domingo, 26 de setembro de 2010

John Toland

John Toland (1670 – 1722). O mistério é algo de contrário à razão, e então é um contra-senso, que simplesmente deve ser excluído de toda discussão séria; ou então o mistério é algo ainda não esclarecido e explicado, e então deve ser objeto de investigação, para ser racionalmente explicado. Elimina toda a hipótese, pois, nada de inconcebível ou incoerente deve ser aceito como sendo verdade.

Vivemos uma vida baseada na incoerência porque nós somos entregues às amas-secas, mulheres ignorantes da mais desprezível vulgaridade, que nos infundem os seus erros juntamente com o seu leite, assustando-nos para nos manter quietos, com ameaças de espantalhos e bichos-papões, assustam-nos com histórias de espíritos e bruxas, fazendo-nos crer que todos os lugares solitários são freqüentados por espectros e que os poderes invisíveis são ativos e maléficos durante a noite. Somos lançados nas mãos de servidores ociosos e ignorantes, cujo principal modo de nos distrair é contando-nos histórias de fadas, duendes, bruxarias, espíritos vagantes, adivinhos e outras coisas desse tipo.

A escola também não é lugar melhor de educação para a razão, pois na escola toda a juventude é corrompida tanto quanto em casa, não ouvindo falar de outra coisa senão de demônios, ninfas, gênio, sátiros, faunos, aparições, profecias, magias e outros milagres fantásticos. Mais tarde freqüentam a universidade que é o mais fértil viveiro de preconceitos, o maior dos quais é aquele pelo qual pensamos que ali aprendemos tudo, ao passo que, na realidade, não nos é ensinado nada, pois apenas recitamos de memória, com grande segurança, as precárias noções dos nossos antepassados.

Há certas pessoas, na maior parte das comunidades do mundo, que são separadas e pagas não a fim de nos iluminar, mas a fim de manter o resto do povo em seus erros. Poucas são as pessoas que conseguem compreender que estamos imersos em um mar de mitos, preconceitos e superstições, mas talvez essas poucas pessoas não tenham coragem suficiente para se erguer contra a opinião predominante, assim acomodam-se hipocritamente às opiniões mais defendidas, por medo de perder fortuna, tranquilidade, reputação ou até a vida.

Devido aos fatos salientados ou considerações elaboradas os preconceitos são fortalecidos. Entre os preconceitos mais fortes encontram-se os costumes civis, os ritos religiosos, os nossos medos, as nossas vaidades, a nossa ignorância, a incerteza do tempo presente.

È impossível ao ser humano escapar ao contágio e alcançar ou preservar a liberdade, porque todos os outros homens do mundo estão de acordo na mesma conspiração para enganá-lo.

O ser humano que cultiva a razão possui tranquilidade e alegria interior, vendo todo o resto dos homens tateando no escuro, perdido em inextricável labirinto, atormentado por perpétuos medos sem estar seguro de que encontrará um fim para a sua miséria nem mesmo na morte. Quem cultiva a sua razão não se deixa arrastar como um animal, mas procura a sua liberdade através de sua razão.

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