diverso de força e vivacidade com que as percepções atingem a nossa mente e penetram no pensamento. As percepções que se apresentam com maior força e violência podem ser chamadas de impressões (sensações, paixões e emoções) e as idéias são os pensamentos. Uma conseqüência dessa distinção é a drástica contração da diferença entre sentir e pensar. Sentir consiste em ter percepções mais vivas (sensações), ao passo que pensar consiste em ter percepções mais fracas (idéias). Todas as idéias provêm, mediata ou imediatamente, de suas correspondentes impressões. Nós só temos idéias depois de ter impressões. Cada idéia é cópia de uma impressão e a impressão só pode ser particular e também as idéias são particulares. Cada idéia nada mais seja do que uma imagem individual e particular. Como os objetos nada mais são do que coleções de impressões, analogamente, nós também não somos nada mais do que coleções ou feixes de impressões ou idéias. A existência das coisas fora de nós não é objeto de conhecimento, mas sim de crença e assim analogamente a identidade do eu não é objeto de conhecimento, mas também de crença. A crença se baseia no desenvolvimento dos hábitos na nossa mente. A crença não pode ser eliminada e também não pode ser provada verdadeira por nenhum argumento, dedutivo ou indutivo, tal como na questão da nossa crença na realidade do mundo exterior.