terça-feira, 15 de junho de 2010

Gottfried Wilhelm Leibniz

Gottfried Wilhelm Leibniz (1646 – 1716). Não aceita a opinião segundo a qual os fins devem ser excluídos do Todo, como se Deus não se propusesse nenhum fim. Deus propõe sempre o melhor e o mais perfeito fim para tudo que existe. Nós ficamos sujeitos às ilusões quando pretendemos determinar os fins e desígnios de Deus, mas isso só acontece quando queremos limitá-lo a algum projeto particular, acreditando que ele tinha em vista apenas uma coisa, quando ele tem em vista tudo, ao mesmo tempo. Quando acreditamos que Deus fez o mundo apenas para nós, estamos nos iludindo. Deus não faz nada por acaso e não se assemelha a nós, pois às vezes se nos escapa aquilo que é oportuno fazer. É irracional introduzir uma inteligência soberana como ordenadora das coisas e depois servir-se apenas das propriedades da matéria para explicar os fenômenos. Quando abandonamos o fim prescrito por Deus é como se, para explicar a conquista de um príncipe que ocupou uma fortaleza importante, um historiador quisesse dizer que isso aconteceu porque os corpúsculos da pólvora, em contato com a centelha, se expandiram com velocidade capaz de impelir um corpo duro e pesado contra a muralha da fortaleza esquecendo todas as outras possibilidades inclusive a maestria do príncipe.

A realidade é constituída de pontos de força e esses pontos de forças são substâncias simples denominadas de mônadas ou enteléquias. Mônada ou enteléquia é uma substância tendo em si mesma sua própria determinação e perfeição essencial, ou seja, a sua própria finalidade interior. Tudo o que existe é uma mônada ou é um conjunto de mônadas. As mônadas são os elementos de todas as coisas, de modo que, se conseguirmos conhecer a natureza da mônada, conseguirá conhecer a natureza de toda a realidade existente.

As mônadas são produzidas ou criadas por Deus e uma vez criadas não podem perecer. Elas são pontos não-físicos, ou seja, centros metafísicos. A natureza da mônada não é material e sim energia transcendental. Cada mônada diferencia da outra pelas suas qualidades internas: percepção e apercepção. Apercepção é quando a mônada é uma substância pensante, capaz de conhecer Deus e de descobrir verdades eternas. O destino das mônadas que possuem apercepção é o contínuo progresso em direção a novos prazeres e novas perfeições, ou seja, ampliando o conhecimento sobre Deus. O progresso das mônadas que possuem apercepçaõ é a constante fruição em direção a Deus em graus sempre maior em direção ao infinito. Apercepção é própria somente de certas mônadas particulares, ou seja, dos espíritos ou inteligências, de modo que se pode dizer que todas as mônadas percebem, mas somente algumas (além de perceberem) também apercebem. O número de percepções continua sendo infinitamente superior ao número das apercepções ou consciência. Percebemos sem aperceber, ou seja, sem termos consciência daquilo que está nos acontecendo. A mônada que percebe é denominada de alma e a mônada que possui apercepção é denominada de espírito.

Cada mônada representa todas as outras e também o universo inteiro. Toda substância é como um mundo inteiro, como um espelho de Deus. Cada mônada trás em si a sabedoria infinita e da onipotência de Deus. Todas as mônadas visam o infinito, o todo, mas são limitadas e distintas entre si conforme os graus de distinção das percepções e apercepções. Toda mônada é um microcosmo. Se tivermos uma mente penetrante, poderemos perceber na menor mônada tudo que aconteceu, tudo que acontece e tudo que acontecerá, tudo que está distante no tempo e no espaço, toda a história do universo. Na mônada está representada toda a conexão do universo. O presente está grávido do futuro, o que significa que, em cada instante, está presente a totalidade do tempo e dos acontecimentos temporais. Tudo está em tudo.

Cada mônada representa o mundo em perspectiva diferente, e é precisamente essa perspectiva que faz com que cada mônada seja diversa de todas as outras. No grau mais baixo encontram-se as mônadas que possuem apenas percepção e; progressivamente os níveis de percepção são ampliados a ponto de alcançar apercepção.

Todas as mônadas que percebem possuem atividades limitadas, ou seja, são imperfeitas e nisso reside a sua materialidade. A matéria primeira das mônadas imperfeitas é aquele halo de potencialidade que lhes impede de ser ato puro (perfeitas) ou seja consiste nas percepções confusas que ela tem e que esse é o aspecto ou fundo obscuro da mônada.

Toda substância corpórea é um agregado de mônadas unificadas por uma mônada superior, que constitui como que a enteléquia dominante. Tudo é vivo, porque cada mônada é viva. Não há nada de inculto, de estéril ou de morto no universo, só havendo caos e confusão na aparência. Cada corpo vivo tem uma enteléquia dominante, que, no animal constitui a alma; entretanto, os membros daquele corpo vivo estão cheios de outros viventes, de plantas, de animais, cada qual por seu turno, tem também a sua própria enteléquia ou alma dominante.

As substâncias brutas expressam mais o mundo do que a Deus, ao passo que os espíritos (mônadas aperceptivas) expressam mais a Deus que o mundo, assim sendo, Deus governa as substâncias brutas segundo as leis materiais da força ou da transmissão do movimento e governa os espíritos segundo as leis espirituais da justiça, de que as outras substâncias são incapazes. A sociedade dos espíritos está diretamente subordinada ao Supremo Monarca, sendo a mais nobre parte do universo, composto de muitos pequenos deuses, sob a direção daquele grande Deus.

Nada ocorre de repente, a natureza nunca realiza saltos. Do pequeno para o grande e do grande para o pequeno, passa-se sempre através de um termo médio, significando que um movimento nunca nasce imediatamente da quietude ou a ela torna, a não ser através de um movimento menor, da mesma forma como nunca se termina de percorrer uma linha ou um comprimento antes de ser ter realizado o percurso de um cumprimento mais breve.

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