quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Pietismo

O pietismo foi um movimento que surgiu no final século XVII sendo que o tema central era a experiência com Deus. Sublinhava a necessidade do nascer de uma nova conduta desapegada do mundo material firmada na comunidade reunida ao redor do estudo da Bíblia. Desenvolveu uma vida ascética e áspera no que tange à alimentação, vestimenta. Defendia uma experiência com Deus materializada na rejeição do espírito mundano. O pietismo não aceitou o racionalismo, desprezando toda jurisdição eclesiástica. Fundamentava-se apenas na teologia mística e na contemplação espiritual. A salvação do ser humano depende da graça de Deus e não das obras meritórias.

Bernard De Mandeville

Bernard De Mandeville (1670 – 1733). Um numeroso enxame de abelhas habitava uma espaçosa colméia e viviam em feliz abundância com tranquilidade. Não havia abelhas que vivessem sob um governo mais sábio; entretanto, também nunca houve abelhas mais inconstantes e menos satisfeitas. O número de abelhas era enorme e milhões de abelhas ocupavam-se em satisfazer a vaidade e as ambições das outras abelhas, que viviam unicamente para consumir os produtos do trabalho das primeiras. Mas, apesar de tão grande quantidade de operárias, os desejos dessas abelhas não se satisfaziam. Tantas operárias e tanto trabalho, a muito custo, dava apenas para manter o luxo de metade da população. Algumas abelhas com grandes capitais e poucas preocupações, obtinham lucros muito consideráveis. Outras, condenadas a manejar a foice e a pá, não podiam ganhar a vida senão com o suor de sua fronte e consumindo suas forças nos ofícios mais penosos. Viviam-se também outras que se dedicavam a trabalhos inteiramente misteriosos, que não requeriam aprendizado, nem substância e nem esforços: eram os cavalheiros da indústria, os parasitas, os rufiões, os jogadores, os ladrões, os falsários, os magos, os padres e, em geral, todos aqueles que, odiando a luz, exploravam em seu benefício o trabalho de seus vizinhos.

Uma nação quer ser virtuosa, então será necessário que os indivíduos se contentem em ser pobres e endurecidos no trabalho. Se o povo de uma nação quer viver na comodidade, gozar dos prazeres da vida e formar uma nação opulenta, poderosa, florescente e guerreira, a referida nação não pode ser virtuosa. O dever de toda nação é encorajar a virtude, vetar o vício e punir os transgressores. Impossível ser virtuoso em um reino rico e poderoso do mesmo modo que no mais pobre de todos os Estados.

Vício é todo ato que o homem realiza para satisfazer um apetite e a virtude é toda ação contrária ao impulso natural, freando as próprias paixões. A ganância e as paixões são as bases da sociedade libertina.

Samuel Clarke

Samuel Clarke (1675 – 1729). A primeira proposição que não pode ser colocada em dúvida, é que algo tenha existido desde toda a eternidade, alguma coisa sempre existiu, caso contrário teríamos que sustentar que as coisas que existem atualmente brotaram do nada. A segunda proposição é que um ser independente e imutável deve ter existido desde toda a eternidade. A terceira proposição é que esse ser independente e imutável, que existiu desde toda a eternidade sem ter uma causa externa de sua existência, existe necessariamente por si mesmo. Esse ser que sempre existiu de modo independente, imutável e sem possuir uma causa externa de sua existência é Deus.

domingo, 26 de setembro de 2010

John Toland

John Toland (1670 – 1722). O mistério é algo de contrário à razão, e então é um contra-senso, que simplesmente deve ser excluído de toda discussão séria; ou então o mistério é algo ainda não esclarecido e explicado, e então deve ser objeto de investigação, para ser racionalmente explicado. Elimina toda a hipótese, pois, nada de inconcebível ou incoerente deve ser aceito como sendo verdade.

Vivemos uma vida baseada na incoerência porque nós somos entregues às amas-secas, mulheres ignorantes da mais desprezível vulgaridade, que nos infundem os seus erros juntamente com o seu leite, assustando-nos para nos manter quietos, com ameaças de espantalhos e bichos-papões, assustam-nos com histórias de espíritos e bruxas, fazendo-nos crer que todos os lugares solitários são freqüentados por espectros e que os poderes invisíveis são ativos e maléficos durante a noite. Somos lançados nas mãos de servidores ociosos e ignorantes, cujo principal modo de nos distrair é contando-nos histórias de fadas, duendes, bruxarias, espíritos vagantes, adivinhos e outras coisas desse tipo.

