quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Arthur Schopenhauer

Arthur Schopenhauer (1788 – 1860). O mundo é representação do sujeito. A terra e o sol são representações do sujeito. O mundo circundante somente existe como representação. Tudo o existe para o conhecimento, isto é, o mundo inteiro, nada mais é do que o objeto, que é uma representação. O mundo é representação nossa e nenhum de nós pode sair de si mesmo para ver as coisas como elas são. Tudo aquilo que temos conhecimento se encontra dentro de nossa consciência. A matéria não tem existência independente da representação.

A representação possui duas metades: a primeira metade é o sujeito e a outra metade é o objeto. Sujeito: é o sustentáculo do mundo, a condição de todo fenômeno e de todo objeto, o sujeito elabora representações. Objeto: o objeto é a pluralidade das representações do sujeito, aquilo que é conhecido. Sujeito e objeto são inseparáveis, cada uma das duas metades não tem sentido nem existência senão por meio da outra e em função da outra, ou seja, cada uma existe com a outra. O objeto é representação do sujeito. É preciso abandonar que o mundo fora de nós existe como sendo real, sem qualquer concurso de nossa parte. Não existe uma existência absoluta, independente do sujeito, não existe uma existência impensável pelo sujeito. Tudo o que é objetivo tem sempre e essencialmente sua existência na consciência do sujeito, sendo, portanto, sua representação e sendo condicionado pelo sujeito e por suas formas representativas que são inerentes ao sujeito e não ao objeto. O mundo, como nos aparece em sua imediaticidade é em si, um conjunto de representações condicionadas pelas formas a priori elaboradas pelo sujeito.

Não é possível a distinção real e clara entre o sonho e a vigília: o sonho tem somente menos continuidade e coerência do que a vigília. Salienta Schopenhauer: “nós não nos envergonhamos de proclamar a ausência de distinção entre sonho e vigília, pois, tantos foram os grandes espíritos que a reconheceram e proclamaram. Os Vedas chamam o mundo de véu de Maia; Platão afirma que os homens vivem no sonho; Pindaro diz que o homem é o sonho de uma sombra; Sófocles compara os homens a simulacros e sombras leves; Shakespeare sentencia que nós somos da mesma matéria de que são feitos os sonhos e a nossa breve vida é circundada por sono; e, para Calderón, a vida é sonho.” A vida e os sonhos são páginas do mesmo livro.

O próprio ser humano é representação, mas, não é somente isso, já que é também sujeito cognoscente. O ser humano é representação e sujeito ao mesmo tempo. Aprofundando no sujeito deparamos no nível mais profundo à vontade, que é o desejo. A imersão no profundo do sujeito descobre-se a vontade. Podemos observar que a vontade faz parte de uma vontade única. A vontade individual do sujeito e a vontade única formam um núcleo no sujeito responsável por todas as representações.

A vontade nos seres gera a natureza: reino vegetal, reino animal e reino humano, seres que impulsionados pelo impulso cego da vontade lutam um contra o outro para se imporem e dominarem suas representações subindo na escala das representações. Vontade é a substância íntima, o núcleo de toda coisa particular e do todo que aparece na força cega da natureza e que se manifesta na conduta racional do ser humano. Nenhum objeto da vontade, uma vez alcançado, pode dar satisfação durável ao sujeito. O sujeito, aprofundando-se em seu próprio íntimo consegue compreender que todas as representações possuem origem na vontade e que o próprio corpo é vontade ou desejo de ter corpo. O sujeito esta vivenciando a representação da vontade única, a vontade do sujeito é o reflexo da vontade única.

O sujeito, penetrando em seu interior, vencendo as forças da vontade, descobre que tudo que possui consciência é representação impulsionada pela vontade, tudo é ilusão, mas existe uma realidade encoberta pelo véu de Maia. O véu de Maia tem que ser rasgado, a realidade deve ser desvelada. Dois são os meios que o sujeito possui para ir além da vontade e penetrar na realidade: contemplação e ascese.

Na contemplação o sujeito se separa das cadeias da vontade, afasta-se dos seus desejos, anula as suas necessidades, deixando de olhar os objetos em função de suas utilidades. O sujeito se aniquila como vontade e se transforma em puro olho do mundo, mergulha na representação para ter consciência que é ilusão. Mergulhando no estado de contemplação liberta-se por um instante de todo desejo e preocupação. A contemplação é olhar o mundo como ilusão, deixando de ser instrumento da vontade. A contemplação gera felicidade, mas são instantes breves e raros, que servem para indicar ao sujeito como deve ser feliz a vida do ser humano cuja vontade se aquietou.

A ascese é conseguida quando o sujeito suprime a raiz do mal, isto é, a vontade de viver. A dor é o caminho da ascese que nos leva ao horror por viver em um mundo cheio de dor. O primeiro passo da ascese é a castidade, que significa a liberdade de não gerar outro ser de vontade. O segundo passo é a pobreza, eliminando toda vontade. A ascese arranca o sujeito da vontade, das garras da morte, dos vínculos com os objetos, com as representações. Na ascese nasce o novo ser, o sujeito redimido.

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