sábado, 30 de janeiro de 2010

René Descartes

René Descartes (1596 – 1650). Descartes ao terminar os estudos formais salienta que estava totalmente perdido entre tantas dúvidas e apesar de tentar se instruir não havia alcançado outro proveito do que o de ter descoberto cada vez a sua ignorância. Posteriormente relata ter recebido uma revelação intelectual sobre os fundamentos de uma nova filosofia admirável e por causa dessa revelação fez a promessa de ir à peregrinação à Santa Casa de Loreto. A respeito da metafísica diz que o caminho do céu está aberto para os mais ignorantes, não menos do que aos doutos, que as verdades reveladas através da intuição para se chegar ao céu são superiores à nossa inteligência, nunca podendo submetê-las aos nossos fracos raciocínios da imaginação. A respeito do “eu” salienta que pensamos e quando pensamos nós existimos. É o “eu” que pensa, somos aquele que pensa. A proposição eu sou, eu existo é absolutamente verdadeira, porque até a dúvida mais extremada confirma que pensamos e logicamente o “eu” existe. A proposição “penso e, logo existo” não é um raciocínio, mas uma intuição pura graças ao qual o “eu” percebe a sua existência enquanto pensa. O eu, a substância pensante é uma realidade pensante. Para pensar é preciso existir. A primeira certeza fundamenta é a consciência de si mesmo como ser pensante. O “eu” é a alma. O pensar pode ser constituído de idéias inatas, isto é, as que encontramos em nós mesmos, nascidas junto com a nossa consciência; idéias adventícias são as que vêm de fora de nós e nos remetem as coisas inteiramente diferentes de nós; idéias factícias ou construídas por nós a través da imaginação. Descartamos estas duas últimas como ilusórias. Uma idéia inata é Deus onisciente e criador de tudo que existe. A idéia de Deus é uma idéia inata. A idéia que temos de Deus é como a marca do artesão impressa sobre a sua obra, não sendo sequer necessário que essa marca seja algo diferente da própria obra, é o selo do artífice sobre o “eu” manufaturado por Deus. No ser humano não existe apenas o intelecto e sim também a imaginação. O intelecto elabora as idéias claras e não erra. O intelecto é a alma pensante, cuja essência é apenas pensar. A atividade do intelecto ou alma é “res cogitans”, ou seja, pensar o metafísico. A imaginação é essencialmente representativa de entidades materiais ou corpóreas intimamente ligadas ou dependentes dos sentidos do corpo. É uma faculdade distinta do intelecto e não redutível a ele. A imaginação é “res extensa” ligada ao mundo físico e encontra todas as suas explicações no mundo da mecânica. Não existem realidades intermediárias entre o “res cogitans” e “res extensa”. A alma é pensamento e não é vida e a sua separação do corpo não provoca a morte, que é determinada por causas fisiológicas. A alma é uma realidade inextensa, ao passo que o corpo é extenso. Trata-se de duas realidades que nada tem em comum. Apesar da forte oposição entre intelecto da alma e a imaginação do corpo físico os dois estão conjugadas para compor o verdadeiro homem. Para conhecer o mundo físico é necessário o método. Todo método consiste na ordem e na disposição das coisas, para as quais é preciso direcionar as forças do espírito para se descobrir alguma verdade, sendo que existem três regras principais. Primeira regra: não se deve acatar como verdadeiro aquilo que não se reconhece ser tal pela evidência e alcança a evidência através da intuição. A intuição não é o flutuante testemunho dos sentidos ou da imaginação, mas de um conceito da mente pura que nasce unicamente da luz da razão e é mais certo do que a própria dedução. Trata-se da idéia presente na mente aberta para a mente, sem qualquer mediação. Salienta que o saber tradicional tinha por base a experiência sensível, entretanto não podemos considerar certo um saber que tem sua origem nos sentidos, pois, por vezes se revelam enganadores. Os sentidos nos enganam e nenhuma coisa é tal como é representado pelos sentidos. A segunda regra é a de dividir cada problema que se estuda em tantas partes menores quantas for possível e necessário para melhor resolvê-lo, decompondo o conjunto. A terceira regra: a decomposição do conjunto em seus elementos simples desarticula os elementos do conjunto, por isso, deve-se elaborar a síntese, elevando-se pouco a pouco até o conhecimento dos mais complexos. Trata-se de criar uma cadeia de raciocínios que se desenvolvam do simples ao composto, o que não pode deixar de ter uma correspondência na realidade. Quarta regra consiste em fazer sempre revisões a ponto de se ficar seguro de não ter omitido nada.

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