A escola também não é lugar melhor de educação para a razão, pois na escola toda a juventude é corrompida tanto quanto em casa, não ouvindo falar de outra coisa senão de demônios, ninfas, gênio, sátiros, faunos, aparições, profecias, magias e outros milagres fantásticos. Mais tarde freqüentam a universidade que é o mais fértil viveiro de preconceitos, o maior dos quais é aquele pelo qual pensamos que ali aprendemos tudo, ao passo que, na realidade, não nos é ensinado nada, pois apenas recitamos de memória, com grande segurança, as precárias noções dos nossos antepassados.

Há certas pessoas, na maior parte das comunidades do mundo, que são separadas e pagas não a fim de nos iluminar, mas a fim de manter o resto do povo em seus erros. Poucas são as pessoas que conseguem compreender que estamos imersos em um mar de mitos, preconceitos e superstições, mas talvez essas poucas pessoas não tenham coragem suficiente para se erguer contra a opinião predominante, assim acomodam-se hipocritamente às opiniões mais defendidas, por medo de perder fortuna, tranquilidade, reputação ou até a vida.

Devido aos fatos salientados ou considerações elaboradas os preconceitos são fortalecidos. Entre os preconceitos mais fortes encontram-se os costumes civis, os ritos religiosos, os nossos medos, as nossas vaidades, a nossa ignorância, a incerteza do tempo presente.

È impossível ao ser humano escapar ao contágio e alcançar ou preservar a liberdade, porque todos os outros homens do mundo estão de acordo na mesma conspiração para enganá-lo.

O ser humano que cultiva a razão possui tranquilidade e alegria interior, vendo todo o resto dos homens tateando no escuro, perdido em inextricável labirinto, atormentado por perpétuos medos sem estar seguro de que encontrará um fim para a sua miséria nem mesmo na morte. Quem cultiva a sua razão não se deixa arrastar como um animal, mas procura a sua liberdade através de sua razão.

sábado, 25 de setembro de 2010

Jean-Jacques Rousseau

Jean-Jacques Rousseau (1712 – 1778): O homem natural é originalmente íntegro, biologicamente sadio e moralmente reto e, portanto, justo, mas a sociedade corrompeu o ser humano tornando-o mau e injusto. O desequilíbrio do ser humano não é originário, mas um desequilíbrio derivado da ordem social.

A máscara, a mentira e a densa rede de relações alienantes são efeitos da superestrutura que foi se formando ao longo de um caminho de afastamento das necessidades e das inclinações originárias. Originalmente sadio, o homem vê-se agora desfigurado; outrora semelhante a um deus, tornou-se agora pior do que animal feroz. O homem seguiu uma curva descendente.

A sociedade não pode ser curada com simples reformas, simples progresso das ciências e das técnicas. Torna-se necessária uma transformação no espírito do povo, uma reviravolta completa, uma mudança total das instituições.

O caminho da salvação é o caminho do retorno à natureza e, portanto, o caminho da renaturalização do homem através de uma reconstrução da vida social em condições de bloquear o mal e favorecer o bem.

O primeiro homem que, depois de ter cercado um terreno, pensou em dizer “este é meu” e encontrou ingênuos que nele acreditaram foi o verdadeiro fundador da sociedade civil. Quantos crimes, conflitos, homicídios, misérias e horrores teriam poupado ao gênero humano aquele que, arrancando a cerca ou tapando o fosso, houvesse gritado aos seus semelhantes: “Não deis ouvido a este impostor; estará perdidos se esquecerdes que os frutos são de todos e a terra não é de ninguém.”

A desigualdade nasceu com a propriedade. E, com a propriedade, nasce a hostilidade entre os homens. No mundo primitivo, tudo era de todos. Mas tão logo um homem precisou da ajuda de outro ou tão logo se apercebeu de que era útil para um indivíduo ter provisões para dois, então a igualdade desapareceu, surgiu propriedade, o trabalho tornou-se necessário e as vastas florestas transformaram-se em risonhos campos, que foi preciso irrigar com o suor humano e nos quais logo se viu a escravidão e a miséria germinando e crescendo juntamente com as plantações.

A sociedade que se fundamentou na propriedade privada deturpou a natureza, sendo igual a estátua de Glauco, que o tempo, o mar e as tempestades transfigurou tornando-a semelhante a uma besta feroz do que a um deus, assim sendo, a alma humana foi também alterada pela sociedade por mil causas continuamente renovadas, pela aquisição de uma grande quantidade de conhecimentos e erros, pelas mudanças ocorridas na estrutura física e pelo contínuo choque da paixões.

A sociedade se exteriorizou completamente e o homem perdeu sua vinculação com o mundo interior. É necessário operar uma nova sutura entre o interior e o exterior, para frear aquele movimento dissolutório ou dissipar aquelas vãs aparências que os homens seguem, combatendo-se e oprimindo-se uns aos outros. Recuperar o sentido da virtude, entendida como constante transparência e inter-relação entre interior e exterior.

O homem da sociedade, sempre voltado para fora de si, só sabe viver da opinião dos outros e, por assim dizer, é apenas do juízo dos outros que ele tira o sentimento de sua própria existência.

O princípio que legitima a transformação social é constituído pela vontade geral ou bem comum. Somente a vontade geral pode dirigir as forças do Estado segundo o fim de sua instituição, que é o bem comum.

A vontade geral é fruto de um pacto que se dá entre iguais, que continuam sendo tais, porque se trata da alienação total de cada indivíduo, com todos os seus direitos, a toda a comunidade, dando lugar a um corpo moral e coletivo que extrai desse mesmo ato a sua unidade, o seu eu comum, a sua vida e a sua vontade. A vontade geral não é a soma das vontades de todos os componentes, mas uma realidade que brota da renúncia de cada um aos seus próprios interesses em favor da coletividade. É um pacto que os homens não estreitam com Deus ou com um chefe, mas entre si mesmos, em plena liberdade e com perfeita igualdade.

Para estruturar o bem comum é necessária uma radicalização total visando eliminar os interesses privados. Com a vontade geral pelo bem comum, o homem só pode pensar em si quando ele pensa coletivamente, ou seja, somente através dos outros, não como instrumentos, mas como fins em si. Ninguém deve obedecer ao outro, mas sim todos à lei, sagrada pra todos, porque fruto e expressão da vontade geral. O que torna as leis tão sagradas é o fato de que as leis são emanação da vontade geral e, portanto, são sempre justas em relação aos indivíduos.

Todos os esforços que o novo pacto social impõe, portanto, estão voltados para a eliminação dos germes dos contrastes entre interesses privados e interesses comunitários, absorvendo os primeiros nos segundos e, graças à completa redução do indivíduo a membro da sociedade, impedindo que os interesses privados aflorem e rompam a harmonia do conjunto.

Não há nada de privado. Tudo é público ou, pele menos deve tornar-se tal. O homem é essencialmente social, um animal político. As ciências, as artes e as letras devem dar contribuição insubstituível nessa direção, sob a liderança carismática de uma espécie de filósofo-rei de origem platônica.

O homem só deve obedecer àquela consciência pública que é o Estado, fora do qual há apenas consciências privadas ou individuais, que devem ser condenadas porque são nocivas. Quem quer que se recuse a obedecer à vontade geral seja obrigado a fazê-lo por toda a coletividade; isso nada mais significa do que obrigá-lo a ser livre.

Encarnada no Estado e pelo Estado, a vontade geral é tudo. O contrato social dá origem a um Estado democrático, porquanto o poder não pertence mais a um príncipe ou uma oligarquia, mas sim à comunidade. O amor por si mesmo deve transformar-se em amor pela comunidade e tornar-se amor pelos outros.

A certeza de uma sociedade dominada pela vontade geral, evita que falsos sentimentos provocados por uma sociedade competitiva provoque inúmeros conflitos.

O Estado é o único órgão de salvação individual e coletiva, por ser o lugar privilegiado do desenvolvimento integral das potencialidades humanas, contra as desastrosas consequências da sociedade competitiva.